Apesar de sentir a ausência das reações e dos aplausos da plateia, Lilia Cabral se rendeu ao teatro online e está de volta, após um hiato de cinco anos, com a peça "A Lista", de Gustavo Pinheiro e direção de Guilherme Paiva. Depois de quarenta anos de carreira, esta será a primeira vez que a atriz divide a cena com a filha, Giulia Bertolli. A montagem, que será transmitida nesta quinta-feira, 5, às 20h30, pela internet, faz parte do projeto "Palco Instituto Unimed BH em Casa", que está na segunda temporada. "Eu estava sedenta de pisar no palco, porque estava fazendo muito cinema, novela e não tinha mais tempo. Então, estar no palco, mesmo sem plateia, a gente tem que pensar: ' isso que eu tenho. E graças à Deus estou aqui'", declarou a atriz em entrevista ao Estadão.
"A Lista" conta a história da aposentada Laurita, interpretada por Lilia Cabral, que mora sozinha em um apartamento, em Copacabana, no Rio de Janeiro, evitando se contaminar com o vírus que assolou o mundo da noite para o dia. A jovem Amanda (Giulia Bertolli) é quem abastece a casa da vizinha. O encontro das duas desencadeia um turbilhão de sentimentos, lembranças e descobertas.
Em maio, quando elas receberam o texto da peça, ninguém imaginava que o novo coronavírus durasse tanto tempo. "Tudo o que a gente pensava era: 'Como vamos adaptar esse texto, pois em setembro, outubro, novembro as coisas estarão diferentes. E não estão, né? (risos). A gente tinha muito cuidado para não deixar tão evidente a história da pandemia. Se bem que isso é só um pano de fundo para contar sobre a solidão dos dois personagens", afirma.
Isolada com o marido e a filha desde o início da pandemia, Lilia Cabral percebe que usou o período de quarentena para ressignificar, inclusive, a carreira. "O teatro me ajudou a resgatar uma coisa muito legal que é o começo da vida profissional. Agora (na pandemia), não tinha mais as pessoas ao redor fazendo as coisas. Quando a gente começa, vai lá e carrega o cenário, a roupa. Isso é o reconhecimento do que é o nosso ofício através de uma atitude muito simples. Então, isso me ajudou muito. Eu e toda a equipe estávamos pensando da mesma forma, como se tivéssemos 20 anos de idade, iniciando a nossa vida. Comecei a dar valor às coisas simples", reflete.
Além da reflexão, durante uma arrumação em casa na quarentena, Lilia Cabral achou alguns diários que escrevia quando tinha 15 anos de idade. "Eu adorava escrever, achava até que ia ser jornalista, mas gostava mais de me exibir", brinca. Ao reler aquelas páginas escritas na juventude, sentiu vontade de colocar os sentimentos no papel novamente e percebeu o quanto precisava voltar para a terapia. "Reescrevendo me deu vontade de procurar a minha analista. Eu tinha parado de fazer análise por muito tempo em função do trabalho. Então, pensei que poderia entender melhor sobre a minha vida e o meu momento", diz a atriz, provando que autoconhecimento é para toda a vida.