Londres – Não é todo dia que você vai às compras com o Superman.
Eram dez da manhã de uma sexta-feira ensolarada em outubro, um daqueles raros dias de outono em que a capital inglesa parece ter trocado de clima com Santa Monica, na Califórnia, quando avistei Henry Cavill, o ator britânico que deixou sua marca no homem de aço para uma nova geração de cinéfilos.
Com a postura ereta de um militar, de braços cruzados, ele estava em frente à Gieves & Hawkes, a loja da Savile Row que veste a nobreza britânica desde a época do rei George III.
Foi difícil não vê-lo. Independentemente da idade, sexo ou orientação sexual, todos concordam que o sujeito é um tipão, um gostosão 99.9999 por cento super-homem. Imaginei um anúncio hipotético para a revista Variety: "Procura-se: Ator. Projeto sem título do Superman. Deve ser bonito como Ryan Gosling, charmoso como Colin Firth e tão malhado quanto qualquer jogador do ataque do Dallas Cowboys".
Ele, que mora no elegante bairro de Kensington, em Londres, estava na Savile Row procurando um terno na véspera do início da campanha publicitária de "Liga da Justiça", o filme de super-heróis estrelado por Cavill, ao lado de Ben Affleck como Batman e Gal Gadot como Mulher Maravilha.
Além do heróico topete que caía sobre sua testa, Cavill lembrava mais o protagonista romântico de um drama de época de E.M. Forster, vestindo um blazer azul royal da Cifonelli, confecção sofisticada com ares retrô, e um bigodão.
"É para meu personagem de 'Missão Impossível 6'. Eu me sinto meio estranho às vezes. As pessoas acham que sou o tipo de maluco que adora bigodões excêntricos", disse timidamente, referindo-se a seu captador de colarinho de chopp.
"Mas estou fazendo experiências com ele agora, deixando crescer mais um pouco. Por que não? Quando é que vou poder ter um bigode como este?", acrescentou brincando.
Cavill tem uma relação difícil com a fama. Durante anos, foi o quase rei dos sucessos em Hollywood. Perdeu o papel de James Bond para Daniel Craig e, para Robert Pattinson, as atuações em "Crepúsculo" e "Harry Potter e o Cálice de Fogo". Embora trabalhe constantemente desde a adolescência, ele e seus bíceps pareciam sempre estar em segundo plano.
Mas flerta com o estrelato desde que conseguiu o papel do Superman na refilmagem de 2013 de Zack Snyder, "O Homem de Aço", seguido por papéis de destaque ao lado de Armie Hammer em "O Agente da U.N.C.L.E." em 2015, e agora com Tom Cruise na mais recente versão de "Missão Impossível".
Pessoalmente, porém, Cavill se parece menos com um herói de ação de Hollywood do que com um cavalheiro inglês de antes da guerra, uma época em que um ator principal era descrito como "galante" ou "refinado" e a civilidade era algo importante.
Na Gieves & Hawkes, ele afirmou que ainda está tentando descobrir como se portar como um astro, ou até mesmo a se vestir como um.
"Sempre fui tradicionalmente inglês e gostava do corte clássico; por isso, pensava que tinha encontrado minha identidade", disse ele. Só que a simplicidade não rende muito no tapete vermelho, por isso, ultimamente, vem tentando se vestir mais como uma estrela, incluindo o blazer maravilhoso daquele dia, em um tom de azul que poderia ser chamado de elétrico. "Percebi que no mundo em que estou vivendo, sendo uma pessoa pública em Hollywood, é preciso tentar ser diferente", disse ele.
Na loja, cercado de retratos de clientes reais e nobres como o Príncipe William, ele parou diante de uma caixa de vidro contendo os uniformes cerimoniais vermelhos e os capacetes com pena de cisne dos guarda-costas da rainha.
"Esta é a razão por que eu gosto da Gieves & Hawkes; eles fazem grande parte da vestimenta militar. Os militares eram uma parte importante da alta sociedade. Se você fosse condecorado na Marinha, de repente se tornava um homem rico, porque, caso tenha capturado quatro navios franceses, estaria rolando em ouro e pedras preciosas."
Depois de uma hora procurando ternos (acabou não comprando nada), Cavill sugeriu um café em um lugar que conhecia lá por perto.
Paramos em frente a uma porta branca, sem numeração, de uma bela casa perto de Berkeley Square. A porta se abriu, revelando o Mark's Club, um retiro privado e exclusivo. "Que bela surpresa", disse a moça muito bem vestida na recepção.
"Bom te ver", respondeu Cavill alegremente.
Ele parecia muito estiloso ao se sentar em um sofá ao lado de uma lareira na sala de estar, que mais parecia a saleta de uma propriedade rural da nobreza, com seus retratos a óleo e um lustre de cristal. Mencionei que, naquele cenário, ele se parecia mais como James Bond do que com Superman.
"Quando Daniel passar o bastão, vamos ver", disse ele com um sorriso, acrescentando que não acharia difícil interpretar ambos os personagens caso a oportunidade surgisse. (Ele já possui o requisito necessário: um Aston Martin DBS prata.)
Ele certamente não esperava ser chamado de astro; afinal de contas, na escola, era gordinho; os meninos o chamavam de "o gordo Cavill".
Mesmo no começo da fama, nunca se considerou um sedutor contumaz quando estava solteiro. (Ele prefere não falar sobre seu relacionamento atual, embora os tabloides digam que está namorando Lucy Cork, dublê de 25 anos.)
"Na época das paqueras, eu não conseguia chegar e dizer ' Ei, me dá seu telefone. Legal', e depois só ligar uma semana mais tarde. Quando gosto de alguém, gosto e pronto. Não me faço de difícil. Não consigo mandar mensagens para quatro ou cinco mulheres diferentes de uma só vez. Não dá para ter uma namorada na quarta-feira, uma na segunda, a da sexta, a garota de fim de semana, uma para as tardes".
"Para simplificar, nunca fui de fazer esquemas", disse ele. Porém, dá para dizer que esses dias estão desaparecendo rapidamente.
Por Alex Williams