Existe um consenso entre os amigos de Belchior: a vida dele mudou com a chegada de Edna Assunção de Araújo.
Madre Paula, do Mosteiro da Santíssima Trindade, no distrito de Rio Pardinho, interior de Santa Cruz do Sul, um dos lugares onde Belchior esteve hospedado no Rio Grande do Sul, a define como "possessiva". Para Aquiles Gusson e Gloria Miranda Caceres, anfitriões de Belchior na Ecovila Karaguatá, comunidade alternativa em Linha Ficht, a 10 quilômetros do mosteiro, a produtora cultural sempre foi "ciumenta". Ficava o tempo todo ao lado de Belchior, não gostava que ele conversasse com os outros, homens ou mulheres, não queria que ele tocasse e cantasse em público e, às vezes, em conversas com conhecidos, até o impedia de falar. Tinha medo de que estivessem sendo vigiados ou seguidos. Dizia agir assim para protegê-lo.
– A gente até pensava em interferir, mas ele parecia se divertir com aquela neurose. Botava panos quentes, pedia para a gente não dar bola – recorda Gloria.
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Médico especializado em homeopatia e acupuntura, Aquiles diz que havia "algo de incompreensível" na relação. Gloria não tem dúvidas de que Belchior gostava dos cuidados de Edna, mesmo que soassem excessivos:
– Era uma fã que encontrou o ídolo e o raptou para si. Ela o colocava lá em cima o tempo todo. Tudo girava em torno dele. E ele entrou na canoa porque quis. Estava gostando. Parecia muito bem.
Ingrid Trindade, que teve longas conversas com Edna, via nela uma mulher apaixonada e correspondida no amor. A empresária e o marido, o professor de Filosofia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Ubiratan Trindade, acolheram Belchior e a companheira por três meses. Ingrid conta que havia uma ligação intelectual entre os dois.
– Ela tinha uma personalidade forte e não queria dividir Belchior com ninguém.
Veja imagens do mosteiro onde Belchior esteve hospedado:
Sempre que alguém tentava arrancar de Belchior o motivo da reclusão e perguntava quando ele voltaria a fazer shows, o músico respondia com evasivas. Dizia sempre estar preparando o retorno, mas isso nunca acontecia.
No último domingo, quando o cantor cearense morreu, aos 70 anos, depois de acompanhar a liberação do corpo do companheiro com a ajuda de uma amiga que não quis dar entrevista, Edna juntou em duas malas tudo o que os dois tinham, recolheu os textos e os desenhos de Belchior e deixou a casa onde viveram por quase dois anos, no bairro Santo Inácio, sem se despedir de mais ninguém, nem mesmo do dono da casa – um empresário que não só deu teto como apoiou financeiramente o casal, mas não quis aparecer nem falar sobre o assunto.
Edna foi vista pelos santa-cruzenses na TV, no enterro de Belchior, no Ceará. ZH não conseguiu localizá-la para falar sobre a vida ao lado do cantor. A saída de cena de Belchior continuará envolta em dúvidas, talvez para sempre.