Pela primeira vez a Calhandra pousa em mãos que já lhe haviam afagado. A oitava edição mostra que cada vez mais o festival uruguaianense encaminha-se para seu apogeu. Consolidando a verve criativa de cancionistas com Telmo de Lima Freitas, Apparício Silva Rillo, Mário Barbará, Jerônimo Jardim, Kenelmo Alves, Paulinho Pires, Jader Moreci Teixeira (Leonardo) e Barbosa Lessa, citando apenas autores finalistas desta edição.
Vozes inesquecíveis como Leopoldo Rassier e Edson Otto. Instrumentistas exuberantes como Geraldo Flach e Ênio Rodrigues. Além de grupos como Cantores dos Sete Povos, Terra Viva e Os Posteiros. A canção Pássaro Perdido, assinada por Marco Aurélio Vasconcelos e Gilberto Carvalho, apresentada na segunda noite eliminatória, foi a grande vencedora da oitava Califórnia da Canção Nativa ocorrida entre 6 e 10 de dezembro de 1978.
Marco Aurélio já havia vencido em 1973, em parceria com Luiz Coronel, com Canto de Morte de Gaudêncio Sete Luas. Gilberto, com a conquista, torna-se o primeiro autor a vencer duas edições consecutivamente. O país experimentava os primeiros anos da abertura política pós 1964. Temáticas até então silenciadas voltavam a ocupar espaços importantes das discussões cotidianas. E isso acabaria por influenciar a produção cancionista que transitava pelo palco do Cine Pampa.
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Pássaro Perdido fala de um gaúcho que se vê expulso de seu lugar, indo ao encontro de suas mazelas na cidade grande. O êxodo rural, que Cyro Martins já havia plasmado na brilhante Trilogia do Gaúcho a Pé, ganhava a expressão dolorosa e lírica de Marco Aurélio Vasconcelos e Os Posteiros. Das pilchas simples e bem cuidadas a cativo ao brete das ruas e ao prato tão diminuído, vaga o pássaro perdido. Aquele que foi arrancado do seu chão. Arrastado pela crueza das transformações sociais.
Pássaro que se perde é aquele que perde o voo. E sem voar deixa de ser. E a canção melancolicamente constata: "Por isso quando se encontra no espelho fundo de si, ouve o tempo debochando, já te vi bem ... bem te vi".