Cevando um mate em casa, fim de tarde na capital gaúcha, eu e o pai do meu filho, amantes da tradição, nos questionamos sobre o apontado machismo dos gaúchos.
O março da mulher vem chegando ao fim. Cheia de histórias e curiosidades, andei por algumas cidades falando sobre o "ser feminino na tradição gaúcha". As atividades vieram acompanhadas de reflexões. Em tempos de empoderamento feminino, é indispensável entender o gênero nesse fenômeno cultural que para muita gente não deve evoluir para manter-se intocado.
Inúmeras vezes relatei minha história pessoal e profissional por aí, entendendo que feminismo não fazia parte da minha essência. Logo percebi que meus ambientes de criação e trabalho, nos quais sempre convivi muito mais com o masculino, permitiram que eu me entendesse mulher. "Nunca peleei por espaço por ser guria", afirmava eu. Sempre entendi que o merecimento de minhas conquistas tinha a ver com dedicação e esforço, e sem perceber me tornei uma mulher ativa na conquista de direitos.
Quando a gente se afasta um pouco da situação, consegue enxergar ainda com mais clareza.
Foram assim meus seis meses de licença-maternidade. Distante do Galpão Crioulo, pude ver melhor meu papel e toda essa representação do feminino.
Descobri que desde que passei a apresentar o programa naturalmente as mulheres também se sentem parte da cultura gaúcha apresentada na televisão. Não esporadicamente, mas todos os domingos, "50%", o feminino, está lá. As mulheres gaúchas hoje se reconhecem no programa e isso é maravilhoso. Senti-me também mulher-moderna-normal respeitada em meu distanciamento para cuidar de meu filho e hoje muito mais amada pelos fãs que entendem a importância da mãe que cuida e trabalha fora.
Ah, a evolução dos tempos! Não há como acreditar que tradição deva ser algo estanque. O movimento é preciso em toda e qualquer manifestação cultural. Há que se rever esse conceito de imutável. Até porque é impossível pensar na tradição de um povo que ignora metade da população que veste saias (ou não). Tradição tem a ver com reconhecimento e referência. Urge que a tradição gaúcha deixe alguns ranços no passado e se comunique com os novos tempos. Só assim não morrerá.
Nós, mulheres, já não tomamos chimarrão apenas na cozinha, também comandamos e compartilhamos do mesmo galpão!