Nova York – Quando Leonardo Drew foi convidado pelo Madison Square Park Conservancy para fazer sua primeira obra pública ao ar livre, ele percebeu que não poderia competir com o Empire State e outros arranha-céus em torno desse oásis urbano próximo da Quinta Avenida.
"A cidade é um monstro!", exclamou Drew, conhecido no mundo da arte por suas instalações dinâmicas feitas com materiais tratados, como madeira queimada, que parecem irromper do chão rumo ao teto das galerias.
Em seu estúdio caótico no Brooklyn, onde relevos esculturais se projetam das paredes, Drew, de 58 anos, estava em constante movimento, aplicando carvão vegetal em um trabalho durante toda a conversa. Ele contou como eliminou uma série de conceitos para o parque, incluindo "a explosão de uma árvore com partes voando", que poderia oferecer perigo com o vento forte. Por fim, acabou reorientando seu centro de gravidade para o chão, com a proposta: "E se você fosse Gulliver olhando para Lilliput?"
É possível se sentir como um gigante em uma terra em miniatura em "City in the Grass", de Drew, inaugurada em junho e que convida os visitantes a vagar por tudo. Ocupando mais de 30 metros por 9 no Oval Lawn, um mosaico topográfico de blocos de madeira – com base em fotografias de Nova York tiradas de um avião –, repousa sobre uma estrutura de alumínio ondulante. A areia colorida adere ao metal em padrões que evocam um gigantesco tapete persa em movimento.
"Os tapetes persas mais bonitos têm um ar de gastos, usados", disse Drew, que propositadamente deixou buracos para que a grama apareça. Torres surgem do projeto, com quase cinco metros de altura, lembrando as ilusões cinematográficas em "Metrópolis" e "O Mágico de Oz".
"As cidades podem ser lugares de grande inspiração, mas também de grande difamação, e essa complexidade está neste projeto", disse Brooke Kamin Rapaport, diretora adjunta e curadora do Madison Square Park Conservancy.
"Acho que ele está conjurando ideais de felicidade doméstica – o conforto e a estabilidade que um tapete denota", disse ela. Mas "o tapete de Leonardo está propositadamente cheio de vazios. Ele está confrontando a promessa e o compromisso da vida em um lar".
O uso que Drew faz da cor vibrante é uma consequência de sua experimentação com porcelana e esmaltes na China. Ao longo de sua carreira, o artista desenvolveu técnicas para enferrujar, manchar, cozinhar, corroer e queimar seus materiais, mas essa é a primeira vez que o público, o vento e a chuva vão modificar sua arte.
"Eu adoraria que a obra fossa usada, porque meu trabalho fala sobre uma história do desgaste de nossa jornada neste planeta – o ciclo de nascimento, vida, morte e regeneração", disse Drew, cujas esculturas estão nas coleções do Museu de Arte Americana Crystal Bridges, no Arkansas, no Museu e Jardim de Esculturas Hirshhorn, em Washington, D.C., e no Museu Metropolitano de Arte em Nova York. "A peça estará em outro nível de beleza, caso tenha permissão para sobreviver."
Nascido em Tallahassee, Flórida, e criado em Bridgeport, Connecticut, ele encontrou beleza em objetos gastos que salvou do lixão da cidade, em frente à casa de sua infância. Um de cinco meninos criados em habitações populares por uma mãe solteira, ele se lembra de enfurecê-la com seus desenhos em todas as paredes e na tela do aparelho de televisão. "Eu era maluco", disse ele, acrescentando que sua avó o incentivava dando-lhe materiais de arte para concentrar suas energias.
Aos 13 anos, Drew fez sua primeira exposição em um banco em Bridgeport. No estúdio, ele desenterrou uma fotografia publicada no jornal local mostrando-o com uma expressão desamparada, vestindo um casaco onde faltava um botão, em pé ao lado de uma de suas virtuosas telas de super-herói. "O fotógrafo estava rindo porque ele viu as ramificações políticas do garoto pobre pintando um Capitão América em tamanho real", disse Drew.
"Leo era um prodígio", disse Mary Sabbatino, vice-presidente e parceira da Galeria Lelong em Nova York, onde Drew faz uma exposição que irá até julho (e onde seus trabalhos são vendidos por até 600 mil dólares). Quando o artista se inscreveu na Escola de Design Parsons, em Nova York, Sabbatino trabalhava lá como conselheira de admissão. Ela ainda se lembra de seu portfólio.
"É muito fácil quando você tem talento na juventude e pode usar o que sabe. O que é notável é que Leo está sempre tentando um novo campo."
Na Parsons, ele adotou a linguagem da abstração, completando seu bacharelado em artes em 1985 na Cooper Union for the Advancement of Science and Art, em Nova York, onde o escultor Jack Whitten foi seu professor e uma inspiração. Whitten, que morreu no ano passado, emprestou seu estúdio a Drew em 1992 para a montagem de uma obra monumental feita de fardos de algodão cru, um material simbolicamente carregado de história da escravidão. O trabalho foi aclamado na primeira exposição solo de Drew em Nova York naquele ano na Thread Waxing Space e agora está na Rubell Family Collection, em Miami.
O pintor Odili Donald Odita, que veio para Nova York na década de 1990, recém-saído da escola, achou o trabalho de Drew uma revelação. Ele disse que Drew foi capaz de transformar a linguagem do minimalismo de um espaço puramente formal para um espaço social – "especificamente na experiência afro-americana e na diáspora negra", disse ele.
As pessoas gostam de acreditar que fiz um monte de obras com algodão, mas você só tem de fazer isso uma vez. Assim que faço algo bem feito, procuro passar para a próxima coisa.
LEONARDO DREW
artista
Drew há muito tempo resiste ao uso de um material ou de um estilo característicos. "As pessoas gostam de acreditar que fiz um monte de obras com algodão, mas você só tem de fazer isso uma vez. Assim que faço algo bem feito, procuro passar para a próxima coisa."
Depois de anos fazendo instalações patinadas escuras, a exploração de cores vivas no parque influenciou a enorme peça central em sua exposição atual na Galeria Lelong e Co., em Nova York. Para isso, ele pintou folhas da madeira compensada com areia policromada em padrões de tapetes persas e então lascou a madeira, criando um ciclone visual.
"Vulgarizei e abstraí completamente o motivo do tapete", disse o artista.
Ele vai completar encomendas para o Aeroporto Internacional de San Francisco e para a sede do Facebook em Menlo Park, Califórnia, este ano. Por enquanto, pretende ver como os visitantes respondem à "City in the Grass", acreditando que o espectador é fundamental para a conclusão de suas obras.
"No fim, pode ser seu tapete voador transportando você para onde você precisa estar", acrescentou. "É isso que certamente acontece agora na minha vida."
Por Hilarie M. Sheets