Com mais de 30 anos de estrada, e dono de sucessos que marcaram o rock gaúcho e nacional, como Infinita Highway, Refrão de Bolero, Piano Bar e Somos Quem Podemos Ser, Humberto Gessinger podia colher os louros do sucesso conquistado ao longo de três décadas, fazendo aquele show "certeiro", enfileirando hits, sem acrescentar nada novo ao seu repertório. Mas, inquieto, o gaúcho, 55 anos, segue colocando energia no lançamento de discos com faixas inéditas, e faz questão de as colocar nos shows. A simbiose com os fãs parece dar certo, pois canções como Insular e Recarga, do disco Insular (2013), entraram com força no repertório do cantor.
Pois é com esta pegada que Humberto faz o show nacional de lançamento de sua nova turnê, baseada no disco Não Vejo a Hora, neste sábado (nove), em Porto Alegre e neste domingo (10), em Novo Hamburgo. Além dos sucessos, o músico mostrará aos fãs as faixas do novo trabalho, como Partiu, Bem a Fim e Um Dia de Cada Vez. Em entrevista por telefone, o gaúcho fala sobre a expectativa de estrear a turnê na Capital, sobre sua relação com o Auditório Araújo Vianna e sobre o desafio de lançar músicas inéditas, tendo tantos hits, que poderiam lhe deixar na "zona de conforto".
Qual tua expectativa em estrear uma nova turnê em Porto Alegre? Mesmo com tantos anos de carreira, dá frio na barriga, incerteza?
Turnê nova é sempre renascer, tem aquela expectativa grande, aquela incerteza gostosa, que faz com que seja um show especial. Nesse show, tu ainda não tem experiência em relação ao material (que estará entregando ao público). Por outro lado, tu ganha muito na novidade, e faz um show quase como um espectador, sacando as reações das pessoas. Faz muito tempo que não lanço um show em Porto Alegre, pois estava lançando meus discos em outros Estados. Já vinha colocando algumas canções do disco novo (nos shows anteriores), mas, agora, colocarei um conjunto maior dela, ao todo, tocarei sete faixas do novo disco, e ainda será a estreia do novo cenário. Então, isso faz com que essa experiência seja mais particular, me faz lembrar do meu início de carreira, quando eu fazia todos os shows de lançamento dos meus discos em Porto Alegre.
Além da estreia, será a primeira vez que o teu power trio tocará com o teu trio acústico. Como funcionará isso?
Será um show mais longo, com dois sets. Eu abro o show com o trio acústico. Depois, tem uma transição para o power trio, sem que o show seja interrompido, esse é um desafio, tem uma musica que faz a passagem de um set para o outro. Eu vejo se como se fossem dois dois tipos de pintura, como se o trio acústico fosse um desenho feito com lápis de cor e o power trio fosse uma tela pintada a óleo. Então, dá a sensação de proximidade, no início do show e, depois, entra a coisa mais potente do trio. É uma coisa que desde o início esteve presente no meu trabalho, desde o disco Longe Demais das Capitais (1986). E, no bis, que tem rolado sempre, a gente se junta num quinteto e vira tudo uma festa.
E qual tua relação com o Auditório Araújo Vianna?
A coisa que mais me orgulha na minha carreira é o fato de, na minha cidade, já ter tocado em todo os tipos de lugares, dos maiores ginásios aos menores bares. Esses dias, eu até estava fazendo pesquisa sobre os locais que toquei nos primeiros discos do Engenheiros, em teatros, como o (extinto) Teatro Presidente, o Teatro do Sesi, o Teatro do Bourbon Country. Depois, vieram vários shows no Opinião. Mas o Araújo e um lugar especial, que me vejo como fã, assistindo shows coletivos, na minha adolescência. Ali, está mais misturado o Humberto músico com o Humberto fã, pois, muitas vezes, eu estive naquele palco, já lancei três discos discos no Araújo e já estive naquela arquibancada. É como se eu saísse de mim mesmo, e visse meus dois lados. E tem uma coisa interessante: com a velocidade que as coisas estão se transformando, é raro que um espaço como esse permaneça, que tu possa dizer: "toquei aqui em 1985 e toco em 2019". É mais um lance que reflete um caráter especial dessa noite pra mim.
Na tua carreira solo, tu vem conseguindo lançar canções inéditas que tiveram boa recepção, e que entraram bem nos shows. Como é desafio para um artista cheio de hits, como tu?
Eu acho que o grande desafio para um artista longevo, como eu, é mixar tudo que ele fez, e tenho muito orgulho do que fiz, com o que ele está fazendo atualmente (de inédito). Acho que tenho conseguido manter esse balanço. Mas têm algumas coisas que a gente se esquece, não se trata só de uma renovação do meu trabalho. Paralelamente a isso, há uma renovação do meu público, tem uma molecada que vai ao meu show pela primeira vez. Então, tem uma renovação dos dois lados.
Por outro lado, se tu relaxar um pouco, tu começa a enxergar isso como uma coisa bacana, no sentido de que, da primeira música do Longe Demais das Capitais (primeiro disco dos Engenheiros, lançado em 1986) e a última do Não Vejo a Hora (o mais recente da carreira solo) parece uma única grande canção, com várias partes. É assim que eu vejo a minha trajetória.
Eu acho que o grande desafio para um artista longevo, como eu, é mixar tudo que ele fez, e tenho muito orgulho do que fiz, com o que ele está fazendo atualmente (de inédito).
E tu tens feito a "união" de canções novas e antigas...
Com o tempo, comecei a fazer coisas como, por exemplo, juntar músicas como Infinita Highway, de 1986, com Até o Fim, que é de 2003, que são músicas que têm dois olhares sobre o mesmo tema, né? E a mesma coisa acontece, por exemplo, com Insular e Ando Só, música de épocas diferentes. Acredito que as próprias músicas acabam virando peças para se montar um mosaico diferente a cada noite. As músicas dialogam entre si, esse é um dos grandes baratos de ser um artista longevo, ver as músicas dialogando. Se há arte que o tempo é determinante é a música. A música é feita de tons e tempo e esse tempo pode ser os 30 segundos de um solo de guitarra ou os 30 anos de uma carreira. E é bacana ver esse vários ciclos de tempo, do maior ao menor, coexistindo numa noite, num espetáculo.
Tu enxerga similaridade nas tuas composições, mesmo com tanto tempo entre o lançamento de uma e outra?
Sim, vejo semelhanças nas composições. Desde criança, as pessoas na minha volta me achavam muito maduro, não sei se isso é um elogio ou não, enfim (risos). Mas desde cedo, eu sabia bem o que eu queria, o que eu podia fazer em termos de composição. O que acho que mudou muito, hoje em dia, é a minha relação com a performance. Hoje, eu sou um músico muito melhor e mais ciente do que é o meu oficio. Sobre as composições, acredito que desde cedo eu já fazia o que faço até hoje. E, pelo que sinto da reação das pessoas sobre o meu trabalho, para elas, segue fazendo sentindo as coisas que eu escrevia muito tempo atrás.
Serviço
Humberto Gessinger lança novo disco em duas noites. Neste sábado (nove), no Auditório Araújo Vianna, Avenida Osvaldo Aranha, 685, às 21h, com ingressos entre R$ 90 e R$ 190 (ingresso solidário, mediante a doação de um quilo de alimento não perecível), à venda neste site.
Em Novo Hamburgo, o show será neste domingo (10), no Teatro Feevale, RS-239, 2755, Campus II, às 20h, com ingressos entre R$ 100 e R$ 200, à venda em uhuu.com.