Produção da BBC rodada em grande parte em Belfast, Irlanda do Norte,
The fall parecia ter dado o seu recado com suas duas ótimas temporadas, exibidas no Reino Unido em 2013 e 2014. Mas o final ambíguo foi a deixa
para a Netflix se apropriar de uma das mais interessantes tramas de
suspense que a televisão criou nos últimos anos.
A terceira temporada completa está disponível desde a última semana de outubro no catálogo da gigante do streaming. Mudou um pouco, até porque não tinha como ser diferente, dado o que aconteceu ao fim do segundo ano. Mas suas virtudes seguem lá. Não devem decepcionar quem gosta do jogo de gato e rato (no caso, gata e serial killer) típico de certas produções do gênero.
Foi The fall que revelou o ator Jamie Dornan, 34 anos, depois cooptado para ser o galã do filme 50 tons de cinza (2015). Mas o grande nome da série é a atriz Gillian Anderson, 48, a Dana Scully de Arquivo X. Ela interpreta a detetive
no rastro do assassino cruel e bonitão que ataca jovens mulheres e que, lógica perversa desvendada apenas pelos grandes investigadores, mantém uma
família (quase) perfeita, com mulher e duas filhas pequenas.
Stella Gibson, a personagem de Gillian Anderson, também tem as suas idiossincrasias. Uma delas é a indisfarçável atração por tipos como o do serial killer Paul Spector (Dornan). Por óbvio, ele se interessa quando percebe que
está sendo caçado por alguém inteligente e que realmente quer entender sua lógica de ação. A tensão que se estabelece entre eles é conduzida com direção delicada e segura por Allan Cubitt, que fez carreira como roteirista na
TV britânica e é também o criador de The fall.
Há ambiguidades em certos planos, o que invariavelmente carrega o clima de inquietação e aquela boa ansiedade quanto aos próximos passos de cada um em cena, segredo do sucesso de boa parte dos suspenses do cinema e da televisão. As últimas sequências do primeiro episódio desta terceira temporada, na
UTI de um hospital, são um primor: ao mesmo tempo em que sugerem que
algo chocante pode acontecer em um dos leitos ali instalados, inserem
novas camadas de significados por meio de um diálogo inusitado sobre
vida e morte em outro canto da sala.
Há bem mais cenas noturnas em The fall, e as diurnas geralmente são marcadas por frio e mais nuvens do que o sol propriamente dito. A atmosfera soturna é tão bem construída que é capaz de fisgar mesmo o espectador mais distraído, que vê TV com apenas um olho, guardando o outro para a telinha do celular ou os acontecimentos à sua volta.
Em tempos em que o mainstream do gênero parece mais focado em sustos e reviravoltas recambolescas do que na criação de climas e na conformação de uma dramaturgia mais consistente, The fall é um verdadeiro e inegável alento.
THE FALL
Todas as três temporadas disponíveis.
Na Netflix.