A palavra "vício" costuma estar associada a drogas e bebidas alcoólicas, mas há outros tipos de dependência que também são perigosos — e menos evidentes. O uso excessivo das redes sociais e da internet como um todo, por exemplo, tem sido apontado como causa de danos à saúde mental das pessoas. Esses casos e outros enquadram-se na área de especialidade da psiquiatra norte-americana Anna Lembke, que realiza a penúltima conferência da temporada 2024 do Fronteiras do Pensamento. Ela estará nesta quarta-feira (18), às 20h, no Teatro Unisinos (Av. Dr. Nilo Peçanha, 1.600), em Porto Alegre.
O nome da estudiosa pode soar familiar para muitos porque ela é autora dos best-sellers Nação Dopamina e Nação Tarja Preta, ambos publicados no Brasil pela editora Vestígio. No primeiro, ela escreve sobre como equilibrar prazer e sofrimento em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa, como drogas, comida, compras, sexo e redes sociais. No segundo, esmiúça a dependência de medicamentos prescritos para jovens, adultos e crianças, analisando a conduta de médicos e a atuação da indústria farmacêutica.
— Qualquer coisa que libere dopamina na via de recompensa do cérebro tem potencial para viciar — explicou Lembke em entrevista a Zero Hora publicada em abril.
Custo de oportunidade
Na ocasião, a professora da School of Medicine e chefe da Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, afirmou que “não estávamos preparados para a abundância”:
— Estamos expondo nossos cérebros a uma mangueira de incêndio constante de dopamina, nosso neurotransmissor de recompensa, exigindo que nosso cérebro compense ou se adapte neurologicamente a isso, regulando negativamente nossa própria produção e transmissão de dopamina, o que, em última análise, nos coloca em uma situação difícil de estado crônico de déficit de dopamina como forma de compensar. Esse estado é semelhante à depressão ou à ansiedade, até à anedonia, que é a incapacidade de sentir prazer.
Os perigos do vício em internet são os mesmos do vício em drogas e no álcool, acrescenta Lembke, implicando consequências graves, físicas e emocionais:
— Há um enorme custo de oportunidade, outras coisas que as pessoas poderiam estar fazendo e não estão porque passam muito tempo online, com a tecnologia. Isso inclui coisas como fazer conexões com pessoas em suas vidas reais, estudar e aprender, cuidar do corpo, ir ao banheiro quando o corpo pede, fazer exercícios, dormir o suficiente. As intervenções que estamos fazendo com o consumo compulsivo da internet são iguais às intervenções que fazemos para pessoas viciadas em drogas e álcool.
A última conferência da temporada será no dia 30 de outubro, com o historiador britânico Simon Sebag Montefiore, autor de obras como Stálin — A Corte do Czar Vermelho e Jerusalém — A Biografia. Ele está lançando no Brasil O Mundo — Uma História Através das Famílias (Companhia das Letras).
Fronteiras do Pensamento tem o patrocínio da Unimed, Corsan, Sulgás e Banco Topázio, patrocínio acadêmico da Unisinos, parceria institucional do Instituto Unicred, Fractal Educação, Hospital Moinhos de Vento, Icatu Seguros e prefeitura de Porto Alegre, neutralização de carbono Greener, promoção do Grupo RBS e realização da Delos Bureau, uma empresa DC Set Group.