Autor de canções que embalam as festas de Carnaval desde os anos 1960, o compositor João Roberto Kelly surgiu na folia deste ano cutucando uma grande personalidade do poder: o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, criticado por soltar políticos acusados de envolvimento em esquemas de corrupção.
Na marchinha Alô, Alô, Gilmar, lançada no início de 2018, Kelly faz rima e piada com as decisões tomadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal. "Alô, alô, Gilmar/ Eu tô em cana/ Vem me soltar/ Eu roubei, eu roubei, eu roubei/ Não estou preso à toa/ Mas no mundo não há quem escape/ De uma conversinha boa", brinca a canção.
Em entrevista ao programa Timeline na manhã desta segunda-feira (12), o compositor de 79 anos falou sobre essa marchinha e outras composições de sua autoria que, com o passar dos anos, começaram a ser vistas como impróprias. Cabeleira do Zezé, de 1963, por exemplo, é considerada desrespeitosa por movimentos sociais por questionar a orientação sexual de um homem de cabelos compridos. Já Maria Sapatão, popularizada na voz do apresentador Chacrinha na década de 1980, é tida como preconceituosa por usar do termo para definir as mulheres homossexuais.
Alguns blocos de Carnaval chegaram a tirar as marchinhas de seu repertório. Para o compositor, essas críticas são uma reação "sem sentido".
— Acho muito bobo, sem sentido nenhum. O Carnaval é a brincadeira do faz de conta. A gente se veste de homem, se veste de mulher. Acho que isso aí é pegar pesado demais. Sou contra isso aí do politicamente correto. No dia que fizerem um Carnaval politicamente correto, o Carnaval acaba — disse Kelly.
Sobre a canção criticando, ainda que com humor, as decisões de Gilmar Mendes, Kelly justifica-se dizendo que não faltou com respeito ao ministro.
— É uma grande brincadeira de Carnaval. É uma época do ano em que a gente pode brincar. Não estou faltando ao respeito. É apenas uma historinha que criei. Sei até onde a gente pode brincar.
Kelly também opiniou sobre a performance da escola Paraíso do Tuiuti, que desfilou pela Sapucaí, no Rio, com um homem fantasiado de vampiro, numa menção ao presidente Michel Temer. Para o compositor da marchinha sobre Gilmar Mendes, a relação do mandatário com um vampiro foi "exagero".
— Não há necessidade dessas coisas. Tudo na vida a gente tem que encontrar um meio termo.
Questionado se faria mais uma marchinha para uma personalidade política, afirmou que "pararia por aí", mas seguiria compondo canções para embalar o Carnaval por ser uma função que está no sangue.
— Vou fazer marcha a vida toda. Marchinha está no meu sangue, na minha alma — reforça.