NOVA YORK – No início do segundo ato de "Oklahoma!", o público é recebido com uma dança: uma jovem mulher – careca, forte e vestindo uma camisa de paetês com os dizeres "Sonhe, querida, sonhe" – aparece envolta em um nevoeiro como se fosse uma miragem.
A dançarina em questão, Gabrielle Hamilton, corre, pula e gira violentamente de um lado para o outro, até parar e encarar atrevidamente as pessoas da plateia. Sua presença, desinibida e crua, é intencional para abalar um pouco as coisas. Isso pode ser a Broadway, mas o balé dos sonhos na brilhante remontagem de Daniel Fish para "Oklahoma!" está a anos-luz do tipo de dança visto usualmente por aqui. E isso é maravilhoso.
Por que o espetáculo provocou reações tão fortes na audiência, tanto de amor como de ódio? Claramente, ele foge à norma. É angustiante e não tem medo de ser feio. E que o coreógrafo, John Heginbotham, não tenha sido nomeado para um prêmio Tony é um fato tanto chocante e nem um pouco surpreendente.
A parte mais frustrante dos espetáculos de dança da Broadway não é que não tenham qualidade coreográfica, mas sim o fato de que o que é excelente – "Oklahoma!" e "The Prom" – não obtém reconhecimento. Mas coisas padronizadas, ou pior, insignificantes, recebem nomeações. A principal exceção é a coreografia desafiadora de Camille A. Brown para a peça "Choir Boy".
Brown dividiu a nomeação de melhor coreografia com quatro outros profissionais: Warren Carlyle por "Kiss Me, Kate"; Denis Jones por "Tootsie"; David Neumann por "Hadestown"; e Sergio Trujillo por "Ain't Too Proud: The Life and Times of the Temptations". A cerimônia foi realizada no último domingo, dia 9, e Sergio Trujillo levou o prêmio, mas eu estava na torcida por Brown.
Como Heginbotham em "Oklahoma!", Brown traz algo de urgente e fresco para os espetáculos de dança da Broadway. É de esperar que ambas sejam oriundas do mundo da dança moderna. Elas não têm inclinações comerciais; para as duas, trabalho é trabalho, um processo íntimo entre um coreógrafo e os bailarinos. Fazem o necessário pelo espetáculo, não ilustrando ou comentando a história, mas revelando a emoção por trás da narrativa de uma maneira que as palavras ou as canções, sozinhas, não conseguiriam.
Na peça de Tarell Alvin McCraney, "Choir Boy", Brown usa o passo em que o corpo se transforma em instrumento de percussão para ajudar a contar a história de um grupo de estudantes afrodescendentes americanos matriculados em uma escola particular. Eles não se dão bem, mas, quando dançam, formam uma fraternidade e se parecem com mais do que apenas personagens; os movimentos sincronizados nos lembram da dor, mas também da dignidade, de ser um homem negro nos Estados Unidos.
Em "Kiss Me, Kate", o retorno de Carlyle ao teatro musical clássico apresenta um número longo, "Too Darn Hot". É vigoroso, mas não é original, um objeto de cena cheio de vida em um espetáculo morno; apesar de honrar a ideia da dança da Broadway com pinceladas de sapateado e jazz, parece arcaico – cheio de energia e sorrisos, mas com pouca substância.
A coreografia de "Ain't Too Proud", que conta com o ágil Jeremy Pope – também estrela de "Choir Boy" –, é perturbadoramente consistente. Aqui, Trujillo confere aos passos estilizados mais força e complexidade do que quando o grupo estava no apogeu, e funciona: seu movimento sincronizado costura as músicas com talento.
Mas a coreografia, indissociável da música, se realiza de forma intermitente; acerta o alvo, mas não tem o mesmo peso do balé dos sonhos de "Oklahoma!" ou das muitas danças de "The Prom", outra peça não nomeada ao prêmio de melhor coreografia. Nessa comédia musical deliciosa, a dança está integrada do começo ao fim por movimentos que vão do hip-hop a formas de teatro musical. Uma eleva a outra e Casey Nicholaw, diretor e coreógrafo da peça, não tem medo de ser engraçado. (Nicholaw foi indicado ao prêmio de melhor diretor.)
Em vez dela, outra comédia musical menos engraçada foi nomeada, "Tootsie". A parte mais alegre aqui parece ter se inspirado no filme "A Gaiola das Loucas", quando Robin Williams, no papel do dono de uma casa noturna, Armand Goldman, submete seu corpo a uma variedade enciclopédica de movimentos – rotação de quadris, espasmos, poses de modelo – enquanto recita referências: "Fosse, Fosse, Fosse! Você imite a Martha Graham, Martha Graham, Martha Graham! Ou Twyla, Twyla, Twyla! Ou Michael Kidd, Michael Kidd, Michael Kidd, Michael Kidd! Ou Madonna, Madonna, Madonna!"
Em "Tootsie", os corpos se agitam – de forma monótona –, seguindo uma série de instruções similares dadas pelo diretor fictício, Ron Carlisle (Reg Rogers), ao elenco: "Pulem, pulem, pulem, braço de Fosse, braço de Fosse, perna agitada, isso, troque a lâmpada." A sequência continua por muito mais tempo, mas já deu para ter uma noção, e você deve estar se fazendo a mesma pergunta: como é que tirar uma ideia coreográfica de um filme e colocá-la em um musical da Broadway sobre outro filme pode render uma nomeação ao Tony?
E, finalmente, tem "Hadestown", a releitura contemporânea do mito de Orfeu e Eurídice. O mistério desse espetáculo – que, assim como "Oklahoma!", percorreu o caminho entre o teatro mais experimental e a Broadway – é seu apelo. Quanto aos movimentos, a única performance convincente no palco é a do ator André De Shields, que é capaz de transformar o simples ato de ficar parado, de pé, em algo lindo. Quando ele anda, é como se estivesse deslizando. O homem flutua.
Os dançarinos circulam pelo palco como partes de um maquinário; a maneira como usam o peso do corpo – mesmo quando pulam ou vão de um lado para o outro do palco – é repleta de melodrama. Você sente tudo que está por vir antes de chegar.
A coreografia de "Hadestown" é assinada por Neumann, que também é conhecido pelo tempo que passou no mundo da dança moderna. Mas sua contribuição é mecânica e exagerada. Os dançarinos circulam pelo palco como partes de um maquinário; a maneira como usam o peso do corpo – mesmo quando pulam ou vão de um lado para o outro do palco – é repleta de melodrama. Você sente tudo que está por vir antes de chegar.
Como Orfeu, Reeve Carney, com os ombros elevados e os braços mantidos levemente atrás das costas, espelha a postura de Neumann quando este dançava. É perceptível que ambos trabalharam em proximidade, mas o efeito é forçado, assim como o é a coreografia para o grupo conhecido como "Workers Chorus". Esses dançarinos se esforçam tanto para ser vistos que chegam a desviar a atenção.
Esse tipo de comportamento "olhe para mim" também é visto em "Kiss Me, Kate" e "Tootsie". O que Hamilton exibe em "Oklahoma!" é diametralmente diferente: a coreografia dá a ela a habilidade de se mover como um relâmpago, mas também a de ser paciente.
Heginbotham disse ter se inspirado em comentários feitos por Agnes de Mille, que criou a coreografia original da peça em 1943. Uma vez, ao conversar com um grupo de estudantes de dança, ela declarou: "Domine seu tempo. Iniciantes sempre têm medo de se dar tempo. Eles pensam que nada está acontecendo. O tempo está transcorrendo e funciona no modo suspense. O tempo pode trabalhar a seu favor de forma tão ativa como um gesto, se você souber usá-lo."
O uso do tempo é o que faz o balé dos sonhos tão desconcertante para uns e tão instigante para outros. Na dança de Hamilton, o que presenciamos é um despertar sexual. A coreografia, irregular e sensual, interrompe corridas e piruetas com momentos de imobilidade em que esperamos até que o sangue e a respiração de Hamilton se restabeleçam em seu corpo.
Ela dança sozinha, mas, mesmo assim, a dança é cheia de toques. Hamilton acaricia o rosto e o pescoço, abrindo-se a sensações. Faz contato visual com as pessoas da plateia para depois sair em disparada. É tão rígida quanto vulnerável ao tornar públicos alguns atos privados. O solo pode parecer bagunçado, mas isso não é um problema. É uma libertação. Existe uma razão para que pareça distorcido; ela não pertence ao mesmo universo dos outros personagens da peça.
Ao mesmo tempo, ela carrega em si todos eles, incluindo, claro, Laurey, a confusa heroína dividida entre dois homens. Mas essa coreografia apresenta questões maiores: que lado do seu eu você apresenta ao mundo? Quem é você realmente?
O movimento de Hamilton dá vida ao roteiro: "Feche os olhos e inspire. Pergunte ao coração o que realmente deseja. Espere pela resposta."
À medida que a dança evolui, ela se transforma em uma espécie de desafio ao público: faça isso. E não tenha medo de fazer no seu tempo. Hamilton está abrindo o caminho. Pode não ser bonito nem confortável, mas, ao dançar no limite de um sonho, ela é o espírito de uma destemida e nova fronteira. Por favor, Broadway, vamos prestar atenção.
Por Gia Kourlas