Na noite desta quarta-feira (8), a edição 2021 do Fronteiras do Pensamento chegou ao fim com a conferência do economista indiano e presidente do World Wide Fund for Nature (WWF International), Pavan Sukhdev, que abordou o tema Os desafios de um novo começo - Uma nova economia para a espaçonave Terra. Em sua fala, o convidado propôs caminhos que aumentem a igualdade e o bem-estar humanos, reforçando que o planeta não tem recursos infinitos.
Para Sukhdev, as economias verdes são o motor para a geração de emprego e a redução da pobreza do mundo, e a falta de uma boa governança em cima do capital natural está colocando o futuro do planeta em risco. Por isso, ele destacou que é possível trabalhar por um amanhã mais justo e sustentável.
— Este planeta é finito. É como uma nave espacial. Nós, a humanidade, somos como a sua tripulação — reforçou.
De acordo com o conferencista, o conceito de “espaçonave Terra” surgiu nos anos 1950, pelo economista britânico Kenneth Boulding. Sukhdev ressalta que, na época, o pensador enfatizou que a sociedade era uma “economia de caubói”, ou seja, uma economia livre, em que todos podiam fazer o que quisessem. Porém, o indiano pontua que, hoje, a economia está em “queda livre”, pois a humanidade está em disparada em direção aos limites planetários.
Ele destacou que isso acontece não por maldade ou por falta de conhecimento, mas por causa do sistema econômico utilizado pela sociedade, que recompensa a produção, o consumo e o lucro e não a geração de bens e serviços públicos. Por isso, ele acredita que é necessário desenvolver o que ele chama de “grande transição” da “economia livre, ou em queda livre, de hoje”, para uma que seja, efetivamente, uma “economia verde e igualitária de permanência”, que possa prosperar para as gerações futuras.
— A economia de hoje não tem absolutamente nenhuma esperança de chegar ao chamado desenvolvimento sustentável, que é satisfazer as necessidades de hoje, mas ainda garantindo que as necessidades futuras de nossos filhos e netos também serão — cravou Sukhdev.
O conferencista alertou que a forma como os seres humanos, que se tornaram uma “força ecológica”, lidam com o meio ambiente atualmente está prejudicando o clima e, com isso, trazendo prejuízos econômicos para as comunidades costeiras — como o Brasil. O encontro foi moderando por Kalil Cury Filho, engenheiro civil que atua no desenvolvimento sustentável nos negócios e na economia.
Dimensões
Para Sukhdev, a humanidade precisa parar de poluir como se os recursos do planeta fossem ilimitados. De acordo com o economista, é necessário medir além de apenas uma das riquezas da humanidade, como o Produto Interno Bruto (PIB) ou o capital de uma empresa. Ele ressalta que, para uma companhia, por exemplo, é necessário aferir o quanto ela afeta a saúde humana por meio de suas atividades, o quanto ela contribui para conhecimento ou o quanto ela é importante para o capital natural.
— É certo isso? Seria certo assumir só uma pequena parte de todo o cenário de impacto de uma corporação? Não acho que seja certo — pontuou, destacando acreditar que é necessário medir todos os capitais nos quais uma empresa ou um país atua, não apenas aquele que se refere ao lucro.
O conferencista explicou que, para a humanidade se livrar da chamada “economia de caubói”, é necessário mudar a forma como os recursos são vistos, considerando que eles vão acabar e, assim, entrar na “economia de astronauta”, considerando a Terra como uma espaçonave.
Alimentação e poluição
Sukhdev, em sua fala, alertou que, no mundo, 800 milhões de pessoas sofrem com a fome, enquanto 1,9 bilhão estão com sobrepeso e, dessa quantia, 700 milhões estão obesas. Ele alertou que, de acordo com o Relatório Global de Nutrição de 2016, os hábitos alimentares são os maiores responsáveis por doenças e, assim, a maior parte dos gastos com saúde são relacionados com esta realidade.
Além disso, o conferencista reforçou que, anualmente, 8 milhões de pessoas morrem todos os anos por conta da poluição atmosférica, que vem da indústria e da agricultura.
— Essas são as consequências de projetar uma economia de forma descuidada, sem reconhecer que há custos ocultos de saúde à economia — alertou, ressaltando os tipos de poluentes que são emitidos à população com as queimadas, por exemplo.
Segundo o economista indiano, cerca de 60% da biodiversidade perdida no planeta se deve aos hábitos alimentares da população, assim como várias outras atitudes envoltas na produção de comida e da exploração de recursos naturais que estão acelerando a degradação do meio ambiente.
— A forma como esses negócios costumam operar, sob má governança, sem reconhecer o valor da natureza e da vida humana, e o valor da saúde do capital humano... Um sistema como esse, em sua essência, não nos trará nenhum tipo de saúde ou de felicidade no futuro — projetou.
Ele enfatizou que é preciso um sistema de equilíbrio em que, caso exista um dano de um lado, tenha uma compensação do outro. Para o economista, é necessário encontrar uma forma sustentável de gerar lucro, mas sem destruir os demais capitais, como o humano. E, para tal, ele citou a utilização de um sistema agroecológico.
Sukhdev também ressaltou, em sua fala, que, para conseguir salvar a chamada "espaçonave Terra", punições são necessárias para quem não alocar corretamente os capitais pensando em uma economia mais sustentável.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio de Unimed Porto Alegre, PUCRS, B3, parceria institucional Pacto Global e promoção do Grupo RBS.