O programa Saia Justa promoveu uma edição especial nesta quarta-feira: na semana em que José Mayer foi acusado de assédio por uma figurinista da Globo e acabou afastado da próxima novela da emissora, Astrid Fontenelle, Mônica Martelli, Taís Araújo e Pitty debateram sobre a campanha #chegadeassédio, criada por funcionárias do canal após o episódio. Em determinado momento, a atriz lembrou como a campanha surgiu:
– Uma das coisas mais importantes foi que esse movimento começou dentro dos Estúdios Globo com uma produtora chamada Catarina Rangel, que viu a notícia, fez um grupo pequeno de WhatsApp com 15 pessoas, e esse grupo, em horas, já tinha 200 e não sei quantas pessoas, migrou para o Facebook. Apareceu na mídia as atrizes e diretoras, mas, na verdade, esse movimento foi iniciado não por nós, que estamos na frente das câmeras. O que fizemos foi dar as mãos a essas mulheres e falar "estamos juntas, vamos juntas". Foi um movimento de sororidade lindo demais. Tem uma coisa agora de olhar no olho e criar uma rede de proteção: se alguém está passando algum constrangimento do meu lado, seja assédio sexual ou moral, eu tenho como dever olhar para essa pessoa e falar "conte comigo".
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Na internet, o debate começou ainda mais cedo, por meio de uma transmissão ao vivo no Facebook (que pode ser assistida acima). O início do programa mostrou as quatro integrantes da mesa redonda ironicamente em salas de maquiagem e figurino – justamente o local onde os episódios de assédio de José Mayer aconteciam –, com as quatro vestindo a camiseta da campanha.
– Um elogio a mais, uma mão na perna: o cotidiano das mulheres que trabalham, com relação ao assédio, é bem puxado. E esse é um assunto bem sério para nós aqui do Saia – começou a apresentadora Astrid, antes mesmo do programa iniciar oficialmente. Já no sofá, com o programa de fato no ar, a apresentadora deu início ao assunto: – Assédio. Palavra forte que tomou conta das redes sociais e de conversas nos últimos dias. O problema é antigo, mas a expectativa nesse começo do século 21 é que a convivência, cada vez mais, se dê na base do respeito e harmonia e atravesse com leveza a diversidade das escolhas. Demos um grande passo nessa direção. Uma situação humilhante para uma profissional e para todas as mulheres foi colocada em discussão, exposta a todos os julgamentos. A união, nesse caso, foi a força. A sororidade, solidariedade entre as mulheres, é o tom da luta pela igualdade de gêneros, direitos e afins.
Ao serem perguntadas "e aí, parceirinhas, avançamos um pouco?", as outras integrantes também se pronunciaram, expondo suas opiniões e lembrando de episódios próprios envolvendo assédio e abuso.
– Muito – opinou a atriz Taís Araújo, que contou a história por trás do movimento: – Ontem foi um dia muito especial. Uma conquista que eu achei que teríamos mais dificuldades que acontecesse.
– Assédio é tão normatizado na sociedade que acho que muitas mulheres nem percebem que passaram, ou que estão passando, ou que ainda infelizmente passarão por uma situação de assédio – argumentou Pitty: – Temos que parar de chamar assédio de brincadeira. Brincadeira é quando duas pessoas se divertem. Quando só uma se diverte às custas da outra, é humilhação, assédio, abuso. Brincadeira é via de mão dupla, assédio é mão única. Temos que falar, até para as mulheres perceberem. O que a gente aprendeu a vida toda? A dar sorriso amarelo.
Antes de encerrar o bloco, a apresentadora Astrid Fontenelle ainda mostrou um vídeo explicando o conceito de abuso – o mesmo apresentado pelo programa Amor e Sexo, alguns dias atrás – e deu o último recado:
– Não vamos mais tolerar. Temos que exercitar com muita força a palavra sororidade, a solidariedade entre mulheres. Conte com uma amiga, com um colega de trabalho, e não engula mais, como Taís, Mônica, Pitty e eu engolimos.