O MasterChef profissionais concebeu um novo astro televisivo. Depois que sair da competição, João Lima deveria ser imediatamente contatado por produtores de TV para protagonizar um programa ou, no mínimo, virar arroz de festa, tornar-se um daqueles convidados onipresentes na telinha, quem sabe jurado de outro reality show – qualquer reality show. Porque o homem tem opinião pra tudo. E cacife: se acha o rei da cocada preta. E da cocada branca.
O professor pernambucano foi o coadjuvante de luxo em um episódio agitado, tenso e com um travo amargo ao seu final – a eliminação de um forte candidato. Criatividade não vem faltando nesta temporada de estreia do MasterChef profissionais, tanto por parte dos concorrentes quanto do programa em si. Tomem como exemplo a primeira prova desta terça-feira, que transformou o Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Divididos em quatro duplas, os participantes precisaram preparar uma obra de arte gastronômica – estética e sabor seriam avaliadas por nove artistas: Alex Flemming, Ana Elisa Egreja, Antonio Peticov, Fabio Miguez, Israel Macedo, Leda Catunda, Nina Pandolfo, Nino Cais e Rodrigo Andrade. As duplas vencedoras em cada categoria estariam imunizadas.
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Fádia e Marcelo ouviram que seu trabalho, inspirado nos quatro elementos (pra lembrar: água, terra, ar e fogo) tinha um quê de Kandinsky e de construtivismo, foram elogiados pelos "vazios e cheios" e ganharam em estética. Sobrepujaram a farm table apresentada por Luiz Filipe e Priscylla, a "violência" à la Jackson Pollock de Ivo e Dário e a mesa nordestina-veranil de João e Dayse – dupla que acabou premiada no sabor (a propósito: aos poucos, adotando a tática de se apequenar diante da maior experiência dos rivais, Dayse vai vencendo provas e ganhando confiança). Durante a prova, João, o Insuportável, foi botando suas manguinhas de fora. Primeiro, menosprezou a parceira:
– Eu sinto que tenho que ficar cuidando dela o tempo todo.
Depois, encheu a própria bola ao discorrer sobre a montagem do prato, o lado artístico da tarefa:
– Eu tenho bom gosto.
A prova de eliminação foi um duelo de ingredientes. Ivo e Dário competiram um contra o outro, com filé de avestruz. Luiz Filipe e Priscylla se enfrentaram com a rã. Do mezanino, João voltou a operar sua metralhadora giratória, espinafrando ideias de Dário e Ivo:
– Acho tão clichê fazer purê...
O pernambucano não se segurou diante de um erro de Dário flagrado por Paola:
– Ninguém merece comer batata crua.
A batata crua custou caro ao cozinheiro cabeludo, que foi para o último duelo, o da ostra, na companhia de Luiz Filipe, derrotado pela falta de tempero de sua rã na comparação com o prato de Priscylla (outra que, jogando com a insegurança, vem colhendo elogios dos jurados).
Seria uma prova com caráter de final, como definiu Dário, sem falsa modéstia mas sem arrogância. Ana Paula Padrão fez bons comentários. Disse que Dário tem uma "fisionomia indecifrável" – nunca se sabe se está bem ou mal – e que Luiz Filipe era "outra esfinge" ("É pôquer", ele retrucou).
Soado o gongo, cada um foi para seu lado: Dário apostou na simplicidade com um toque de ousadia, preparando a ostra com manga; Luiz Filipe exibiu seu arsenal de técnicas, servindo a ostra com aioli de missô, ovas de salmão e vinagrete cítrica. No mezanino, João torcia (ao mesmo tempo em que se enaltecia):
– O Luiz é meu oponente mais forte em técnica. Se ele sair, o mais forte serei eu.
Na sequência, o pernambucano mostrou-se apto para virar um desses comentaristas de assuntos aleatórios que pululam pela TV:
– Olha a Paola: ela é fina até comendo ostra!
Os jurados tiveram muita dificuldade em escolher quem mandar embora.
– Tem gente que chora quando come algo bom. Estou assim. Vocês me colocaram em uma situação inconfortável – afirmou Jacquin.
– Vocês estão me inspirando a continuar abrindo portas, a não achar que eu já me esgotei. Foram muito criativos. Obrigada – disse Paola. – Aqui não tem defeitos. Será puramente uma questão de gosto pessoal – acrescentou.
Pois bem. O francês gostou mais do prato de Luiz Filipe, a argentina elegeu o de Dário por causa da temperatura (ela prefere ostras geladas). Caberia ao brasileiro Fogaça desempatar:
– Não precisam sofrer. Os dois estão de parabéns. Sou mais tropical: Dário fica.
Talvez o campeão de popularidade do MasterChef profissionais, Dário desabou ao ouvir a decisão. E admitiu:
– Sempre julguei muito. Achava ridículo ver pessoas chorando em reality shows. Agora entendi. A pressão é muito grande.
Luiz Filipe, mais orgulhoso, segurou as lágrimas. Na hora do adeus definitivo, no vestiário, foi consolado por Ana Paula:
– Por ser jornalista, estou acostumada a conter a emoção. Pouca coisa me emociona. Mas ouvir dos três chefs que eles mudariam os cardápios para colocar o prato que você fez hoje é uma coisa muito linda. Pode sair daqui feliz.
Foi um fim de programa amargo, pois, pelo que fizeram na prova da ostra, pelo que os jurados disseram, nenhum dos dois merecia deixar o programa. Restam sete candidatos, e a briga vai ficando cada vez mais feia – ou bonita, depende do seu ponto de vista. Sigo achando o Ivo fortíssimo, vejo a Dayse crescendo, simpatizo com o Dário e a Fádia, ainda não confio totalmente na capacidade do Marcelo e tenho um pé atrás em relação a Priscylla. Mas estou começando a achar que quero ver o João chegar à final, só para ir saboreando sua arrogância até vê-la devorada por outro competidor. Sua insuportabilidade é um mal necessário para a dramaturgia do MasterChef profissionais.