Em maio de 2015, dias antes de sua antológica apresentação em Porto Alegre, no Teatro do Bourbon Country, a cantora norte-americana Sharon Jones falou em entrevista a Zero Hora sobre o tratamento que fazia contra o câncer no pâncreas que a matou na sexta-feira, aos 60 anos.
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– A única mudança (na sua vida) que você pode ver é no meu cabelo. Sempre que subo ao palco, dou 110%, porque toda vez pode ser a última. Eu quero me livrar do câncer, mas em dezembro (de 2014) encontraram outro tumor e, em janeiro, fiz outra operação. Só em fevereiro pude voltar aos palcos.
Na ocasião, Sharon antecipou que, em razão da doença, iria apresentar na Capital, acompanhada pelo grupo The Dap-Kings, a releitura de uma das canções do novo disco que promovia à época, Give the people what they want (2014).
– Vamos tocar Get up and get out em uma versão diferente porque essa música ganhou um outro significado para mim depois que passei pelo susto do câncer. Começa devagar e depois vai rápido. Eu conto às pessoas como passei pelo câncer e disse para ele "levantar e ir embora".
Considerada uma das grandes divas da soul music contemporânea, Sharon nasceu em 4 de maio de 1956 em Augusta, cidade do Estado da Georgia. Começou a carreira ainda criança cantando em igrejas e palcos locais. Passou os anos 1970 fazendo backing vocals em Nova York, mas a carreira não decolou e, na década seguinte, precisou trabalhar por anos como carcereira e segurança. Sua sorte mudou quando se juntou à banda The Dap-Kings para lançar, a partir de 2002, seis discos que causaram sensação entre público e crítica apresentando a inspirada combinação de soul e funk moldada pelo vozeirão de Sharon e o groove de seus músicos – posteriormente convidados para gravarem com Amy Winehouse o histórico disco Back to black (2006).
Sharon se considerava uma guardiã do estilo musical consagrado nos anos 1960 por artistas como Aretha Franklin e The Supremes. Dizia que faltava maior reconhecimento ao gênero, para ela empacotado junto à música pop.
– Escute as letras de hoje: falam sobre dinheiro, carros, discos de platina, o bumbum de alguém. Nos velhos tempos, as músicas de soul contavam boas histórias. É isso que eu e os Dap-Kings fazemos. Estamos continuando essa história, sem cantar sobre coisas materiais. Essa garotada de hoje não consegue cantar soul. Para cantar soul, você precisa ter uma boa base de gospel. E não tem a ver com ser negro. As pessoas acreditam que estamos tendo um revival de soul, mas o que se está fazendo não é soul, é pop.