A forte reação da comunidade artística dos Estados Unidos contra o presidente recém-eleito Donald Trump, que vem se tornando uma tradição recente das premiações de Hollywood, teve mais um episódio na noite deste domingo, durante o SAG Awards, considerado um dos termômetros do Oscar. Organizada pelo Sindicato dos Atores de Hollywood, a premiação teve 13 discursos com tom anti-Trump.
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O primeiro a atacar o milionário republicano foi Ashton Kutcher, responsável pelo discurso de abertura da 23ª edição do prêmio, que deu boa noite a quem estava em casa e "a todos que estão em aeroportos e pertencem ao meu país":
– Vocês são parte do nosso tecido social, nós amamos e damos boas-vindas a vocês.
Na sequência, a atriz Julia Louis-Dreyfus, ao receber o troféu por sua atuação na série Veep, brincou sobre um possível ataque de hackers russos – assunto que foi uma constante durante as eleições americanas – e sobre as estimativas que a equipe de Trump fizeram sobre o público em sua cerimônia de posse:
– Mesmo que os russos tenham ou não hackeado esta votação, eu olho para o milhão, ou mesmo 1,5 milhão de pessoas nesta sala, e digo que este prêmio é legítimo, e eu o venci! – disse, antes de assumir um tom mais crítico: – Eu gostaria que vocês soubessem que eu sou a filha de um imigrante. Meu pai sofreu perseguição religiosa na França ocupada por nazistas... E eu amo este país. Esta proibição contra imigrantes é uma mancha, e é antiamericana.
O experiente ator William H. Macy também aproveitou o seu prêmio para criticar o atual presidente americano – ainda que de forma mais sutil:
– Quero ir contra a maré e agradecer o presidente Trump por fazer Frank Gallagher parecer tão normal – disse, referindo-se a seu personagem na série Shameless, um pai ausente que gasta seu pouco dinheiro em bebida.
A vitória de Orange is the New Black como melhor série cômica também deu espaço para que Taylor Schilling, que interpreta a protagonista Piper, fizesse um discurso exaltando a diversidade do elenco do programa:
– Estamos aqui representando um grupo diverso de pessoas, gerações de famílias que buscaram uma vida melhor aqui, de lugares como Nigéria, República Dominicana, Porto Rico, Colômbia, Irlanda... E sabemos que vai depender de nós, e provavelmente de vocês, também, continuar contando histórias que mostrem que nossa união é mais forte do que aqueles que buscam nos dividir.
O ator Viggo Mortensen, que recebeu um troféu por Capitão Fantástico, terminou seu discurso com um grito de "poder para as pessoas", com o punho erguido. Em seguida, Mahershala Ali, muçulmano há 17 anos, eleito melhor ator coadjuvante por Moonlight, fez um dos discursos mais marcantes da noite:
– O que eu aprendi trabalhando em Moonlight é que vi o que acontece quando perseguimos pessoas. Elas se fecham em si mesmas. (...) Quando ficamos prestando atenção nas minúcias, nos detalhes que nos diferenciam, há duas formas de ver isso: podemos ver a textura daquela pessoa, as características que fazem dela única, ou podemos ir à guerra por isso – disse, para em seguida falar sobre sua sua relação com a mãe: – Minha mãe é pastora. Eu sou muçulmano. Ela não deu cambalhotas quando eu contei que me converti, 17 anos atrás. Mas eu digo a vocês agora: nós deixamos isso de lado. E eu sou capaz de vê-la, e ela é capaz de me ver. Nós nos amamos, o amor cresceu.
Sarah Paulson, melhor atriz em telefilme ou minissérie por American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson, também usou seu espaço para convocar as pessoas a doarem dinheiro para a União Americana pelas Liberdades Civis "para proteger os direitos e a liberdade de pessoas em todo o país". Já Bryan Cranston, que levou a versão masculina do prêmio, por All the Way, usou o ex-presidente Lyndon B. Johnson, a quem interpreta no filme, para falar de Trump:
– Eu honestamente sinto que ele botaria a mão no ombro e desejaria a Trump sucesso. E ele sussurraria algo que já disse diversas vezes, como uma forma de encorajamento: apenas não mije na sopa que todos nós comeremos.
Vencedora do troféu de melhor atriz, por La La Land, a atriz Emma Stone descreveu a situação como "um momento realmente complicado no nosso país", em que acontecem coisas "muito imperdoáveis, assustadoras e que demandam ações". Na sequência, David Harbour, que interpreta o policial Jim Hopper em Stranger Things, fez um dos discursos mais fortes, na entrega do prêmio de melhor elenco de série dramática.
– Estamos todos juntos nesta jornada horrível, dolorosa, alegre, emocionante e misteriosa que é estar vivo. Como mostramos na contínua narrativa de 'Stranger things', nós vamos repelir os bullies, vamos abrigar os esquisitos e os marginalizados, aqueles que não têm casa, vamos superar as mentiras, vamos caçar monstros, e quando estivermos perdidos em meio à hipocrisia e à violência casual de certos indivíduos e instituições, nós vamos, assim como o delegado Jim Hopper, socar a cara de algumas pessoas que tentarem destruir os mais fracos, os desprotegidos. E nós faremos tudo isso com alma, com coração e com alegria. Agradecemos por esta responsabilidade – disse, enquanto Winona Ryder fazia caras e bocas e o restante do elenco pulava em adrenalina (veja no vídeo acima).
O longa Estrelas além do tempo, vencedor na categoria de melhor elenco, a principal da noite, rendeu discurso de Taraji P. Henson, que ressaltou a história do filme:
– O filme é uma história sobre união. A história é sobre o que acontece quando deixamos nossas diferenças de lado. E quando nos unimos como raça humana, nós vencemos. O amor vence. Sempre.