TURIM, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - O lançamento do novo romance de Elena Ferrante na Itália foi aguardado com ansiedade pelos fãs. Muitos deles se reuniram na noite de quarta (6) em livrarias e clubes de leitura para esperar o início das vendas, a partir da meia-noite.
A "Ferrante Fever", como foi chamada nas redes sociais, inspirou vigílias em ao menos sete cidades, incluindo Roma, Milão, Nápoles e Turim. Leitura de trechos, exibição de filmes, testes de conhecimento e aperitivos distraíram os participantes, que só queriam mesmo colocar as mãos em "La Vita Bugiarda degli Adulti" (a vida mentirosa dos adultos).
Na Itália, a chegada do livro significou o fim de um intervalo de cinco anos sem romances, após o quarto e último volume da série napolitana, "A História da Menina Perdida".
Os quatro títulos que acompanham a vida das amigas Lenu e Lila transformaram a autora em uma best-seller, com mais de 12 milhões de cópias vendidas em 50 países. Na Itália, a tetralogia vendeu 1,5 milhão de exemplares, número que atingiu 2 milhões nos Estados Unidos.
Alguma ansiedade dos leitores era de se imaginar, mas a expectativa foi devidamente estimulada pela editora que publica Ferrante na Itália.
No começo de setembro, a Edizioni E/O anunciou nas redes sociais a data de lançamento e o primeiro parágrafo do livro, imediatamente replicados. No fim de outubro, revelou o título e a capa. Na terça (5), liberou que os principais jornais soltassem suas resenhas.
As vigílias para o lançamento foram o último capítulo dessa campanha. A editora apoiou a "Ferrante Night" em Turim, no norte do país. Foi o primeiro evento do tipo anunciado para a pré-venda, em seguida replicado por clubes e livrarias de outras cidades.
Na sede do Círculo dos Leitores de Turim, em um palácio do século 17 no centro da cidade, cerca de cem fãs se reuniram na noite de quarta (6). Os primeiros começaram a chegar por volta das 21h, uma hora antes do início do evento.
Diante da sala cheia, com maioria de mulheres, os escritores Martino Gozzi e Nicola Lagiola leram trechos do novo romance e discutiram aspectos da obra da autora.
"Será que Elena Ferrante está aqui?", perguntou Gozzi. A autora assina seus livros com pseudônimo e até hoje sua identidade não foi revelada. Risos e olhares entre a plateia.
Lagiola, que também é diretor do Salão do Livro de Turim, o maior do país, atiçou novamente o público. "Quero chamar a atenção para um fato: o novo livro tem 326 páginas e 'A Amiga Genial' tem 336 páginas", disse, insinuando que o novo romance pode ser o início de outra saga. A frase final, de fato, deixa o caminho aberto para uma continuação.
Em seguida, tentou explicar o fenômeno que ela se tornou. Para ele, a principal razão do sucesso é a "força enorme" dos personagens. "Ela nos faz participar das dores dos personagens e, com isso, nos faz reconhecer e restituir as nossas próprias dores", disse Lagiola.
Antes, em conversa com a repórter, ele também tinha formulado razões por trás da "Febre Ferrante". "Ela consegue manter uma complexidade literária e ao mesmo tempo ser muito legível. E, diferentemente de muitos livros de sucesso, tem a coragem de não ser otimista."
Diante da expectativa pelo primeiro romance após cinco anos, ele acredita que o anonimato tem contribuído para que Ferrante se mantenha consistente.
"Não é fácil escrever um livro depois de um enorme sucesso, como a série napolitana. Mas Ferrante é muito sólida. E, inclusive, o anonimato fez bem, foi uma escolha corajosa", disse. "Frequentemente se diz que o anonimato ajudou a vender livros. Mas acho que isso foi o que a permitiu trabalhar melhor nesses anos."
Após uma hora de bate-papo, os escritores convidaram, mais de uma vez, o público a interagir com perguntas ou opiniões. Silêncio total entre a centena de pessoas.
Sem mais como prolongar, a dupla encerrou a conversa e anunciou o início das vendas. Apressados, os fãs deixaram a sala, formaram fila e começaram a comprar o livro, antes mesmo da meia-noite.