Um novo sotaque despontou na noite porto-alegrense. Vindos das praias uruguaias, das baladas caribenhas e dos hermanos argentinos, os ritmos latinos – em suas mais diversas vertentes – tomaram conta das casas noturnas da Capital. O crescimento no número de festas com o tema a cada semana, a lotação quase certa das casas que a abrigam e o clima de celebração dão razão ao colombiano J Balvin: um dos maiores astros do estilo: "Se necesistas reggaeton, ¡dale!".
Os primeiros indícios de que a ideia daria certo em Porto Alegre vêm de antes de 2013 – ano em que aconteceu a primeira edição da Cariñito, festa que rola até hoje no Margot: mais ou menos na mesma época, o Silêncio passou a promover a Buena Vista, do mesmo estilo. Antes disso, lugares específicos, como o Comitê Latino-Americano e o Ocidente, já realizavam eventos com o mesmo tema. Mas foi de um ano para cá que a coisa tomou proporções maiores.
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Atualmente, há pelo menos cinco festas com temas latinos que acontecem regularmente em Porto Alegre: Cariñito e Baila têm edições mensais no Margot, enquanto Buena Vista, Qué Pasa e Me Voy têm edições regulares em Silêncio, Opinião e Rolê, respectivamente. Há ainda a Cumbia na Rua, evento que leva milhares de pessoas às ruas porto-alegrenses – e tem edição especial de Natal neste sábado, já com 1,1 mil pessoas interessadas, na Praça Garibaldi. Em uma pesquisa rápida com frequentadores dessas festas – a reportagem passou a noite bailando nas festas Carinito e Baila em 3 de dezembro –, os principais trunfos do estilo são o clima de congregação entre os frequentadores, a temática tropical e solar e, principalmente, o fator “música dançante”.
– Todo mundo está aqui para dançar! – vibra a arquiteta Vitória Fetter, assídua em eventos do estilo.
Confira o clipe do hit Ginza, de J. Balvin: "Se necesistas reggaeton, ¡dale!"
Mas não é de hoje que a Capital tem sotaque latino. Ao falar dos antecedentes da onda de reggaeton, cumbia e salsa por aqui, produtores lembram eventos como o Fórum Social Mundial e o festival El Mapa de Todos, que inundaram a cidade de hermanos em anos recentes, além de costumes típicos da juventude gaúcha de classe média, como as viagens a Bariloche na escola e o recente fascínio que as praias uruguaias geraram em quem está mais perto delas do que do Rio de Janeiro.
– Nós, gaúchos, sempre tivemos muita identificação com Uruguai e Argentina, até mais com eles do que com o resto do Brasil. A cultura, a culinária, a personalidade são muito parecidas com as nossas. As pessoas passam Carnaval no Uruguai e voltam cantando Daddy Yankee (intérprete do hit-chiclete Gasolina). Acaba sendo natural: todo mundo tinha a referência, só faltava algo para evidenciar – sugere Bruno Ritzel, produtor da festa Cariñito, que acontece mensalmente no Margot e é uma das pioneiras da onda latina na Capital
Para quem se acostumou a ouvir o indie rock da MTV, a música eletrônica dos grandes festivais ou o pop que toca nas rádios brasileiras, o repertório de festas como a Cariñito pode soar estranho – o nome da festa surgiu de uma cumbia peruana homônima, que foi interpretada pelo grupo Bareto em uma edição do El Mapa de Todos. A não ser por nomes extremamente populares, como Ricky Martin e Shakira, não é comum ouvir os hits colombianos ou venezuelanos em Porto Alegre.
Até por isso, o DJ Gustavo Bourye, conhecido como Uruguaio, figura carimbada em grande partes das festas do estilo em Porto Alegre, avalia que instrumentos como o YouTube e o Spotify ajudam tanto no garimpo, quanto na disseminação do estilo por aqui:
– É muito louco, porque esses caras são gigantes desconhecidos. Se tu entrar no canal do J Balvin no YouTube, tem tanta visualização quanto o Drake – diz, para voltar a abordar a questão de proximidade e identificação que os gêneros geram no público gaúcho: – É a música pop deles. Tenho a sensação de que, entre ouvir isso e ouvir a música pop americana, muita gente se sente mais à vontade com o que é mais próximo.
Com o início do verão, a pretensão dos organizadores e produtores das festas latinas na Capital é de que o público se sinta anda mais impelido a curtir o clima tropical e as batidas litorâneas da cumbia, do reggaeton e da salsa de artistas como J Balvin, Nicky Jam e Farruko. Para isso, alguns já pensam no que os países vizinhos podem oferecer além da música:
– O verão tem tudo a ver com esse estilo. Além da música, queremos começar a investir em comidas e bebidas típicas – diz Eduardo Ojief, produtor da festa Me Voy.