Na semana em que começa a 62ª Feira do Livro de Porto Alegre, que terá entre as atrações o escritor israelense David Grossman, os leitores da Capital têm outro motivo para comemorar. Nesta segunda, mais um medalhão da literatura internacional visita a cidade. O britânico Ian McEwan subirá ao palco do Auditório Araújo Vianna, às 19h45min, para falar ao público no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. As entradas para o evento já estão esgotadas.
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A vinda do autor de Reparação e outros sucessos de crítica e público é festejada por muitos autores de Porto Alegre.
– Sou fã de carteirinha – diz Cíntia Moscovich, patrona da Feira, que ocupará a Praça de Alfândega entre sexta-feira e o dia 15 de novembro. – Quando Reparação chegou ao Brasil, McEwan se tornou um fenômeno. Quem não lia o livro era quase um pária no meio dos amigos – brinca a escritora.
Reparação foi lançado em 2001, chegando às livrarias brasileiras em 2002. Em 2007, o drama da menina que sonhava em ser escritora, mas se enreda numa trama de crime, ganhou uma adaptação cinematográfica de sucesso, batizada Desejo e reparação, catapultando ainda mais as vendas do livro.
No entanto, a carreira literária de McEwan começou bem antes. Depois de lançar dois volumes de contos, seu primeiro romance, O jardim de cimento, foi publicado em 1978. As primeiras narrativas carregam tons góticos, diferentemente da prosa mais direta e realista pela qual o escritor ficaria internacionalmente conhecido. Mas os primeiros textos já carregavam forte identidade própria, explica a professora Kathrin Rosenfield:
– O que é sedutor demais na obra de McEwan é o humor contido e subliminar. Já nos primeiros romances macabros e góticos, ele parece traduzir em idioma britânico a tênue comicidade lúdica que há também nas histórias de Kafka.
A escritora Claudia Tajes também elogia a fase inicial do autor:
– Os primeiros livros de contos, que ainda podem ser comprados na Estante Virtual, são tão sensacionais quanto os romances. McEwan é chamado de Macabro, mas a escuridão sobre a qual escreve não é dele; é a do homem. Eis um autor que conhece o homem.
Após ganhar o Booker Prize britânico por Amsterdam, em 1998, e se tornar um fenômeno com Reparação, McEwan passou a ser conhecido pela escrita precisa, resultado de longas pesquisas que empreende para escrever cada um de seus romances.
– É um autor com um prosa aparentemente simples, que não se aventura em inovações porque sabe que o real é suficiente para extrair conflitos essenciais à boa literatura – diz Luiz Antonio de Assis Brasil.
Em seu novo livro, contudo, McEwan aventura-se em um ponto de vista narrativo inusitado. Enclausurado tem como narrador um feto que ouve a mãe e um amante, que vem a ser seu tio, tramarem o assassinato do marido traído. O autor já admitiu em entrevistas que Hamlet é uma das referências óbvias da obra, mas que a inspiração para a texto não veio dos 400 anos da morte de William Shakespeare, que se completaram em abril deste ano – por conta da efeméride, novas traduções e releituras estão sendo lançadas no mundo todo.
A ideia surgiu quando ele conversava com a nora, então em adiantada gestação, e sentiu a "presença física" do bebê no ambiente.
– McEwan é um autor que não repete nem o que deu certo – opina Claudia Tajes.
Antônio Xerxenesky, destacado nome da nova literatura nacional, observa que sua geração também tem o autor de Enclausurado como uma importante referência:
– Reparação é uma obra-prima, na qual McEwan desenvolve muito bem uma questão central de muitos dos seus livros, o embate entre uma visão científica e uma visão emocional de mundo. Essa é a grande tragédia.