A enchente que atingiu Porto Alegre ao longo do mês de maio afetou diversos patrimônios públicos municipais, dentre eles estão dez espaços culturais. Nestes foram registrados prejuízos em acervos, com a perda de materiais artísticos, nas infraestruturas e no atendimento ao público.
Para conduzir a restauração destes locais, que são administrados pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC), foi instituído o comitê de recuperação dos equipamentos culturais. Na sexta-feira (31), foi realizada uma reunião onde o grupo discutiu a situação dos espaços culturais mantidos pela prefeitura e as ações necessárias para diante dos prejuízos causados pela enchente.
No encontro foram traçadas as ações necessárias para a recuperação dos espaços. De acordo com o levantamento realizado pelo comitê, será necessário realizar descarte de materiais, mobiliário e equipamentos que foram avariados, drenagem das estruturas e limpeza pesada para remoção de sujeira e lama.
Para a recuperação do cenário cultural porto-alegrense, a SMCEC também busca modelos de cooperação com representantes de importantes eventos culturais da cidade.
— Nosso empenho imediato é para reerguer e dar vida nova a estes espaços históricos que representam a cultura de Porto Alegre. Já estamos conversando com representantes de eventos importantes na cidade, como Rap em Cena, Expofavela, Bienal do Mercosul, Feira do Livro e Acampamento Farroupilha, para buscar modelos de cooperação — comentou o secretário municipal de Cultura, Eduardo Paim.
Conforme nota da Prefeitura, as instituições danificadas permanecem fechadas e ainda não podem ser acessadas por questões de segurança. Não foram registrados danos na Pinacoteca Aldo Locatelli, na Pinacoteca Rubem Berta, no Arquivo Histórico Moysés Vellinho, na Casa de Cultura Plauto Cruz e na Sala Álvaro Moreyra.
Confira a situação e os danos registrados nos espaços culturais do município:
Centro Municipal de Cultura
O Centro Municipal de Cultura, localizado na Avenida Erico Veríssimo, 307, é o primeiro equipamento cultural que deve ser recuperado. Isso se deve à dimensão dos danos no local e o expressivo público que ele recebe mensalmente.
Construído nos anos 1970, o local abriga o Atelier Livre Xico Stockinger, a Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, a Sala Álvaro Moreyra, o Teatro Renascença, as coordenações de Dança, Artes Cênicas e Literatura, além de um saguão de Exposições.
Teatro Renascença
O local teve diversos danos na sua infraestrutura. Palco, cortinas, carpete e poltronas, que ficaram praticamente submersas, deverão ser substituídas integralmente. As tábuas do piso do palco ficaram onduladas por causa da inundação da área. O piano também precisará de reparos devido à umidade. Após a retirada da água de dentro do prédio, a equipe técnica dará início à limpeza da subestação elétrica, incluindo transformadores e quadros de luz.
As bombas de drenagem também só serão religadas após o ambiente estar seco para, então, ser feita a limpeza da caixa d’água. O Teatro Renascença recebe um público médio superior a 5 mil pessoas por mês. Os eventos estão sendo transferidos para o Teatro de Câmara Túlio Piva.
Atelier Livre
Todos os 20 cursos regulares e os 12 cursos extras, além de palestras, realizados no espaço precisaram ser cancelados. Isso porque houve a perda total do mobiliário e equipamentos e ferramentas utilizados nos cursos práticos. Cerca de 400 alunos ficaram prejudicados.
O subsolo do local ficou alagado, com danos às salas de escultura, cerâmica, xilogravura, litogravura e biblioteca. Além disso, o acervo histórico, com vídeos e fotografias, também sofreu avarias, 40% dos livros de arte foram perdidos.
Será feita limpeza e descontaminação do ambiente e a direção busca parcerias para restabelecer os cursos e as demais necessidades. Os cursos regulares serão remanejados para outras instituições que serão divulgadas em breve.
Biblioteca Municipal Josué Guimarães
O subsolo da biblioteca foi completamente inundado e tudo que estava no local foi perdido, devido ao estado crítico em que ficaram. Lá eram armazenados DVDs e cerca de 200 livros, juntamente com computadores e mobiliário. Além disso, o piso irá necessitar de forte camada de impermeabilizante.
Todo material do andar térreo e mezanino, que guardam as fichas de milhares de usuários e o acervo de 30 mil livros, foram preservados. No entanto, o espaço precisa de nova pintura. Na Biblioteca, o público é de 200 pessoas mensalmente e um total de 20 mil empréstimos de livros, anualmente.
Museu Joaquim Felizardo
A enchente afetou parte do acervo arqueológico do museu, que fica localizado no bairro Cidade Baixa, na Rua João Alfredo, 582. No térreo, estavam cerca de 300 mil fragmentos arqueológicos que remontam à história da ocupação indígena anterior à colonização portuguesa, como louças, cerâmica, vidro, metal, couro e pedra. Parte disso ficou submerso. A direção do museu já está em contato com equipes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que irão ajudar no processo de restauro.
O coordenador de Artes Visuais da SMCEC, Paulo Amaral, salienta que o trabalho é cuidadoso e está alinhado com os padrões de órgãos estaduais e federais que tratam da questão do patrimônio histórico.
"Os espaços culturais e as obras de arte serão limpas de acordo com as normas e cuidados necessários para um material de alto valor e significado tão importante para preservação da nossa cidade de Porto Alegre", explica em nota.
Foram preservadas 12 mil fotos e 1,5 mil objetos do acervo, que conta com documentos, indumentárias e objetos diversos sobre a história da Capital. Não há previsão para a reabertura do museu. O retorno será feito somente após a conclusão do trabalho de limpeza, que iniciou neste sábado (1º).
Casa Torelly
O casarão na Avenida Independência, 453, foi atingido pela forte chuva, com goteiras molhando o interior do prédio. Todo o telhado deverá ser recuperado. No local está situada a Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) e a Direção de Patrimônio e Memória do Município.
Casa da Coordenação de Música
Foram registrados estragos no piso de madeira, armários e demais mobiliários. Além disso, equipamentos elétricos e eletrônicos também foram danificados, como microfones com e sem fio, caixas de som, ar condicionado e geladeira.
Museu de Arte do Paço Municipal
Localizado no Centro Histórico, o prédio histórico foi cercado pela enchente. No local, está situada a Pinacoteca Aldo Locatelli. O porão exibia a exposição "Veracidade", cujas peças fotográficas foram retiradas antes do avanço das águas. Permaneceram no espaço do porão esculturas que não puderam ser removidas devido ao peso dos materiais de cimento maciço e ferro: maquete do Monumento aos Açorianos (Carlos Tenius); Escultura de Xico Stockinger (da série Gabirus) e três esculturas de Vasco Prado.
Situação estadual
O último levantamento sobre os patrimônios culturais do Estado divulgado é do dia 22 de maio. Até então, foram confirmadas inundações em 19 instituições, além de nove museus com transbordamento de calhas e goteiras.
Na época, um mapeamento inicial apontou que pelo menos 50 museus podem ter sido afetados. A relação, sobre os equipamentos culturais impactados pelo desastre meteorológico, foi feita pelo Sistema Estadual de Museus (SEM/RS).
A Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) também criou um cadastro de voluntários que, na data, já contava com 484 pessoas inscritas. Desse total, 313 são técnicos e especialistas na área de patrimônio, como conservadores, museólogos, restauradores e arquitetos. Pelo formulário, 24 instituições governamentais de vários Estados se dispuseram a ajudar.