Em meio ao estresse proporcionado pela pandemia, a arte ajudou a amenizar a tensão vivida neste período. Ao menos é o que indica a pesquisa "Hábitos Culturais II", promovida pelo ItaúCultural/Datafolha e divulgada nesta quinta-feira (22). Realizado entre os dias 10 de maio e 9 de junho de 2021, o estudo investigou também o impacto das atividades culturais na saúde mental dos entrevistados.
A atividade cultural melhorou a qualidade de vida de 44% das pessoas que realizaram ao menos uma iniciativa da área ao longo dos últimos 12 meses. Para 48%, diminuiu o estresse e ansiedade, enquanto 55% apontaram melhora no relacionamento com outros habitantes da casa em que vivem.
De acordo com o levantamento, 49% perceberam diminuição da solidão — no estudo anterior, de 2020, eram 54% — e 51% relataram diminuição da sensação de tristeza. A pesquisa indicou que a percepção do impacto positivo de atividades culturais online na melhora do relacionamento em casa foi maior no grupo de indivíduos entre 45 e 65 anos (60%) e menos efetiva entre os indivíduos de 25 a 34 anos (47%).
A pesquisa revela que 36% dos entrevistados relataram problemas de saúde mental em algum morador da residência nos últimos 12 meses. O Sul foi a região do país com a maior incidência de casos, 43%.
Cultura online
O levantamento destaca que houve um aumento de consumo de cultura na internet no momento em que os brasileiros passaram a ficar mais conectados. Na pesquisa deste ano, 76% dos entrevistados informaram que passaram a se conectar todos os dias, um aumento de 5% em comparação a 2020.
Nos últimos 12 meses, o consumo de apresentações artísticas de música, teatro e dança disparou. No ano passado, 20% dos indivíduos responderam que assistiam a este tipo de atividade, enquanto em 2021 o índice dobrou, chegando a 40%. É importante destacar que, segundo a pesquisa, cada ponto percentual representa cerca de 1,5 milhão de pessoas. Ou seja, um aumento de 20% para 40% no número dos que viram shows ou apresentações online significa que houve um aumento de 30 milhões para 60 milhões de pessoas que assistiram a essas atrações.
O consumo de música online cresceu de um ano para o outro, de 74% para 79%, assim como o de filmes e séries, que foi de 68% para 75%. Os podcasts também subiram. Se em 2020, 24% dos entrevistados acessavam plataformas do gênero, agora o índice chegou a 39%. O consumo de game também avançou, de 32% para 43%. Também apresentaram crescimento os cursos livres (de 35% para 41%) e a leitura de livros digitais (de 36% para 40%). Já os espetáculos infantis se mantiveram estáveis, com 23%.
Por outro lado, a pesquisa aponta que duas atividades perderam força nos últimos 12 meses. Os webinares, que ganharam espaço no início da pandemia, eram acompanhados por 30% dos entrevistados. No novo levantamento, o índice foi para 23%. O mesmo ocorreu com as visitas online a exposições e museus: se em 2020, 16% diziam realizar este tipo de atividade, agora a porcentagem recuou para 11%.
Manutenção (ou não)
O hábito de consumir atividades culturais na internet tem boas chances de se manter no pós-pandemia, de acordo com a pesquisa. Os dados indicam que 80% dos que assistiram a apresentações de teatro, música e dança nesse ambiente pretendem seguir com a prática. O índice é o mesmo declarado para aulas ou oficinas de arte.
No entanto, o menor índice de continuidade da prática surgiu no caso das exposições e museus (67%). Registraram patamares equivalentes, estatisticamente, visitas virtuais a centros culturais (78%), oficinas de criação para crianças (75%) e visitas guiadas a projetos artísticos (76%).
Interesse
As atividades ampliaram o acesso e aumentaram o interesse do público para a cultura, segundo o estudo do ItaúCultural/Datafolha. Na pesquisa, 72% dos entrevistados informaram que a internet permitiu o acesso a atividades culturais que, de outra forma, não seriam experimentadas. Em 2020, esse índice foi de 67%. Entre os jovens de 16 a 24 anos, a concordância com a afirmativa foi de 79%.
Saudade do calor humano
Entre os entrevistados, 42% declararam que estão sentido falta de entretenimento e diversão como consequência do fechamento das atividades culturais. Na pesquisa anterior, o índice era de 38%. O que mais faz falta no fechamento das atividades de cultura, segundo 41% dos entrevistados, são as interações com outras pessoas. O índice dobrou em relação a 2020, que alcançava 20%.
A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha também perguntou aos participantes qual a atividade cultural que eles mais sentiram falta durante a pandemia. Eles deveriam selecionar três atividades preferidas em uma lista, e o cinema foi disparadamente o mais lembrado, por 67% dos entrevistados. A seguir vieram apresentações artísticas (32%), bibliotecas (21%), atrações infantis (20%) e centros culturais (17%).
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta, Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, atestou que o ambiente virtual deve se estabelecer como um espaço para atividades da cultura. Para ele, é uma tendência que veio para ficar.
— Isso é determinante. Os produtores e artistas precisam estar prontos para receber as pessoas, já que aumentou a vontade do público de ter contato físico, mas não diminuiu o desejo de permanecer no virtual. Esse será um grande desafio para o mundo da arte e da cultura — destacou Saron.
O levantamento ouviu 2.276 indivíduos em todo o país, entre os dias 10 de maio e 9 de junho. Foram entrevistados homens e mulheres, com idade entre 16 e 65 anos, integrantes de todas as classes econômicas.