O primeiro personagem animado brasileiro da Disney completa, nesta quarta-feira (24), 80 anos de sua aparição inicial no filme Alô, Amigos. Criado para contracenar com Pato Donald e inspirado no povo brasileiro (e seus estereótipos), Zé Carioca conquistou seu sucesso através dos quadrinhos. O papagaio foi criado pelo próprio Walt Disney em viagem ao Rio de Janeiro (RJ), como resultado de uma mistura carioca e paulista, e já apareceu em três longas-metragens dos estúdios.
Em homenagem às oito décadas de Zé Carioca, GZH reuniu curiosidades sobre o personagem. Confira:
Criado por Walt Disney no Rio de Janeiro
Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, Walt Disney visitou o Brasil e outros países da América do Sul para pesquisar e encontrar inspiração para conteúdos da The Walt Disney Company — mais especificamente, para um filme que se passaria no Brasil e se chamaria Alô, Amigos. A missão era também estreitar os laços dos Estados Unidos com países latino-americanos, tornando o Brasil um aliado durante a guerra.
Disney e sua equipe montaram um estúdio de animação temporário no Copacabana Palace para mostrar à população o processo de criação de personagens e para desenvolver relações com outros profissionais. A viagem resultou na criação do primeiro personagem brasileiro dos estúdios, o Zé Carioca.
O animador queria criar um personagem para contracenar com Pato Donald. Motivado por piadas de papagaio que ouvia no hotel e pensando em como alguns povos se identificam com pássaros (inclusive os norte-americanos com a águia), escolheu um papagaio para representar o Brasil. O cartunista J. Carlos, que trabalhava na revista O Tico-Tico, voltada para o público infantil, ajudou Disney nos primeiros rascunhos de Zé Carioca.
Mistura carioca e paulista
Zé Carioca usa fraque, chapéu de palha, gravata-borboleta, guarda-chuva e charuto, uma inspiração proveniente do Dr. Jacarandá, um personagem folclórico das ruas do Rio de Janeiro. Contudo, seu gingado e gestos foram inspirados no violonista José do Patrocínio de Oliveira, o Zezinho, um paulista que trabalhava com trilhas sonoras de filmes internacionais nos Estados Unidos — cuja voz e sotaque foram utilizados para a dublagem de Zé Carioca em Alô, Amigos e Você Já Foi à Bahia? (1944).
Participação em longas-metragens
Zé Carioca estreou em 24 de agosto de 1942 no Rio de Janeiro, na primeira exibição mundial do média-metragem Alô, Amigos. A história mostra o papagaio recebendo Pato Donald durante sua viagem ao Brasil e passeando com ele pela América Latina, apresentando-lhe as diferentes culturas.
O personagem voltou ainda aos cinemas em dois longas-metragens clássicos: Você Já Foi à Bahia? e Tempo de Melodia (1948).
Sucesso nos quadrinhos
As aventuras de Zé Carioca tiveram continuidade e alcançaram o sucesso nos quadrinhos. Em outubro de 1942, Zé Carioca apareceu nos jornais americanos, que publicaram suas histórias ao longo de 104 páginas dominicais coloridas. Em fevereiro de 1943, as aventuras também começaram a sair no Brasil, a partir da revista em quadrinhos O Globo Juvenil, nº 878. Mais tarde, passariam a ser publicadas pela Editora Abril.
Dividiu espaço com Pato Donald
Contudo, no início, Zé Carioca aparecia como coadjuvante nas histórias do Pato Donald. A crescente popularidade do papagaio ao longo dos anos levou a Abril a decidir que, a partir de janeiro de 1961, todas as edições ímpares de O Pato Donald passariam a se chamar Zé Carioca. Nessa década, tornou-se protagonista — e seu personagem ganhou profundidade.
Características brasileiras
Inspirado no povo brasileiro, o personagem é alegre, criativo, hospitaleiro e carismático — mas também é malandro, não gosta de trabalhar e está sempre endividado. Mesmo assim, com seu "jeitinho brasileiro", é feliz. Apesar de ser baseado em estereótipos dos brasileiros, o personagem conquistou a afeição do público.
Os detalhes de sua personalidade e de suas histórias foram sendo afinados com o passar dos anos. Nas aventuras, ele aparece vivendo na Vila Xurupita, nos morros do Rio de Janeiro, comendo feijoada e jogando futebol. Ao longo do tempo, suas histórias começaram a mostrar novos personagens, diferentes tramas, como sua paixão por uma jovem rica de um bairro nobre, e parentes de outras regiões do país — estereótipos bem-humorados, como o executivo Zé Paulista e o mineiro Zé Queijinho.
Retratando o cotidiano e as dificuldades, mas também as alegrias, Zé Carioca foi ganhando feições mais populares e relacionadas aos brasileiros, criando uma identidade nacional, para além do Rio de Janeiro.
Mais de 2 mil histórias
Quase um terço da produção de HQs Disney pela Editora Abril contou com a presença de Zé Carioca, totalizando mais de 2 mil histórias. Desde 2020, as aventuras são criadas, produzidas e publicadas pela Editora Culturama, de Caxias do Sul.
Celebração especial
A Disney preparou diferentes comemorações ao longo dos próximos 12 meses para celebrar os 80 anos do personagem. A primeira delas é o lançamento de uma música no começo de setembro, de autoria de Leandro Lehart e cantada pelo sambista Xande de Pilares, com um videoclipe. A canção foi composta a partir dos atributos de Zé Carioca, que também representam o povo brasileiro, com o título Os Zés do Brasil.
Além disso, foi lançada uma edição especial das histórias que marcaram a trajetória do personagem, com curiosidades, intitulada O Essencial do Zé Carioca: Celebrando os 80 Anos da sua Estreia. O escritor e colunista de GZH Eduardo Bueno lançará em outubro o livro Zé Carioca conta a história do Brasil. Novas histórias com o personagem também serão publicadas.
Nos próximos meses, serão lançadas ainda coleções temáticas de produtos de grandes marcas de roupas, acessórios, brinquedos e instrumentos musicais. Além disso, de agosto a dezembro, o hotel Emiliano Rio será tematizado em homenagem à criação do personagem no Rio de Janeiro.