Não sei como entrar no assunto com Idris Elba.
Então resolvi perguntar de cara. "A Kate Winslet é mesmo a mulher com quem você quer ficar isolado quando acontece um desastre em um frio de rachar? Você sabe que ela não se mexeu um nada para dar espaço naquela porta e o coitado do Leo caiu no Atlântico gelado, né?".
O britânico ri. Ele está sentado em uma cobertura, com Nova York a seus pés, no salão do restaurante do Mandarin Oriental. "Por incrível que pareça, Kate Winslet é resistente a quase tudo. É duríssima na queda. Se a gente fosse mesmo rolar de uma montanha, ela e eu, com certeza sobreviveríamos porque, além de tudo, é superágil."
E, justiça seja feita, Winslet ajudou a mãe de Richard Branson a descer as escadas para fugir do fogo que engolfou a casa de veraneio a família, na Ilha Necker, causado por um raio. Ela estava hospedada ali, com os filhos, em 2011 – e, de quebra, conheceu o atual marido, Ned Rocknroll, sobrinho do executivo, quando ele chegou correndo na mansão em chamas.
"Ela pensou: 'Esse cara é o meu número'", conta Elba.
O ator, ao lado de Winslet, protagoniza "Depois Daquela Montanha", baseado em um livro em que dois estranhos quase saem no tapa, mas acabam se aconchegando e comendo suçuarana assada juntos depois que o avião em que estavam cai no meio da floresta gélida do Utah.
Elba geralmente contracena com mulheres fortes, mas revela que isso não é problema.
Na verdade, conta que sua mãe, ganesa, é tão marrenta que na festa em que comemorou seus 45 anos, não quis receber o beijo que ele estava preparado para lhe dar.
Elba também encarna o advogado nova-iorquino que defende Molly Bloom, a audaciosa jogadora de pôquer dos astros interpretada por Jessica Chastain no filme de Aaron Sorkin, "A Grande Jogada", que entra em cartaz (nos EUA) em 22 de novembro. E criou um dos romances mais memoráveis da história da TV na série de sucesso da BBC, "Luther", quando o investigador londrino que interpreta, com seu indefectível casacão de tweed, conhecido pelos colegas como "Sua Majestade Satânica", tem um envolvimento erótico e psicopata com uma Lizzie Borden madura, interpretada com trejeitos de filme noir pela ruiva Ruth Wilson.
"Acho mulher poderosa sensual; se for poderosa e perigosa? Oooooh."
Elba confessa ter ficado meio nervoso durante a cena de sexo com Winslet porque nunca fez muitas. "Fiquei meio sem ação; para começar que era Kate Winslet, ali, com os peitos de fora. E aí, olho? Não olho? Beijo?", explica, com uma expressão marota.
Em um mundo em que a maioria dos filmes decepciona e os verdadeiros astros são raros, Elba é um verdadeiro ímã. Alto e musculoso, antes de ficar famoso na pele do chefão do tráfico Stringer Bell em "The Wire", já fora segurança (e vendedor de maconha) do clube de comédia Carolines, na Broadway, inclusive tendo que viver um tempo na van Astro que tinha.
É mais esbelto do que aparece na tela, usa uma pequena argola na orelha e tem a barba grisalha, além de braços cobertos por tatuagens complexas, como a árvore que sobe quase até o ombro. "Tenho uma ligação espiritual com elas. Meio que uso as árvores como local de oração."
O nome da filha, Isan, também está gravado no braço. E o verso de uma canção: "Neste trem não há infratores", para mostrar que não quer que as pessoas que fazem parte de sua vida o decepcionem. Está usando uma camisa polo cinza e jeans preto da própria grife, reveladas pelo pequeno "IE" bordado nas peças.
Quando Amy Pascal era a vice-presidente da Sony, sugeriu que Elba pudesse assumir o papel de James Bond caso Daniel Craig um dia "pendurasse o smoking". Como produtora de "Uma Grande Jogada", ela explica a escalação do ator no papel do advogado porque "se você tiver que se colocar nas mãos de alguém, quem vai querer que seja? Ele é a melhor versão da masculinidade."
Também mencionei sua reação à celeuma gerada pelo comentário de Samuel L. Jackson, reclamando que os britânicos estavam "roubando" os papéis principais de filmes norte-americanos – como David Oyelowo interpretando Martin Luther King em "Selma" e Daniel Kaluuya no longa de Jordan Peele, "Corra!".
"Por alguma razão eles acham que são melhores que nós porque geralmente têm uma qualificação mais clássica. Francamente, não sei por que tanto auê. 'Corra!', por, exemplo, que é um filme sobre racismo liberal branco, deveria ter sido estrelado por um conterrâneo que sente aquilo na carne", desabafou o norte-americano na rádio Hot 97, de Nova York, em março.
Elba comenta: "Sim, falei abertamente sobre o caso. Disse que estava decepcionado."
Chama Jackson de "deus", que merece respeito "como ator, negro, branco, o que for", mas acrescenta: "Para falar a verdade, achei uma coisa meio burra de se dizer. Em um momento em que tanta gente está sendo marginalizada, por que nos excluir ainda mais com essa história de norte-americanos x ingleses? O legal é que ele leu meu comentário e se desculpou. E me ligou para dizer: 'Aí, cara, concordo plenamente. Você tem razão, negro é negro.' Eu o respeito por ter reconhecido a verdade no que ouviu e ter reconsiderado."
"Os norte-americanos chegam na Inglaterra e assumem personagens britânicos no teatro o tempo todo e ninguém diz uma palavra, tipo, 'não podem fazer isso' porque não pode reclamar mesmo. É por isso que se chama 'atuação'."
Uma vez seu pai o aconselhou a sempre olhar as pessoas nos olhos. Foi a mesma técnica que Alfred Hitchcock usou ao dirigir Eva Marie Saint e Cary Grant em "Intriga Internacional".
E em um mundo onde reina o transtorno do déficit de atenção, ela funciona. Elba não olha para o telefone, nem para a garçonete que lhe traz uma faca, nem para o assessor de imprensa querendo apressá-lo, nem para a salada com filé e ovos no prato; os expressivos olhos castanhos estão sempre em você.
Tem dois filhos – uma menina de quinze e um garoto de três – com duas maquiadoras, com uma das quais se casou, e também teve uma breve união com uma advogada. Assumiu a nova namorada, Sabrina Dhowre, ex-Miss Vancouver, no lançamento de "Uma Grande Jogada" no Festival de Cinema de Toronto. Os dois se conheceram quando ele passou uma temporada na Colúmbia Britânica (que fez as vezes de Utah) filmando "Depois Daquela Montanha".
Comento que a advogada dissera recentemente no Daily Mail que a união não deu certo porque o pessoal que cuida da carreira do ator achava melhor que ele fosse solteiro, dado seu status de símbolo sexual.
Ele balança a cabeça, contrariado, e diz que não é verdade, de jeito nenhum. "Muitas histórias sobre meus relacionamentos são completamente erradas, mas não gosto de contestar em público."
"Acho que sou o parceiro mais incompreendido da face da Terra. Tive vários relacionamentos que não deram certo, sim, não porque eu seja sacana, mas porque toda relação tem dificuldades. Talvez eu seja muito fechado, como Luther e, por causa disso, as pessoas se acham no direito de presumir. Raramente eu as corrijo."
"Muita coisa na forma como sou visto por aí é errada; parece que sou um playboy, que não quero compromisso, que fico pulando de um caso para o outro. Bom, imagino que quem lê a minha história, ou ouve falar algum detalhe, aí vai no Google e vê que eu fui casado com essa, e aquela, pode até achar que é assim, mas não tem absolutamente nada a ver. O pessoal acha que me conhece, sabe do meu passado, dos meus relacionamentos, mas não é verdade. De fato, são muito poucos os que realmente sabem quem eu sou e que eu sei que sabem. Pouquíssimos."
Por Maureen Dowd