O desenho animado é sempre um recurso. Quem ainda não for pai ou mãe que me julgue. Dentro desse universo, a gente busca encontrar opções que não sejam tão alienadoras para as crianças: produções nacionais, animações com o cancioneiro brasileiro e por aí vai.
Lembrei há alguns dias quando meu afilhado era pequeno e o meu compadre Ângelo Franco, um apaixonado pela cultura latino-americana como eu, me apresentou o desenho Saludos Amigos, ironicamente do Walt Disney (Alô Amigos, na versão brasileira).
Numa estratégica viagem de Disney e sua equipe a América Latina, a pedido do presidente americano Roosevelt, muitos personagens foram criados e muito dessa realidade regional virou desenho animado. Pateta vestiu-se de gaúcho, dançou zambas e chacareras, vestiu xiripá, em desenhos baseados na pintura de Molina Campos.
Foi nessa mesma série cinematográfica que se criou e eternizou o mais emblemático personagem "brasileiro", o malandro Zé Carioca. A equipe viajou por vários países como alternativa para a crise financeira que atrapalhou os projetos milionários de Disney na época da II Guerra. Some-se a isso a necessidade dos Estados Unidos em buscar aliados aqui por esses lados. O que melhor, para tanto, do que reproduzir na sétima arte as regionalidades desconhecidas na "América"?
Fiquei pensando sobre o surgimento do tradicionalismo, alguns anos depois, em 1947, naquela reunião dos estudantes do colégio Julinho. Na arte e na cultura como instrumento de manipulação ou resistência. O Brasil vindo de um período de política de nacionalização imposta por Vargas desde 1937, que queimou bandeiras e baniu hinos. Era necessário encontrar-se enquanto Estado. Era fundamental encontrar uma figura que nos representasse.
Assim surge o tradicionalismo. Com um tanto de pesquisa, outro anto de recriação (isso contado pelos próprios Lessa e Paixão). Um assunto para muitos textos, mas diga-se de passagem, fundamental. Para a gente entender porque até hoje tantos se identificam, e outros tantos não, com essa representação. Comecemos aprendendo, sempre, a contextualizar qualquer teoria.