SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Zuenir Ventura, referência do jornalismo e autor de obras como "1968 - O Ano que Não Terminou", diz ter levado um forte choque com a notícia da morte do escritor Rubem Fonseca, nesta quarta (15): "O Brasil perde um de seus melhores escritores, romancistas, contistas, e eu perdi um amigo de mais de 50 anos."
"Não consigo nem imaginar o Zé Rubem morto. Ele tinha essa coisa bipolar, era ao mesmo recluso, nao dava entrevista nem foto, e no plano pessoal era uma pessoa divertidíssima, um moleque."
Ele logo de cara lembra de quando os dois estavam em Havana, capital cubana, para participar do júri do prêmio Casa de las Américas nos anos 1990. O amigo era tão divertido que rapidamente lhe deram um apelido: comandante Fonseca.
"E ele foi apresentado a Fidel [Castro] assim, como comandante Fonseca. E ele disse, já ouvi falar nele."
Na mesma viagem, Zuenir guarda a imagem de Fonseca, após fazer uma palestra para 300 pessoas, descer as escadas do palco lendo em voz alta um conto seu, com alto teor pornográfico. "Parecia um artista. Você não ficava sério do lado do Zé Rubem."
O amigo conta que uma vez perguntou a Fonseca qual era seu problema com a fama, que o tornava um conhecido recluso mesmo sendo uma pessoa tão divertida no privado.
O escritor retrucou que o aterrorizava ser como um Chico Buarque da vida, que as pessoas perseguem num passeio trivial de bicicleta. Imaginava que gente assim sofria muito.
Ele passeava bastante, de todo modo, pelo Leblon. E uma vez, conta Zuenir, começou a passar mal e se sentou. Uma senhora se aproximou dele para ajudar e perguntou: "Você não é o Rubem Fonseca?" Ele confirmou.
"Imagina essa senhora chegando depois em casa", disse Fonseca ao amigo, "e dizendo ao marido, encontrei o Rubem bêbado na sarjeta?"