Um dos autores franceses mais lidos da atualidade, Frédéric Martel dá continuidade ao Fronteiras do Pensamento 2022 nesta quarta-feira (31), às 20h, na Casa da Ospa, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre. A segunda conferência presencial do ciclo de palestras, intitulada "Uma Noção de Lugar no Brasil: Globalização Ecológica e Digital", será conduzida pelo sociólogo e jornalista. As inscrições para a 16ª edição do Fronteiras, que tem como tema Tecnologias para a Vida, podem ser realizadas no site.
Martel é autor de Mainstream (2012) e Smart (2015), obras desenvolvidas por meio de pesquisas de campo ao longo de vários anos em mais de 50 países e consideradas fundamentais para refletir sobre as indústrias criativas e a cultura digital em diferentes territórios. Doutor em Ciências Sociais pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), na França, é mestre em Ciências Sociais, Filosofia, Ciência Política e Direito Público pelas Universidades de Paris I e II, e professor na Universidade das Artes de Zurique (ZHdK), na Suíça.
O francês também é autor do polêmico best-seller do New York Times No Armário do Vaticano (2019), livro que foi o mais vendido em 12 países e traduzido para 20 idiomas. Publicou ainda outras nove obras, incluindo De la Culture en Amérique e The Pink and the Black, apresenta o programa Soft Power na France Culture da Radio France e escreve para a revista Slate.
Martel acredita que a globalização e a digitalização, bem como a questão ecológica, provocaram uma revolução, transformando a cultura, a informação e a identidade ao longo dos últimos 30 anos, com destaque para os países emergentes, como o Brasil. Baseando-se em suas pesquisas, com ênfase no contexto brasileiro, o autor analisará na conferência como essa globalização afeta a cultura, o setor digital, as relações internacionais e até mesmo as identidades pessoais.
— Eu diria que a transição digital, adicionada à transição ecológica, são as duas principais evoluções do nosso século. O século do verde digital — avaliou em entrevista publicada na Revista Fronteiras do Pensamento.
O autor argumenta que a globalização não anula a relação com o território local: as pessoas estão globalizadas, conectadas, mas continuam localizadas no lugar onde vivem, no qual estão interessadas e com o qual se identificam. Portanto, Martel salienta que há duas culturas possibilitadas pela internet: um tipo mainstream (dominante) global, que é, ao mesmo tempo, diferente em cada lugar; e outro tipo regional.
— Então, a ideia de a globalização ser culturalmente um tipo de uniformização não é inteiramente verdadeira — explicou. — Existe uma tentativa de prover a tecnologia, o software, e não necessariamente o conteúdo. Basicamente, Facebook, Twitter e Google não são provedores de nenhum conteúdo. E os meus estudos mostram que é o conteúdo que você quer, e de um tipo bem local.
O autor vê, portanto, uma maior territorialização de conteúdos na internet, citando a produção e a procura em língua portuguesa no Brasil como exemplo.
— Existe a ideia de que não há mais fronteiras, de que agora todos participamos de uma única conversa global. A conclusão dos meus livros é que isso não é verdade. As fronteiras ainda existem. A língua que você fala ainda é importante. É por isso que defendo a ideia de que, em grande medida, a internet é geolocalizada, ou seja, está fragmentada de acordo com uma série de espaços culturais distintos, ainda que eles se comuniquem — acrescentou em entrevista à Folha de S.Paulo.
Deste modo, Martel considera a internet um conjunto de "panelinhas", divididas por culturas e línguas, mas que conversam entre si, utilizando informações e até mesmo memes. Curiosamente, essa troca é permitida por uma espécie de "supracultura", um dialeto cultural utilizado como segunda língua, derivado da cultura norte-americana.
O escritor francês é otimista em relação ao futuro da internet e considera que o lado positivo se sobressai em relação ao negativo. Contudo, argumenta que as empresas também têm de se territorializar, assumindo responsabilidade nos diferentes países para superar o potencial destrutivo das redes sociais.
E mesmo no futuro, delineado pelo metaverso e pela evolução da inteligência artificial, ele vê ainda um papel humano a ser desempenhado: a "curadoria inteligente", combinando algoritmos e curadoria humana para recomendações melhoradas de conteúdos, cada vez mais abundantes na era digital.
Programação presencial e online
A temporada 2022 do Fronteiras do Pensamento contará com 12 conferências presenciais e online. Passarão pela Casa da Ospa ainda Steven Johnson, Luc Ferry, Élisabeth Roudinesco e Marcelo Gleiser. No ambiente virtual, Maria Homem, Martha Gabriel, Rodrigo Petronio, Mayana Zatz, Jorge Caldeira e Sidarta Ribeiro compartilham suas ideias. A programação completa pode ser conferida no site.
O Fronteiras do Pensamento tem patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Unimed Porto Alegre, Dexco e Icatu Seguros, com parceria acadêmica da PUCRS, parceria empresarial de Uniodonto, Sinergy e Colégio Bertoni Med, parceria institucional do Pacto Global e promoção do Grupo RBS.