Convidado desta quarta-feira (30) do Fronteiras do Pensamento, o psicólogo social americano Jonathan Haidt traçou um panorama sobre a sociedade contemporânea, com foco em questões como por que tomamos as decisões que tomamos e sobre o papel da família nas gerações atuais e futuras. Fugindo ao formato tradicional das conferências do evento, a apresentação de Haidt foi conduzida na forma de uma entrevista, com predominância de perguntas formuladas pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, atuando como mediador, e também algumas questões do público, que acompanhou tudo virtualmente.
A apresentação foi marcada por alguns problemas técnicos, que levaram à interrupção da transmissão em determinados momentos. Durante suas considerações, conduzidas pelas perguntas de Pondé — conforme a organização, uma solicitação do próprio Haidt, para possibilitar um formato mais dinâmico e de maior participação do público —, o psicólogo americano traçou algumas das ideias que marcam sua obra e o levaram a ser nomeado um dos melhores pensadores globais, em 2012, pela revista Foreign Policy e, em 2013, pela revista Prospect.
Para Haidt, é comum que cada geração que surja teça críticas às gerações seguintes, enquanto as mais recentes também acabam se afastando da dinâmica social das anteriores. Não é novidade, explicou o psicólogo, que os pais e avós, pensem, hoje, que as crianças deveriam ser mais como eles foram em suas épocas – o que, contudo, não representaria uma evolução do ser humano.
— Podemos nos preparar para o conflito ou podemos nos preparar para o aprendizado — resumiu ele.
Incitado por Pondé, Jonathan Haidt também falou sobre a superproteção materna e paterna nas famílias atualmente. O filósofo brasileiro questionou Haidt sobre pais para quem qualquer rabisco infantil na parede já os faz pensar que a criança será o próximo Picasso:
— Eles querem ver os filhos, às vezes, como gênios, e aí acabam superprotegendo. Por que os pais querem preparar o caminho para os filhos em vez de preparar os filhos para o caminho? Não estou aqui para criticá-los, mas para fazer algumas observações sobre como eles enxergam de forma diferente as coisas — detalhou o psicólogo social.
Haidt ponderou que, no mundo atual, é natural criar os filhos temendo que eles possam se machucar em diversas situações.
— Mas talvez não seja o ideal incentivá-los a não correr diversos riscos — explicou o psicólogo, citando exemplos de locais voltados a crianças no Reino Unido que já estariam introduzindo certa possibilidade de as crianças precisarem, por si mesmas, tomar cuidado para não se machucarem.
Retardo da vida adulta
O convidado do Fronteiras do Pensamento mencionou ainda o conceito de um "retardo da vida adulta" que tem sido marcante nas gerações mais atuais, segundo ele, e levada a cabo por um período mais prolongado de infância.
— Isso vem ocorrendo desde a década de 1990. Há 100, 200 anos, crianças com 13 anos já trabalhavam. Então a ideia de que há o adolescente e o jovem adulto é um processo histórico... não estou dizendo que isso é ruim, mas a idade em que os jovens experimentam algo ou saem para namorar, por exemplo, ou conseguem seu primeiro emprego, vem aumentando consistentemente — definiu ele.
Questionado sobre qual seria o primeiro grande passo que a humanidade precisa tomar para se reinventar, uma pergunta que tem pautado esta edição do Fronteiras do Pensamento, Haidt aparentou surpresa — como aconteceu em diversas momentos de sua participação, indicando pouco tempo de preparação para dar conta das respostas no formato de entrevista escolhido. Depois de uma interrupção na transmissão impossibilitar que sua resposta fosse acompanhada, a pergunta foi repetida e Haidt recomendou que é preciso que haja exposição à vasta diversidade da humanidade, com todas as suas possibilidades e variedades.
— Isso é algo que uma boa educação conseguiria fazer. Mas (a ideia de) se reinventar é um pouco ambiciosa, e até assustadora — afirmou o americano.
Além do streaming ao vivo com possibilidade de reprise, cada conferência tem uma aula preparatória, entrevistas exclusivas e vídeos posteriores com comentários e análise dos mediadores sobre a apresentação, enriquecendo assim a experiência do projeto. Sob o tema Reinvenção do Humano, o ciclo de conferências receberá até dezembro Paul Collier, Timothy Snyder, Alain Mabanckou, Andrew Solomon, Fritjof Capra e Isabela Figueiredo. A palestra inaugural com Solomon, cancelada por problemas técnicos, foi reagendada para 11 de novembro.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio da Unimed Porto Alegre, Hospital Moinhos de Vento e Gerdau, empresa parceira Unicred RS, universidade parceira UFRGS, apoio educacional Colégio JPSul e promoção Grupo RBS.