Depois de quatro meses, os corredores da Livraria Taverna voltaram a ficar repletos de leitores curiosos e animados. Atingido pela enchente de maio, um dos acervos mais frequentados na Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre, retomou as atividades neste sábado (7).
Ao longo do dia, mais de 1 mil pessoas circularam pelo local. No balcão, os sócios Eder Lopes, 39 anos, e André Günther, 32 anos, conversaram com a reportagem de Zero Hora nos pequenos respiros entre os atendimentos aos clientes.
— O sentimento é de superação, de gratidão e de esperança, porque quando a gente entrou na livraria e viu ela submersa pensamos que era o fim de tudo. Com o tempo, vimos que tínhamos apoio de muitas pessoas, do público, então trabalhamos para a reabertura — conta Lopes.
O estabelecimento, localizado no andar térreo da Casa de Cultura Mario Quintana, viu a água subir cerca de 50 centímetros durante a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Assim como o entorno, símbolo da vida cultural da Capital, a livraria ficou cerca de 20 dias alagada, com o interior coberto por um líquido barrento proveniente dos esgotos e do Guaíba.
Depois da água baixar, foi necessário calcular os prejuízos, avaliados em mais de R$ 300 mil.
— Nesse meio tempo, continuamos com as vendas pelo site para fazer alguma receita. Tivemos apoio dos clientes, que compraram online e ajudaram com a nossa campanha de doações para que conseguíssemos pagar a folha das funcionárias — afirma Günther.
Através da solidariedade, também foi possível refazer o mobiliário do primeiro piso do estabelecimento, danificado pela enchente. Um projeto de marcenaria doou madeiras e pagou a mão de obra.
— Somos um empreendimento de uma década. Temos clientes que têm um certo carinho por nós. Recebemos muitas mensagens de apoio durante a enchente, assim como muita ajuda. Nesses 10 anos, desempenhamos um trabalho de curadoria de livros especializados em ciências humanas, sociologia, antropologia, ciência política. São livros mais difíceis de encontrar nas livrarias convencionais. É algo que nosso público valoriza — relata Lopes.
Conexão com o público
Enquanto circulava por uma das partes mais pulsantes da Capital, a publicitária Gabriela Machado, 24 anos, adentrou a livraria. Após analisar exemplares dispostos nas estantes da loja, levou para casa uma edição impressa e uma ecobag.
Para ela, a reabertura da livraria significa uma vitória para todo o setor livreiro do Estado, segmento que foi bastante prejudicado durante a pandemia e vinha se recuperando antes da enchente.
— Acho que a volta da livraria é uma forma de dizer que nosso povo é muito guerreiro. Foi muito triste o que passamos como povo e o que a literatura passou. Acredito que a retomada da livraria é importante para nos trazer mais cultura, conhecimento e inspiração nesse momento de recuperação — analisa.
Cercada por cerca de 10 amigos, todos integrantes do clube Lendo Livres, a jornalista Laura Nienow, 30 anos, celebrava a volta da livraria entre risadas e abraços.
— A reabertura foi ótima. A gente tinha um encontro de livros hoje e viu que essa semana eles iriam reabrir. Torcemos para ser esse sábado. Fizemos nosso encontro e viemos para cá conferir. Ficamos felizes que casou o dia do nosso encontro com a reabertura hoje — relata a cliente frequente da loja, que exibia em uma das mãos um manuscrito de As Horas Nuas, de Lygia Fagundes Telles, recém adquirido na livraria.
Além de vender livros selecionados, a Taverna promove diversos eventos culturais, como clubes de livros, sessões de autógrafos e contação de história para crianças.