Os nerds gaúchos já estão escolhendo a camiseta de super-herói favorita e separando as economias para comprar aquela HQ que está faltando na coleção. Isto porque neste sábado (3) e no domingo (4), os fãs da cultura pop da Região Metropolitana têm compromisso: é a ComicCon RS (CCRS), que ocorre na Universidade La Salle, em Canoas, das 11h às 20h em ambos dos dias. Os ingressos estão sendo vendidos no site do evento e no Sympla.
O já tradicional encontro chega a sua 10ª edição — depois de dois anos sem ocorrer presencialmente, por conta da pandemia. E na programação, nomes gaúchos e nacionais estão confirmados. Um dos destaques é Vitor Cafaggi, autor das graphic novels da Turma da Mônica e que lança agora sua nova adaptação, Franjinha: Contato. Ele estará acompanhado do mineiro Max Andrade, autor de mangás, webcomics e mais novo reforço da coleção Graphic MSP com sua releitura do Anjinho, e também de Sidney Gusman, editor da Mauricio de Sousa Produções.
Carlos Ruas, criador do fenômeno de humor da internet Um Sábado Qualquer e da série de tirinhas Cães e Gatos, também integra a lista de convidados. Para os fãs de super-heróis, a CCRS 2022 contará com a presença de Lucas Werneck, artista brasileiro da Marvel que é o atual responsável pela arte do título X-Men Imortal. O evento ainda contará com nomes como Cecília Marins, paulista que assina a arte do documentário Emicida: AmarElo.
Entre os gaúchos, Rafael Fritzen, responsável pelas tirinhas Ângulo de Vista, estará no evento. Já Cris Peter e Gustavo Borges serão os homenageados deste ano por seus feitos de alcance nacional e internacional, entre eles, Pétalas, que foi indicado ao prêmio Eisner de 2019. Vale destacar, ainda, um bate-papo da Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) sobre a resistência dos cartunistas gaúchos e a democracia, que reunirá Santiago, Edgar Vasquez, Rodinério da Rosa, Rafael Corrêa e Lu Vieira.
Além deles, mais de 80 profissionais estarão apresentando o seu trabalho no Artist's Alley. O espaço ainda contará com painéis com temas variados, estandes de lojas geek, sessões de autógrafos, food trucks, apresentações de k-pop, desfiles de cosplayers, salas temáticas de Star Wars e Harry Potter e espaços "instagramáveis" com temas como Stranger Things e O Estranho Mundo de Jack.
Maior
Em 2019, na sua última edição presencial, a CCRS reuniu, entre os dois dias, cerca de 5 mil pessoas, ainda na Ulbra Canoas, que abrigava a convenção desde 2015 — quando deixou de se chamar Multiverso ComicCon, que tinha desde a sua fundação, em 2011, ainda sendo realizada em Porto Alegre. Agora, na casa nova, o criador da CCRS, o jornalista Émerson Vasconcelos, espera que o reencontro com o público seja ainda maior e também seguro, com um espaço mais aberto e com menos aglomeração de pessoas.
— A universidade abriu suas portas para a gente usar o que precisasse, mas nós escolhemos delimitar um espaço para um número similar de pessoas que atenderia na Ulbra. Só que em história de metros quadrados, dá o dobro. Porque pensamos em justamente não ficar todo mundo tão perto — explica Vasconcelos, detalhando que as atrações não ficarão tão próximas umas das outras, justamente para haver circulação de ar.
Outra preocupação com a pandemia se reflete na venda de ingressos: será obrigatório apresentar a carteirinha de vacinação com pelo menos duas doses do imunizante contra a covid-19:
— Não é uma regra da prefeitura, mas sim do evento. É a nossa responsabilidade com o nosso público e com a instituição que está abrindo as portas pra gente. Se vai muita ou se vai pouca gente, nós vamos descobrir quando o evento abrir, mas a preocupação maior é que todo mundo fique seguro.
E sobre a mudança de casa, Vasconcelos celebra o convite feito pela Universidade La Salle, uma vez que tem formação na rede de ensino, bem como os seus pais — o que o deixa emocionado por poder levar a CCRS para uma casa que é tão próxima, fomentar a Região Metropolitana, além de ter um espaço mais amplo, bem como a possibilidade de um acesso mais fácil para os visitantes: a instituição fica ao lado da Estação Canoas da Trensurb.
Espaço
A CCRS é um evento que surgiu de uma vontade de Vasconcelos que, apoiado pelos pais, decidiu criar a iniciativa de forma independente. Na primeira edição, tomou prejuízo e só conseguiu cobrir os gastos quatro anos depois. Foi uma jornada de resistência e sonho de organizar um evento voltado para a cultura pop no Rio Grande do Sul. E, com o sucesso que o seu projeto se tornou, ele abre espaço para artistas também independentes mostrarem a sua arte e, assim, fazer com que a indústria dos quadrinhos se retroalimente no Estado.
É o caso do Flavio Soares, autor do elogiado A Vida com Logan, que fará a sua estreia na CCRS, no Artist's Alley, após ter participado de todas as edições da CCXP, em São Paulo. Ele e a família se mudaram para o Rio Grande do Sul no final do ano passado e, agora, celebra o espaço que já encontrou por aqui para divulgar o seu trabalho:
— Um evento como esse para um artista independente é muito importante, porque é uma chance de ter contato com o público. É um termômetro muito imediato de como está o teu trabalho. Participar da ComicCon RS no final de semana vai ser muito especial, porque é a minha volta aos eventos presenciais depois da pandemia.
E, de acordo com Soares, ser artista independente, hoje, no Brasil, é um exercício de resiliência e de uma eterna busca de alternativas de se chegar ao público. Viver de desenhar é um privilégio de poucos profissionais — ele mesmo se divide com a profissão de designer gráfico. Ele, recentemente, montou a editora Tortuga, ao lado do amigo MJ Macedo, em um movimento para diversificar ainda mais o mercado de quadrinhos no país e também fortalecer a classe.
— Eu acho fundamental iniciativas independentes que fomentem cultura, mesmo que sejam iniciativas que vão lá bater na porta do prefeito, do governador, de um secretário, que diga: "Olha, precisamos de verba aqui para fazer isso". As coisas no Brasil, na minha percepção, só caminham por força da sociedade civil, por pessoas que tomam para si a responsabilidade de gerar cultura — destaca Soares.
Kaol Porfírio, que é de Viamão e atualmente reside em Santa Catarina, faz questão de voltar ao Estado para participar da CCRS, que ela considera um evento muito importante, por ter sido o primeiro a abrir as portas para ela expor o seu trabalho como artista. E ela destaca que estar em um encontro como este é essencial, principalmente pela troca com o público.
— Ser artista independente no Brasil é um corre danado, é uma questão de sobrevivência todo mês. Eu estou conseguindo manter um fluxo bom para poder ajudar e dividir o meu público com outros artistas e, assim, a gente poder crescer juntos, mas é bem complicado, principalmente se tu depende de redes sociais, porque elas estão sempre mudando as regras para agir contra você — destaca Kaol, que ainda enfatiza que o artista, além de ilustrador ou quadrinista, ainda precisa ser seu próprio marketing, sua agência, ter um pacote completo de divulgação de trabalho e de assessoria.
Kaol, atualmente, vive de seu talento. Ela é artista fixa de uma marca de vestuário de Santa Catarina, desenvolvendo estampas e bordados, além de ter a sua loja, onde vende seus desenhos e está sempre buscando criar novidades para impulsionar o seu negócio e também dos colegas artistas.
— A minha expectativa para a CCRS é muito alta, porque eu estou muito feliz em poder voltar a participar de eventos, ver o público, conversar com as pessoas, abraçar elas, conversar e trocar experiências, por tudo que a gente passou nestes últimos anos. Muitas pessoas mudaram e cresceram, se adaptaram e tudo mais, então, é bem importante ter esse contato novamente. Estou ansiosa demais.
Para Émerson Vasconcelos, a cada edição da CCRS, o desafio aumenta, pois as responsabilidades aumentam, além das empresas privadas não darem apoio para eventos como este, pois ainda olham com desconfiança para a cultura pop:
— A minha preocupação maior é atender todos e fazer com que o mais gente possível conheça o trabalho de todo mundo que está no evento. E dar um espaço legal. A minha maior dificuldade, quando estou organizando, sempre é como isso vai ajudar a fomentar o cenário de quadrinho no Rio Grande do Sul. Então, essa é a minha grande missão.
ComicCon RS 2022
- Neste sábado (3) e domingo (4), das 11h às 20h, na Universidade La Salle (Avenida Victor Barreto, 2288 – Centro), em Canoas.
- Ingressos no quarto lote a partir de R$ 50 (para um dia) e R$ 90 (para dois dias). Há opções de combos e descontos para estudantes e colaboradores da Rede La Salle.
- Programação completa da CCRS pode ser conferida no site do evento.