Se as radionovelas fizeram um enorme sucesso décadas atrás — a primeira delas, O Solar dos Alvarengas, estreou há 80 anos —, o formato foi caindo no esquecimento. O Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom), porém, trabalha para manter viva essa história.
Depois de receber a doação do acervo dos roteiros para rádio e TV de Érico Cramer — que assinava as suas produções como Roberto Lis —, entre 1937 e 1961, por parte de sua viúva, Judith Cramer, em 1979, a instituição guardou os documentos pelas décadas seguintes, até que, em 2021, passou a trabalhar em sua conservação.
No total, as doações contemplam 125 títulos diferentes, cada um com diversos capítulos, alguns completos e outros não. E o processo de tratamento ainda segue. Foram, até agora, limpos e conservados adequadamente roteiros que completam 18 caixas – restam documentos que devem preencher aproximadamente outras 20.
A limpeza ocorre manualmente, removendo traças e mofos, com os papéis sendo higienizados individualmente, acondicionados, digitalizados, processados e, por fim, disponibilizados para acesso virtual. Entre os arquivos, está o roteiro do primeiro episódio de O Solar dos Alvarengas, com seus 80 anos de existência.
Laura Arce, analista arquivista do MuseCom, define que manter esse material é essencial para a conservação da história da comunicação, apesar da dificuldade do processo e, às vezes, a falta de ferramentas para realizar o melhor trabalho possível. Ela ressalta que com o atual tipo de cuidado os documentos devem durar, fisicamente, pelo menos, mais 50 anos – as digitalizações, porém, perdurarão para sempre.
— Quando a gente consegue preservar o objeto físico, é melhor ainda, porque ele traz o contexto da época, com sinais do tempo, anotações e até o tipo de papel que era usado. E isso é interessante porque a nossa memória é fundamental para sabermos quem nós somos, de onde viemos e para onde vamos — aponta Laura, que não sabia da existência das radionovelas até se ver trabalhando com a memória delas no museu.
Wellington Silva, diretor da instituição, diz que a conservação dos roteiros está conectada com a missão do MuseCom, preservando e difundindo os suportes da comunicação ao longo do tempo. Ele acredita que manter estes roteiros no local é essencial para reconstituir transformações de época, com o mundo artístico saindo dos palcos e entrando para o cenário radiofônico.
— Esse tipo de conteúdo, hoje em dia, não é mais tão presente no rádio, que prioriza a cobertura noticiosa do dia a dia. Mas, ao olhar para esse material, para esse passado, nos dá pistas para entender o movimento que a gente tem observado atualmente, com podcasts e outros programas que estão buscando uma interface mais próxima dessa dramaturgia que existia décadas atrás. O papel do museu, então, ao preservar esses registros do passado, é conseguir fazer esse gancho, do quanto estas formas de fazer da sociedade se reinventam — reforça Silva.