Esta semana inaugura a nova sala de concertos de Hamburgo, na Alemanha. Deveria nos interessar a abertura de uma sala dessas no outro lado do mundo, num outro hemisfério, onde as expectativas são outras? A rigor, não. Mas é que estamos numa situação semelhante, aguardando uma sala de concertos estalando de nova, para que finalmente a Ospa encerre a sua vida de caixeiro-viajante ou pare de vagar pelo deserto à procura de locais que a acolham.
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A sala de Hamburgo, a Elbphilarmonie, ou Sala Filarmônica à beira do Rio Elba, para traduzir com minúcias, não foi construída sem problemas. As obras duraram bem menos do que as de uma catedral gótica, mas bem mais do que as de Brasília. No meio do caminho, já corriam cinco anos de marteladas, se foi o orçamento às alturas e a sala passou a ser um estorvo político, antes mesmo de se ouvir qualquer acorde de Beethoven dentro dela.
Como de hábito, os custos se multiplicaram, as obras pararam e recomeçaram, havia pedras não previstas no caminho e o teto (logo o teto!) teve que ser projetado de novo. Herdeira da mais típica arquitetura modernista, a sala projetada por Herzog & De Meuron está plantada sobre um antigo armazém das docas de Hamburgo e tem o feitio de um navio de velas tocadas pelo vento a saudar os visitantes que chegassem pelo Elba. Como reproduzir velas enfunadas com concreto e ferro?
Enfim, quarta-feira é o grande dia da inauguração.
Não é um caso único de sala de concerto deste século. Paris abriu há pouco a sua Sala Filarmônica, projetada por Jean Nouvel, ainda sob o impacto dos atentados ao Charlie Hebdo. Portanto, não se trata de mania de grandeza querer ter – ou pelo menos ter esperança de ter – uma sala de concerto em Porto Alegre. Lá também, do outro lado do Atlântico, as construções se arrastaram a ponto de se temer que tudo ficasse mesmo só no esqueleto do edifício.
Aqui, nem isso. Não há nem esqueleto e muito menos a sombra de um prédio. Há apenas fundações escondidas pelo mato e uma total falta de vontade política que permita ver alguma luz no fim desse longo túnel de inação e de cultura em pedaços. Essas obras demoram, é verdade, e como afinal de contas o século está apenas iniciando, há ainda muito tempo para cortar o mato e subir as estruturas. Talvez o ritmo de Porto Alegre seja esse.