Em uma sala administrativa do Colégio Champagnat estão espremidos equipamentos de filmagem, como câmera e spots luz, e uma dezena de pessoas. O clima é de concentração: logo a equipe começará a rodar mais uma cena da série Turma 5B. Mas há um ator não parece estar muito preocupado.
– Só tem um chefão no jogo inteiro! – garante Francisco Fleck, 10 anos, cuja voz irrompe o silêncio.
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Ele conversa sobre games com Ezequias Schafer, 12 anos, seu parceiro de cena. Ambos estão sentados à frente da mesa da diretora da escola, Adelaide (Nadya Mendes), que está acompanhada do orientador Ricardo (Felipe Kannenberg) – dois adultos que estão compenetrados. Na cena, os personagens de Francisco e Ezequias se envolveram em uma briga e foram parar na diretoria. Instantes antes da gravação, a conversa prossegue.
– Você já viu Caçadores de Trolls na Netflix? – indaga Ezequias.
Lépido, Francisco continua discursando sobre monstros e demais personagens de games, até que a diretora da série, Iuli Gerbase, ordena o início das filmagens:
– Fabinho (nome do personagem de Francisco), fica irritado agora!
Instantaneamente, a expressão simpática de Francisco muda. Ele e Ezequias fecham a cara. Os dois se encaram, zangados. Viraram inimigos. Logo que Iuli grita "corta", Francisco retoma o papo:
– E no jogo tem valquírias...
Rodada no Champagnat, dentro do campus da PUCRS, desde 7 de janeiro, Turma 5B teria as filmagens encerradas ontem. Com produção da Prana Filmes (de Luciana Tomasi e Carlos Gerbase, pais de Iuli), a série apresenta a turma da quinta série que enlouquece o fictício Colégio General Coelho.
– Os professores ficam tão furiosos com a turma a ponto de se reunirem com a diretora para ela dar um jeito na 5B, senão eles se demitiriam em massa. Apavorada, Adelaide contrata um orientador educacional chamado Ricardo para tentar contornar a situação. Cada episódio é uma batalha dele para discipliná-los – explica a diretora.
Na trama, há outras duas turmas: 5C, mais pacífica, e 5A, composta por estudantes de origens abastadas, que rivaliza com a 5B.
– A ideia é brincar um pouco com esse momento no qual as pessoas estão sempre brigando, discutindo por qualquer assunto e mostrar isso acontecendo com crianças de 10 anos – destaca Iuli.
Para a série, foram testados 185 atores mirins, até que fossem encontrados os nove principais, além das coadjuvantes. Há quem já cursava teatro (casos de Helena Becker e Ana Júlia Vargas) e quem já havia atuado em peças publicitárias (Ezequias), mas grande parte dos jovens atores não tinha nenhuma experiência com as câmeras.
Entre uma cena e outra, muitas brincadeiras nos camarins.
– Jogamos tabuleiro ou cartas. Há brincadeiras que nós inventamos, como uma que é tipo Adoleta, na qual um vai batendo na mão do outro. Quem expressar uma dor, perde – relata Ezequias.
– Tem vezes que as crianças ficam cansadas, e eu vou para o camarim pôr uma música para todo mundo dançar. Há momentos que é melhor deixá-las mais animadas para a próxima cena – relata Iuli.
Com 13 episódios de 12 a 13 minutos de duração, Turma 5B ainda não tem previsão de lançamento. A série foi produzida para a TVE, mas, com a iminente extinção da Fundação Piratini, ainda não se sabe o destino da atração.
– Por contrato, temos um ano de compromisso com a TVE, e depois podemos vender (a série) para a Netflix ou para outras emissoras. Então ainda não sabemos. Infelizmente – resigna-se a diretora.
A experiência para o jovem elenco, independentemente do destino da produção, é inesquecível.
– Eles ficaram super amigos. Esses dias um dos atores estava chorando porque estava quase acabando a filmagem e não verá mais a turma – conta Iuli.