O peruano Jeremías Gamboa é um dos nomes mais festejados da nova literatura latino-americana. Seu primeiro romance, Contar Tudo, surpreendeu tanto que chegou a ser elogiado pelo conterrâneo e Prêmio Nobel Vargas Llosa. Sua inspiração, no entanto, surpreende mais ainda: Lulu Santos.
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Bem humorado e falante, Gamboa palestrou neste sábado na Sala Leste do Santander Cultural durante a Feira do Livro. Mediado pelos jornalistas Carlos André Moreira e Deise Leite Bittencourt Friedrich, o escritor explicou que o cancioneiro de Lulu Santos, que trata de pessoas comuns, foi o que o influenciou a escrever seu livro de maior êxito até agora.
– Lulu tem essa música que fala de gente comum, normal. Pensei então que, se fosse escrever um livro, teria que ser pelo ponto de vista de alguém assim também _ contou.
O personagem do livro, Gabriel Lisboa, funciona como alter-ego de Gamboa, ambos jornalistas vindos de famílias humildes e amantes de rock e música brasileira. Como na maioria das estreia literárias, Conta Tudo também é um romance de formação: Gabriel está se descobrindo jornalista, descobrindo o amor, as drogas, vivendo suas primeiras experiências, enfim. Sua força narrativa, no entanto, conquistou o público como um veterano – incluindo o mestre Vargas Llosa.
Tamanha deferência, no entanto, não assustou Gamboa. Questionado se a sombras de Llosa lhe pesava tanto quanto a sombra de Gabriel Garcia Márquez (1927 _ 2014) pesa sobre os escritores colombianos, o peruano recorreu à música novamente:
– Tenho pra mim que Márquez é como Bob Dylan, um poeta, alguém que não se pode alcançar. Já Llosa está mais para Bruce Springsteen, é um trabalhador, acertando, errando, mas sempre trabalhando.
Outra forte influência de Gamboa é Caetano Veloso – este, em um nível mais pessoal.
– Sou mestiço de índio e, no Peru, ser mestiço já foi um problema muito grande. Hoje é algo mais tranquilo, mas antes ninguém gostava de se admitir mestiço, inclusive eu. Mas nas músicas de Caetano Veloso, encontrei uma celebração da mestiçagem que me fez compreender e me aceitar – explicou. – Inclusive quando estive em São Paulo, fiz questão de ir no cruzamento das avenidas Ipiranga com São João (risos). Sei que para um brasileiro isso não deve ser nada, mas para mim significava muito.
Literatura
Destaque da literatura latino-americana, Jeremías Gamboa se inspirou em Lulu Santos e Caetano
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