O ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, criticou publicamente a atriz Regina Duarte, secretária especial da Cultura, por ter usado o termo "facção" em uma entrevista ao Fantástico, da Globo.
"O presidente valoriza a Cultura, que deve se espelhar na família tradicional e nos princípios cristãos. Nosso governo tem um norte: a vontade da maioria do seu povo. Nisso Regina e Bolsonaro devem estar juntos. São seus ministros e secretários que devem se moldar aos princípios publicamente defendidos pelo presidente da República, não o contrário. O uso do termo 'facção' em entrevista, sem nomear seus supostos integrantes, dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis em nosso governo", escreveu Ramos, em sua conta do Twitter, nesta segunda-feira (9).
Questionado pelo jornal Folha de S.Paulo sobre os motivos que o levaram a fazer publicamente a declaração, ele reconheceu que foi uma chamada de atenção.
— Sim, ela tem que saber que qualquer declaração repercute — afirmou Ramos.
Nos bastidores, aliados do general afirmam que se trata de uma tentativa dele de se aproximar da ala mais ideológica do governo. O grupo ideológico, liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC/RJ) está incomodado com a ampliação de espaço de militares no governo. Eles cobram que essa ala passe a defender publicamente o presidente.
Em sua primeira entrevista como integrante do governo de Jair Bolsonaro, Regina disse que há uma "facção" que deseja ocupar o seu lugar.
— Quer que eu me demita, que eu me perca. Já tem uma hashtag #ForaRegina. Eu nem comecei! — disse a secretária ao Fantástico, em entrevista veiculada no domingo (8).
Ao romper seu contrato de mais de 50 anos com a TV Globo, a atriz havia acertado que seria para a emissora sua primeira entrevista como secretária.
Na sequência de publicações feitas em sua conta do Twitter, Ramos disse que todos da equipe de Bolsonaro devem seguir a orientação ideológica do presidente. "Devemos trabalhar todos pelo mesmo objetivo, seguindo a orientação político-ideológica do nosso presidente e defendendo os valores e convicções do povo brasileiro", escreveu.
Ramos é um dos principais conselheiros de Bolsonaro e foi também um dos principais responsáveis por levar Regina ao governo. Em seu discurso de posse, na semana passada, a atriz disse que o chefe da Secretaria de Governo foi seu principal incentivador para que ela aceitasse o cargo.
Também nesta segunda, o termo "facção" foi alvo de críticas por parte do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Ele publicou no Twitter um comentário irônico dirigido a Regina. "Bom dia a todos, exceto a quem chama apoiadores de Bolsonaro de facção e o negro que não se submete aos seus amigos da esquerda de 'problema que vai resolver'", disse Camargo.
Durante uma entrevista ao Fantástico, Regina reconheceu divergências com o presidente da fundação, subordinada à sua secretaria, e disse que ele era "um ativista, mais do que gestor público".
— Estou adiando esse problema porque essa é uma situação muito aquecida — disse Regina, sobre a posse de Camargo.
Um dia antes de a secretária assumir, Camargo replicou uma mensagem de Bolsonaro no Twitter em que ele aparece ao lado do presidente. Na sequência, escreveu que estava garantido no posto. "Informo para que não restem dúvidas. Estou confirmadíssimo na presidência da Fundação Cultural Palmares, com respaldo do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio. Obrigado pelo apoio. TMJ!", escreveu.
A assessoria de Regina Duarte informou à Folha que não há ainda uma previsão de encontro entre eles e que Camargo ainda não procurou a secretária. A equipe de Regina também nega que o governo tenha sido pego de surpresa com sua entrevista à Globo e que Bolsonaro estava ciente sobre o que ela falaria.
Na primeira semana de gestão, a atriz exonerou nomes ligados à ala olavista do governo e enfrenta agora resistências pelas mudanças promovidas. Na entrevista ao Fantástico, ela disse que "exonerações são necessárias":
— Eu quero ter uma equipe na qual eu possa confiar — disse.
Entre as exonerações oficializadas, está a de Dante Mantovani, da Funarte, a Fundação Nacional de Artes, que é aluno do guru de Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, membro da Cúpula Conservadora das Américas, e já fez declarações ligando o rock ao satanismo.