Quando as mulheres ainda não tinham a força nem a representatividade que têm hoje no sertanejo, tampouco se imaginava o fenômeno que invadiria o país neste último ano, ela já trilhava uma estrada longa e cheia de percalços, motivada por um sonho de infância. O destino, hoje alcançado, também é celebrado por aquelas que seguiram o seu rastro.
Paula Fernandes – 32 anos e 24 de carreira – é a precursora de uma nova geração de vozes femininas que vêm escrevendo seu nome na história deste gênero genuinamente brasileiro. Não à toa, a mineirinha será homenageada no dia 18, na Festa Nacional da Música, que começa neste domingo, em Porto Alegre. Sua vinda à Capital tem mais um motivo especial: ela apresenta aos gaúchos o show do DVD Amanhecer ao vivo (R$ 30, preço médio).
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Retratos da Fama viajou a São Paulo, onde o álbum foi gravado, para um bate-papo exclusivo com a musa do vozeirão grave e da cinturinha fina. Ela fala sobre o novo trabalho, carreira, vida pessoal e se rende em elogios à gauchada.
Em seu melhor momento
Com 16 faixas no CD (lançado em 2015, R$ 25, preço médio) e 24 no DVD, o novo trabalho de Paula, dirigido por Raoni Carneiro, tem peculiaridades que os diferenciam dos anteriores. A brejeirice nos figurinos e os cenários teatrais, agora, dão lugar a uma produção mais clássica e sofisticada. Em três trocas de roupa, a cantora esbanja sensualidade, sempre de preto.
– Essa mudança foi uma ordem natural da vida, de amadurecimento. Traz as influências de tudo que eu passei, e o meu momento de vida pessoal também influenciou muito. Eu tô mais completa, mais madura, mais serena e mais leve. O público vai perceber isso.
Convidados
Telões de led permitem, por exemplo, levar para o palco um dos convidados do álbum: o espanhol Pablo López, com quem divide o vocal na faixa La paz de este amor. O músico não pôde participar da gravação por conta da agenda.
Outra convidada é Sandy, com quem faz um dueto em Sensações.
– Ela foi o primeiro nome que eu pensei, e a música eu fiz, há muito tempo, pra ela cantar. Ela acabou não gravando, e, agora, a gente gravou junto. Ficou superbonito. Nós cantamos em regiões extremas: ela, muito agudo, e eu, muito grave. Isso deu uma química muito interessante.
Show e homenagem no Sul
Paula conta que, em Amanhecer, optou por um processo inverso ao que costuma fazer. Primeiro, começou a turnê, em março deste ano, para, só depois, fazer o registro, ao vivo, em DVD.
– Gravamos o DVD mais seguros, com o repertório mais na ponta da língua. Foram bem importantes os shows que eu fiz antes de gravar – diz ela, que se apresenta na Capital no próximo dia 20, no Teatro do Bourbon Country.
Mas Paula chega ao Estado antes disso. No dia 18, será homenageada na Festa Nacional da Música, que, neste ano, acontece em Porto Alegre. Uma honraria que emociona e orgulha a artista:
– Sempre fui muito bem-recebida aí, fiz shows inesquecíveis no Sul. O Brasil, em geral, é muito carinhoso comigo, mas eu sinto esse carinho diferenciado dos gaúchos. É um povo muito seletivo, e é bom passar nesse crivo de ser considerada uma cantora de boa música e ser tão bem-recebida.
Precursora de uma geração
Desde o marco de Roberta Miranda e Sula Miranda, nos anos 1980, passaram-se 30 anos sem o estouro de uma grande voz feminina na música sertaneja. Até que, em 2010, o Brasil conheceu Paula Fernandes, que iluminou um especial de Natal de Roberto Carlos, na TV Globo, deixando o país – e o Rei – encantados com a beleza e o vozeirão da mineira.
A partir de então, uma porta importante foi aberta para que, por ela, passassem, hoje, nomes como Marília Mendonça, Maiara e Maraisa, Simone e Simaria e Bruna Viola – fenômenos de popularidade, execução em rádios e shows pelo Brasil afora.
– Eu me sinto bastante orgulhosa de saber que, de certa forma, eu encorajei muitas meninas. Acho que esse momento pra música é muito importante. A gente veio pra agregar, não tem, necessariamente, uma competição com o homem. Viemos para somar forças, e, pra cultura e pra música, isso é muito importante, independentemente do gênero – avalia Paula.
Aproximação com os fãs pelas redes
Com 24 anos de carreira – que começou aos oito, quando cantava em Sete Lagoas, Minas Gerais –, a cantora acumula números expressivos e importantes no cenário nacional (veja abaixo). E, em tempos de redes sociais, não poderia ser diferente: todo esse sucesso se reflete em uma multidão de seguidores. São 15 milhões no Facebook e outros sete milhões somando Twitter e Instagram.
– As redes aproximaram a gente dos fãs, mas é uma demanda imensa. Para o Face, eu tenho ajuda da minha equipe, mas, do Twitter e Instagram, eu cuido sozinha – conta Paula, que admite nem sempre ter tempo para responder a todos:
– Eu retorno, algumas vezes, mas meus fãs já entendem que eu sou uma artista pra milhões de fãs, então, quando não dá, eles entendem também, pelo menos boa parte deles (risos).
Caseira, da simplicidade e do sossego
Com uma vida discreta, Paula se mantém fora de polêmicas e com prestígio em alta. Mesmo quando rompeu com o escritório de Leonardo para administrar sua própria carreira, pouco respingou no público tampouco abalou a imagem de credibilidade e carisma da cantora.
Desde 2012, namora o dentista Henrique do Valle, com quem, segundo ela, tem muito em comum. Tranquila, Paula conta que valoriza os momentos simples e de sossego ao lado amado.
– Eu sou muito caseira, e meu namorado também. A gente gosta de cavalo, cria em Brasília e em Belo Horizonte. Eu gosto muito dos bichos e de ficar nesse ambiente familiar, de simplicidade – diz ela, que não descarta oficializar a união, mas avisa:
– A gente tá optando por esperar mesmo o momento certo, já que ele está em construção de vida e eu também. Mas a gente tá planejando, sim, uma hora sai.
Beleza de dentro para fora: "Sou preventiva"
Além de linda, Paula Fernandes anda sempre impecável. A versão "montada", sempre maquiada, de salto e bem-vestida, na maioria das vezes, é uma imposição do trabalho, garante a musa:
– Eu sou simples, mas acaba que, na minha profissão, as pessoas exigem que eu esteja sempre arrumada. Então, faço maquiagem todos os dias, cílios postiços, cabelo... Quando tô em casa, quero usar um coque, pé descalço e um camisetão bem surrado, o mais velho que tiver.
O corpo miúdo mas cheio de curvas – a cinturinha fina é sua marca registrada – é resultado de muita malhação, um dos prazeres da cantora, e de cuidados com o que come:
– Eu gosto de malhar e estou cuidando da alimentação. Essa mudança tem que ser de dentro pra fora. Depois, não adianta puxar aqui, esticar ali, fazer uma lipo pra desfazer um mal que uma alimentação errada durante anos causou. Eu sou preventiva. Se eu pudesse, malhava todo dia, mas, como tenho pouco tempo, às vezes, é meia-noite e eu tô malhando, duas da manhã, e tô malhando. Daí, a personal vai lá pra casa, ou eu vou na academia.
Números de uma estrela
/// Mais de 4,5 milhões de discos vendidos
/// 1 LP, 1 EP, 3 DVDs e 9 CDs
/// 12 turnês internacionais (quatro na América do Norte, uma na América do Sul, cinco na Europa e uma na África)
/// 100 mil visitas por mês no site oficial (paulafernandes.com.br)
/// 130 shows anuais, em média
/// 2 milhões de pessoas é a média anual de público nos shows
/// Mais de 250 milhões de visualizações em seu canal no YouTube
/// 15 músicas em trilhas sonoras de novelas e duas em trilhas de filmes
ENTREVISTA: "MUITA COISA, DESDE A MINHA INFÂNCIA, FOI ADIADA"
Uma exaustiva maratona de entrevistas individuais com dezenas de profissionais, sem intervalos, ao londo de toda a última terça-feira, em São Paulo, poderia acabar com o humor, a paciência e a criatividade para as repostas de Paula Fernandes. Mas não foi isso que se viu. Simpática e bem disposta até o último minuto, a linda cantora ainda esbanjou gentileza e não usou de poucas palavras, demonstrando interesse a cada tema proposto. Ao final, ainda com um sorrisão no rosto, modesta, limitou-se a lamentar durante uma selfie: "Tô com cara de cansada". Confira o bate-papo!
Retratos da Fama – Você abriu caminho para uma geração de mulheres que, hoje, talvez, não enfrentem tantos perrengues quanto você enfrentou quando começou. Que diferenças percebe entre aquela época e agora?
Paula Fernandes – Era um outro momento, em que as duplas sertanejas masculinas dominavam. Eram outras dificuldades, e acredito que as mulheres ainda enfrentem hoje, mas a coisa está se tornando mais leve. Tem mais receptividade, inclusive, da parte dos empresários, que estão acreditando mais nas meninas novas que estão chegando. A internet ajuda muito. Na minha época, mal tinha telefone direito (risos). A internet leva a imagem e a música mais fácil para o mundo.
Retratos – Na sua trajetória, o preconceito marcou presença?
Paula – Sempre. Primeiro, eu era menina. Segundo, era criança e menina. Depois, era menina e era adolescente. Por fim, era adulta mas mulher. A mulher sempre sofreu esse tipo de preconceito mesmo, mas a gente tá mostrando esse outro lado.
Retratos – Em tempos de redes sociais, como lida com as críticas e ataques?Paula – Antigamente, eu ficava mais incomodada, até por inexperiência. Ninguém gosta de ser criticado, mas eu acredito no respeito. Por mais que você não goste de determinado artista ou música, a maioria não conhece a pessoa e acaba julgando, o que eu acho muito perigoso.
Retratos – Qual o ônus da fama?
Paula – Eu não consigo ir ao shopping. Não que eu seja uma menina fútil, mas, como eu fui do Interior a vida toda, quando descobri o shopping, virou um negócio, um acontecimento! Gosto de ir ao cinema e só às vezes vou. Na maioria das cidades brasileiras, eu chego e logo se forma um tumulto atrás de mim. Não que isso seja ruim, mas é que eu não consigo ter privacidade para escolher uma roupa e tal. O traje também é outra coisa de que sinto falta. Por mim, eu pegava um chinelinho, uma bermudinha jeans e estava ótimo. Mas acaba sendo inconveniente sair assim.
Retratos – O que ficou para trás ou quais planos acabaram sendo adiados por conta da carreira?
Paula – Muita coisa, desde a minha infância, foi adiada. Eu larguei os brinquedos pra tocar violão. Na adolescência, não ia para as baladinhas, era eu quem estava tocando nas baladinhas. Na fase adulta, comecei a namorar muito tarde, com 20 anos, e foi muito bom, foi na hora certa. Uma viagem que, às vezes, não tem espaço de tempo também acaba sendo protelada.