O povo porto-alegrense está sentindo falta da Usina do Gasômetro. Afinal, são oito anos de separação, desde que o prédio foi fechado, em 2017. Nesta quarta-feira (26), por exemplo, antes mesmo do espaço ser reaberto para receber uma parte da 14ª Bienal do Mercosul, transeuntes passavam e, vendo o movimento dos trabalhadores das obras, paravam e perguntavam:
— Já dá para entrar?
Não, ainda não dava. Mas, depois do adiamento por conta de um atraso da conclusão de instalação da Bienal, a partir desta sexta-feira (28), é possível adentrar novamente em um dos espaços culturais mais célebres da Capital — um dos seus cartões postais. Com a mostra internacional de arte contemporânea, o público vai poder ter um vislumbre de como está o prédio depois de tanto tempo de obras.
Porém, o acesso ainda é restrito. Neste primeiro momento, somente a nave — ou seja, o térreo — e o mezanino poderão ser visitados. O restante segue fechado para o público. Mas, nas áreas abertas, está instalada a obra Faísca, a qual ficará disponível até o final do evento artístico, em 1º de junho.
Quem olhar para cima notará que, além da área externa, que foi repintada, com vidros trocados, piso retocado e grama carpida, a parte interna do prédio passou por mudanças. E, mesmo que não seja possível avançar nos andares superiores, os espaços já passam pelos retoques finais, com lugares precisando de acabamentos, como rodapés.
O grande foco é na automação e no sistema de climatização, que precisam ser finalizados. Do quarto ao sexto andar, a nova rede elétrica também está sendo instalada. São quatro contratos em vigência, no momento. O total da obra foi de R$ 25,9 milhões.
— Para alguém que conhece Porto Alegre, se tu mostras a foto da Usina, a pessoa vai dizer na hora: "Isso é em Porto Alegre". Se tu mostras uma rua, pode ser em Porto Alegre, pode ser em Montevidéu. Algumas coisas se parecem com Porto Alegre. Agora, a Usina do Gasômetro é a certeza de Porto Alegre. O nosso símbolo mais icônico. E poder entregar isso para a população é motivo de orgulho — conta o secretário de Obras e Infraestrutura de Porto Alegre, André Flores.
As mudanças
Em visita guiada pelo próprio Flores, foi mostrado para a reportagem o resultado parcial das reformas — que devem ser plenamente concluídas em maio. Entre os destaques, está a obra do teatro Elis Regina, no segundo andar, que, finalmente, poderá ser aberto ao público. E, da janela, a estátua da cantora, que está instalada na Orla, observa para dentro do prédio.
O espaço contou com reforma completa, com colocação de sistemas de iluminação nova, bem como de climatização. O piso foi trocado por um novo, de madeira, com um tecnológico sistema de absorção de impacto, para que as apresentações gerem menos barulho e não atrapalhem as demais.
A ampla sala, porém, está completamente vazia, sem palco ou cadeiras. Estes serão colocados pela empresa que vai assumir a operação da Usina do Gasômetro, dentro do sistema de parceria público-privada (PPP). Tal movimento também ocorrerá nos outros espaços, como a sala de cinema P.F. Gastal.
A sala de exibição deixou o terceiro andar e foi para o superior, tornando-se duas, menores. De acordo com o Flores, seguindo a tendência atual, os espaços são menores, mas com uma programação mais diversa: um com capacidade para 50 pessoas e, a outro, para 70. Anteriormente, a P.F. Gastal abrigada 118 espectadores.

Novidades
No mesmo quarto andar do cinema e do icônico terraço com vista para o Guaíba, estará uma das novidades da nova Usina do Gasômetro: o espaço gastronômico, que ocupará uma área que era dedicado a mostras. Com a reformulação do centro cultural, saem as salas que eram destinadas para ensaios e abrigo de materiais dos grupos de artes cênicas — que foram realocados. Assim, abre espaço para empreendimentos, que serão operados pela empresa que assumir o local.
Outra mudança são os elevadores — antes, havia apenas um, que foi reformado. Agora, são quatro ascensores, sendo um deles apenas para carga, para facilitar o transporte de objetos de cena ou dos itens necessários para a área gastronômica. A ideia, de acordo com o secretário de Obras e Infraestrutura, é deixar a Usina do Gasômetro mais acessível.
Quatro salas multiuso estão espalhadas pela estrutura, com capacidade para receber de recitais a palestras, com arquibancadas. Além disso, existem duas amplas salas de dança, com a mesma tecnologia do piso do teatro Elis Regina. O espaço foi atualizado com uma pegada da arquitetura brutalista, conforme Flores, para mostrar modernidade, conversando com o modelo mais industrial — pertinente, visto o passado da Usina, que era um espaço de produção de energia.
Outro ponto que deve chamar atenção é a construção de uma praça ao lado da Usina do Gasômetro, que servirá como passeio público, interligando 6 quilômetro da Orla do Guaíba, do Cais Embarcadero ao trecho 1.
— A pessoa pode ir caminhando pela Orla sem precisar deixar de olhar para o Guaíba. Isso nunca teve, porque a Usina fechou em 2017 e a reforma da Orla é de 2019 — detalha Flores.
Chaminé
Os resquícios dos fornos originais seguem preservados no térreo do prédio, bem como fotos contando a história do local e, ainda, ladrilhos históricos foram restaurados e mantidos em algumas das salas da Usina do Gasômetro. São fragmentos da jornada da estrutura quase centenária que se mantém.
Porém, outro ícone que compõe o centro cultural, que é a chaminé de 117 metros, que fica ao lado do prédio, não teve a mesma sorte. No momento, a área da imponente construção segue cercada por tapumes, por medida de segurança, caso alguma parte dela se solte. A restauração da mesma está, no momento, em análise:
— Nós já fizemos o projeto e todas as avaliações. Mas não é fácil contratar uma empresa que dê conta desta obra tão específica. Precificar isso também não é fácil. Necessita de um trabalho extremamente especializado em altura. Então, é nesta fase de planejamento que nós estamos em relação à chaminé. Porque um erro pode ser catastrófico — explica Flores.