No século 19, os compositores faziam "academias em seu próprio benefício". Era uma das formas de subsistência, uma vez que o grande patronato dos séculos anteriores estava quase extinto.
O compositor podia ser jornalista: o alemão Schumann foi grande cronista, o francês Berlioz foi maior ainda. Ou podia promover "academias em seu próprio benefício" – concertos com músicos de ocasião e obras do próprio compositor promotor do evento, na esperança de um lucro gordo para sustentar a vida.
Beethoven, ao que diz a biografia, não ficava nada contente com o lucro das suas academias. Não havia jeito. Mesmo celebrado e respeitado, nem sempre o nome "Beethoven" era garantia de casa cheia. Uma estreia que o enchia de entusiasmo pela reação também entusiasmada das plateias nem sempre se traduzia numa renda daquelas que aliviam o compositor e alegram a conta bancária.
Para Beethoven, essa foi uma regra infeliz, vida afora. Pois uma "academia em seu próprio benefício" foi o que fez a Orquestra Sinfônica Brasileira, dias atrás, como manifestação desesperada – e pública – do seu desconcerto. A OSB, que uma vez foi a mais respeitada sinfônica do Brasil, está numa situação frágil. Sem salário há meses, sem se apresentar em público há outros tantos meses, a Orquestra vai perdendo a sua visibilidade e a sua posição central na cena social do Rio de Janeiro. Fica a um passo da dissolução definitiva.
Nessa perspectiva foram feitas as apresentações-manifesto de dias atrás. As "academias em seu próprio benefício" são coisa do passado distante. A situação desesperadora dos órgãos culturais brasileiros é coisa bem atual. Essa atualidade na qual o raciocínio raso de alguns administradores e sua argumentação nem sempre consistente deseja o cenário da terra arrasada.
Beethoven não gostava de ver casas cheias e borderôs vazios. Quem diria que, dois séculos depois, algumas orquestras brasileiras estariam em situação parecida na busca pelo sustento e pela permanência. Orquestras que são as mesmas que volta e meia estão a tocar o mesmo Beethoven de séculos atrás.