Chegamos, nesta viagem pelas Calhandras de Ouro da Califórnia da Canção Nativa, ao ano de 1975, entre os dias 11 e 14 de dezembro ocorre a quinta edição do festival uruguaianense. O caminho percorrido até aquele momento proporcionou o surgimento de uma diversidade criativa que acabou por deflagrar a discussão (que parece perdurar, principalmente nos meios identificados com o tema) sobre qual seria a "verdadeira" canção regional gaúcha (será que é possível recortá-la com tamanha precisão?). Entre "vanguardas” e "conservadorismos", muitos panos renderem a confecção de intermináveis mangas. Mas, concretamente, com a intenção (no meu entendimento mais didático-pedagógica do que estética), para amainar os efeitos das acaloradas discussões, foram criadas a partir dessa edição as famosas "Linhas da Califórnia": Campeira, Manifestação Rio-grandense e Projeção Folclórica (esta mais tarde rebatizada como Manifestação Livre). Uma ação que visava dar espaço à grande diversidade criativa que o próprio evento havia originado.
A Linha de Manifestação Rio-grandense foi vencida por Cordas de Espinho, de Marco Aurélio Vasconcelos e Luiz Coronel, na interpretação de Ivo Fraga; a de Projeção Folclórica coube a Piquete do Caveira, de Kledir Ramil e José Fogaça, interpretada (como consta na contracapa do LP) por Kledir e Kleiton Ramil (Almôndegas); e Roda Canto, de Mário Barbará e Apparício Silva Rillo, na voz privilegiada de Luiz Eugênio, venceu a Linha Campeira e também foi destacada com a Calhandra de Ouro.
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"Meu canto chega de longe, vem na garupa do vento (...), da furna funda do tempo". São os versos iniciais de Roda Canto. Uma canção que se procura, que investiga sua própria existência. E que se descobre, talvez numa evocação quase mítica em seu refrão: "Sangue, sol, sêmen, semente...". Assim como recorta uma (provisória!?) origem quando diz que vem do “grito da bugra amando o primeiro branco", também se perde imemorial afirmando vir "do pai, do pai de meu pai...". A roda do canto do homem parece ser infinita. "Rumo, rancho e razão (...), roda, rodado, rodando...". Cantando, seguimos.