Resumo: este ensaio mostra como é produzido um texto acadêmico.
Abstract: this paper shows how an academic text is written.
Palavras chaves: padronização, cientificismo, vácuo intelectual.
Key words: standardization, scientism, intelectual vacuum.
Introdução. Para ter seu artigo aprovado numa revista de prestígio (classificação A1, A2 ou B1 na Capes), o professor universitário segue certas regras. Nossa hipótese é de que, ao seguir normas rígidas, tanto na forma (ABNT), quanto no conteúdo (método acadêmico vigente), o texto será uma sucessão de paráfrases (dizer o mesmo de outro jeito) sem qualquer relevância, que serve apenas à manutenção do emprego do redator no seu programa de pós-graduação e à sua inserção numa comunidade de acadêmicos que escrevem ensaios parecidos.
Capítulo 1. Metodologia. Primeiro encontra-se um tema bem específico, que interesse apenas aos futuros leitores acadêmicos do ensaio. Depois lê-se tudo que foi escrito a respeito em português e inglês. O aproveitamento de textos em alemão e francês é recomendável. Em espanhol, discutível. Em outras línguas, irrelevante. A seguir, escolhe-se um aspecto não abordado, ou um aspecto já abordado, mas com autores parafraseados diferentes. Finalmente, colam-se citações dos textos originais e costuram-se as lacunas com paráfrases elaboradas pelo redator.
Capítulo 2. Interditologia. É vedada qualquer manifestação da subjetividade do autor. O texto deve conter apenas verdades científicas provadas. As provas devem ser coletadas em textos já publicados em revistas e livros acadêmicos da mesma área de atuação do autor. Essas publicações devem ser corretamente citadas. Jamais usar dados recolhidos de forma não sistemática. Gráficos são aceitáveis (embora perigosos). Imagens, irrelevantes. Um adjetivo conduzirá a um parecer que pede correções substantivas. Um ponto de exclamação provocará a recusa definitiva do texto.
Capítulo 3. Epistemologia. A episteme de um ensaio acadêmico passível de publicação é a reprodução do que já é conhecido.
Conclusão. Não interessa pensar, nem opinar, nem pesquisar, nem desvendar. Só interessa parafrasear e padronizar, visando a um estado de vácuo intelectual do leitor. A Academia está ferrada.