Ariel Cabral Barcelos se divertia numa festa em Santa Maria no sábado, dia 18, quando um amigo telefonou dando a notícia. A faceirice, já facilitada por alguns goles de bebida, aumentou ainda mais.
Aos 21 anos, o estudante de Desenho Industrial da Universidade Federal de Santa Maria acabava de saber que era uma das 19 drag queens escolhidas para a segunda etapa da seleção de um novo programa do canal E!, na TV a cabo.
A notícia surpreendeu em dose dupla. Eros Ariel, a drag queen criada há apenas um ano e meio pelo jovem natural de Santo Antônio das Missões, noroeste do Estado, que já carrega uma faixa de segundo lugar no Miss Drag Queen Rio Grande do Sul 2016, irá concorrer a uma das três vagas para apresentar o Drag Me As a Queen - Uma Diva Dentro de Mim.
Com estreia em 2017, o programa será o primeiro da TV a cabo com drag queens no comando. O trio vencedor irá provocar mudanças na aparência e no comportamento de mulheres que estiverem passando por um período de autoestima abalada.
O que impressionou Ariel é que, apesar da curta experiência, ele está concorrendo com drags reconhecidas no mundo do glamour e da performance. Uma delas é Sarah Vika, drag vivida pelo publicitário Rafael Mello, 24 anos, de Porto Alegre.
Com um pouco mais de estrada, Sarah Vika faz parte da nova geração de drag queens que dão colorido às noites da Capital. O boom surgiu com o programa da drag queen americana RuPaul, um reality show transmitido no canal Multishow. Famoso nas baladas, Rafael e sua personagem foram capa do caderno Donna em 2015.
– Quando comecei a assistir (o programa do RuPaul), tinha um preconceito muito grande. Para mim, a drag tinha cabelo verde limão e animava festas de aniversário. O RuPaul mostrou que uma drag queen pode ter várias formas. Comecei a me interessar – recorda Rafael.
A expectativa dos candidatos é que o Drag Me as a Queen dê visibilidade às drags, personalidades marginalizadas no Brasil. Apesar da oportunidade de aparecer na televisão seja em um canal fechado, restrito a quem pode pagar, ajudará a dissolver preconceito.
– Tem muita gente com TV a cabo e cabeça fechada. Vai desmistificar muita coisa, todo o mistério por trás das drag queens. Vai mostrar que somos pessoas, que ser drag machuca, cansa, que somos seres humanos – espera Rafael.
Os gaúchos estão concorrendo à mesma vaga, de drag queen que transformará a vida das mulheres começando pela maquiagem e cabelo – habilidades que Eros Ariel e Sarah Vika dizem dominar.
Para se inscrever, os interessados enviaram um vídeo de cinco minutos falando o porquê suas drags deveriam ser escolhidas. Rafael e Ariel eram dois de 131 inscritos. Nesta semana, eles viajam a São Paulo para o teste presencial no estúdio do canal E!. A seleção terá mais duas fases, até chegar às três vencedoras que apresentarão o programa. O resultado final será dado em dezembro.
Para Ariel, as mulheres "convencionais" que assistirem ao programa terão muito a aprender com a versatilidade das mulheres "montadas" – expressão comum entre as drags.
– Uma mulher se transformar na mulher que ela quer é o que a drag queen faz – observa Ariel.
Quem quiser assistir ao teste presencial poderá acompanhar ao vivo pela página do canal E! no Facebook, na próxima quinta-feira, dia 24. A transmissão começa ao meio-dia.