Londres – Em uma manhã recente, Liam Byrne, tocador de viola da gamba, passeava por Charterhouse, uma mansão elisabetana no centro de Londres. O lugar estava em silêncio; o sol da primavera brilhava nas peças de decoração douradas e aquecia os escuros painéis de carvalho.
Byrne estava aqui para se preparar para um concerto, mas primeiro queria encontrar alguma coisa. Por fim, na capela do século XVI da mansão, localizou uma placa celebrando Tobias Hume, compositor de viola da gamba que foi enterrado aqui em 1645. Byrne ficou contente. "A música de Hume é incrível. Um tanto louca também."
Byrne, de 36 anos, é considerado por muitos como o principal tocador de viola da gamba de sua geração, especializado em um repertório obscuro e líder na cena de música antiga europeia. Mas sua aparência – barba hipster, cabelo bem curto, roupa preta, tênis – pode sugerir algo um pouco mais ousado. Se não fosse pela caixa do instrumento atrás dele, você poderia confundi-lo com um promotor de festivais ou com um mestre cervejeiro. Uma tatuagem em seu braço esquerdo retrata a passagem sonora de sua viola da gamba favorita.
Além disso, como músico, Byrne se diverte ao desafiar a imagem que se espera de alguém cujo instrumento teve seu auge quando Elizabeth I estava no trono inglês.
Embora o repertório renascentista e barroco seja sua base, Byrne leva a música – e o público – a lugares surpreendentes. Em 2015, no interior de uma imensa escultura de gesso no Museu Victoria e Albert, ele se apresentou para uma pessoa de cada vez, ao estilo Marina Abramovic. Dois anos depois, participou de uma reinterpretação do ciclo de canções de Schumann, "Dichterliebe", na cozinha de uma casa histórica, com a artista Mara Carlyle, que cantou e tocou serrote musical.
O evento para o qual Byrne se preparava em Charterhouse era tanto performance quanto concerto: uma versão de "Long Phrases for the Wilton Diptych", de Nico Muhly, que foi escrita para Byrne em 2015. Originalmente uma instalação de som pré-gravada apresentada na National Gallery em Londres, aqui ele a apresentou juntamente com eletrônica processada ao vivo.
Seu álbum de estreia, "Concrete", mistura um conjunto eclético de ingredientes. Uma peça graciosa do mestre de viola da gamba francês do alto barroco, Marin Marais, é antecedida e seguida por dois trabalhos de Muhly. Os trabalhos ambientais do compositor/produtor contemporâneo islandês Valgeir Sigurdsson estão ao lado de seu contraponto renascentista de cinco partes em que, por meio da magia do multitracking, Byrne toca todas as frases.
O minimalismo de Nova York, a polifonia renascentista e o R&B do início dos anos 90. Essa é a única música de que você precisa.
LIAM BYRNE
músico
"Gosto de encontrar conexões", disse ele, descrevendo como suas três influências musicais mais formativas foram o compositor norte-americano Steve Reich, o compositor inglês Orlando Gibbons e o grupo de meninas TLC. Ele sorriu. "O minimalismo de Nova York, a polifonia renascentista e o R&B do início dos anos 90. Essa é a única música de que você precisa."
"Liam é infinitamente curioso", disse Muhly em uma entrevista por telefone. "Ele tem um grande respeito pela história, mas não a trata como um objeto sagrado em uma caixa de vidro."
No ensino médio em Raleigh, na Carolina do Norte, Byrne, que nasceu em Nova York, percebeu que a música era seu negócio. (Ele agora vive em Londres e Berlim.) Seu instrumento na época era o contrabaixo, mas, quando chegou ao departamento de música na Universidade de Indiana e ouviu um concerto de viola da gamba com Wendy Gillespie, ficou deslumbrado.
Inspirado pelo timbre do instrumento e por sua capacidade de ir da melancolia lúgubre às acrobacias ao estilo de Coltrane, Byrne começou a fazer aulas com Gillespie. Ele mudou para a viola da gamba alguns meses depois.
"Parecia ser minha voz", disse ele.
A viola da gamba é um dos instrumentos de cordas friccionadas mais velhos da música ocidental. Descendente distante do rebab árabe, seu nome vem do italiano ("gamba" significa "perna"), uma referência ao fato de que é tocado como um violoncelo, entre as pernas. Embora a mais comum seja a viola baixo, ela também vem em outros tons e tem seis ou sete cordas. Estas têm o som mais agudo que o violoncelo moderno, dando ao instrumento seu tom velado – razão pela qual saiu de moda no século XVIII.
"Está entre um violoncelo e um violão. E tem uma melancolia incrível e inata", disse Byrne.
Seus primeiros passos foram bastante convencionais: acampamentos de verão com a Sociedade Americana de Viola da Gamba, mestrado em Oxford estudando com a renomada musicóloga Margaret Bent, e shows com grupos especializados no instrumento: Fretwork, Phantasm e Concordia.
Mas, em 2011, Byrne se convenceu de que tinha mais a dizer quando foi procurado por Damon Albarn, ex-membro da banda Blur, que estava criando uma ópera pop sobre a vida do alquimista elisabetano John Dee e buscava especialistas em instrumentos do período. Byrne tocou e também acabou compondo para a peça. Animado com a experiência, que também incluiu o trabalho com o baterista afrobeat Tony Allen, ele resolveu misturar suas próprias composições.
Desde então, Byrne fez mais do que talvez qualquer outro músico vivo para tirar a viola da gamba do sótão da música antiga. Deu shows com o violinista Cleek Schrey e passou dias no estúdio gravando com o compositor irlandês Donnacha Dennehy.
Recentemente, ficou fascinado pela interface entre o repertório histórico e a música eletrônica, apresentando-se com amplificador e software de processamento, ou improvisando com backing tracks – projetos que podem arrepiar os puristas.
"Ele fala a língua da música antiga, mas não a usa o tempo todo. Certas tradições podem acabar com você. O que é legal com o Liam é que ele se diverte e brinca com elas", afirmou Muhly.
Byrne disse: "Não faço música velha porque é velha ou música nova porque é nova. Faço porque é linda. Essa é a única razão necessária."
Por Andrew Dickson