Nos anos de 1957 e 1958, quando ainda não havia o videoteipe, muitas gafes aconteciam durante as apresentações e programas, quando os personagens eram obrigados, na medida do possível, a consertar o erro ao vivo para que o telespectador tivesse a impressão de normalidade. Um desses inúmeros episódios aconteceu com o conjunto Os Sinuelos, grupo formado por dois gaúchos, Wilson Cavalheiro e Dino Bertoglio, mais três cariocas e um paranaense.
Num programa semanal do conjunto, que ia ao ar todos os sábados, no horário nobre no canal 6, TV Tupi do Rio de Janeiro, logo na abertura da transmissão, o grupo estava postado com três peões, em pé, e três prendas, sentadas, à sua frente. Quando o contrarregra deu o sinal e a luz vermelha da câmera se acendeu, avisando que estavam no ar, começou a música-tema (e o canto) do grupo. Nesse momento, o acordeonista Dino, que na coreografia também dançava, notou que a espora de sua bota estava presa na renda do vestido de uma das prendas. Depois de muitos, e dissimulados, movimentos para tentar solucionar o problema, o canto acabou e, quando as moças se levantaram para iniciar a dança, deu-se o esperado: o vestido da prenda rasgou de alto a baixo.
A solução veio quando um peão gritou "Não se assustemo, moçada" e sacou seu "tirador de couro", peça que protege a bombacha nas lides do campo, colocando-o no lugar onde só havia a anágua. E segue o baile! Com a ajuda do câmera, que ajustou a lente e enquadrava as bailarinas da cintura para cima, o gaiteiro varria o chão do estúdio com o pedaço arrancado do vestido da prenda.
Em outra oportunidade, convidado pelo jornal A Noite, que aniversariava, o grupo se preparava para a apresentação no Teatro João Caetano quando, na manhã do dia do espetáculo, aconteceu o imprevisto: o peão Wilson apareceu com um enorme edema facial, provocado por uma infecção dentária. Como não havia tempo para resolver o problema, a solução foi improvisar e apelar para uma jovem que sempre assistia aos ensaios dos Sinuelos e sabia "de cor e salteado" todos os cantos e danças. Depois de um breve ensaio, a prenda foi vestida de peão, a maquiagem foi reforçada e pediram ao diretor artístico do teatro que diminuísse a luz do palco. A tal prenda substituiu brilhantemente o peão odontologicamente prejudicado. Como prêmio, acabou integrada ao conjunto.
Colaborou Dino de Quadros Bertoglio