A sinopse e o tom proposto por La Vingança (2016) acenam com uma bem-vinda novidade no universo da comédia popular brasileira, monopolizada por produções de ocasião que apenas reproduzem personagens e esquemas do humor televisivo: dois amigos pegam a estrada rumo a Buenos Aires com a missão de ficar com o maior número de mulheres possível, depois que um deles flagrou a noiva transando com um argentino. A premissa de tirar partido da folclórica rivalidade entre Brasil e Argentina, porém, tem pouco combustível: o filme que estreou nesta semana fica no meio do caminho entre a diversão espirituosa de algumas piadas e a falta de consistência do roteiro.
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Dirigido por Fernando Fraiha, com codireção de Jiddu Pinheiro, La Vingança acompanha a saga de dois dublês de 30 e poucos anos que decidem viajar até a capital argentina para ir à forra após Caco (Felipe Rocha) ser traído por Júlia (Leandra Leal) com o marrento chef Facundo (Adrián Navarro, de Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual) na cozinha de um restaurante, justamente quando iria pedir a garota em casamento. A bordo do Opala laranja 1972 de Vadão (Daniel Furlan), os parceiros partem em sua epopeia de vendeta – mas, como em todo road movie, os viajantes enfrentarão muitas peripécias no meio do caminho. Com o coração partido, o passivo Caco esconde do hiperativo Vadão que seu objetivo, na verdade, é confrontar a ex-namorada, que está vivendo com o cozinheiro-celebridade na capital argentina. Já o sem-noção Vadão passa a viagem inteira metendo ambos em enrascadas na luta inglória por levar alguma hermana para a cama.
Um dos acertos de La Vingança é explorar ao máximo o portunhol ordinário da dupla principal – o próprio título do filme, coprodução entre Brasil e Argentina, é uma boa sacada nesse sentido. Quando topam na estrada com a banda liderada pela charmosa vocalista Lupe – vivida pela cantora e atriz franco-argentina Aylin Prandi –, a disputa entre brasileiros e argentinos acirra-se em torno do tema que mais inflama essa rixa ancestral: o futebol e a comparação entre os ídolos Pelé e Maradona.
A química dos principais intérpretes, entretanto, não funciona em La Vingança: Felipe Rocha, com atuações de destaque no teatro e na televisão, está demasiadamente apático e carece de carisma como figura romântica da trama, abrindo o campo para ser ocupado por inteiro pelo histrionismo de Daniel Furlan – ex-apresentador da MTV que hoje comanda no YouTube o canal Falha de Cobertura –, ator cujo talento para a comédia é fluente e evidente. Esse desequilíbrio acaba valorizando mais o personagem-escada do que o protagonista – e a fragilidade dramática da história, acrescida do excesso de tiradas simplesmente sem graça, contribuem para que La Vingança soçobre no aborrecimento.
La vingança
De Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro
Comédia, Brasil/Argentina, 2016, 90min. Em cartaz no circuito de cinemas.
Cotação: 2 de 5