Roberto Carlos, rei da Jovem Guarda, tinha 50 anos quando largou o rock e decidiu fazer outras coisas. Frank Jorge, súdito da Jovem Guarda, completará 50 anos em setembro – e decidiu largar outras coisas para fazer rock. Escorrega mil vai três sobra sete é o nome dessa carta de intenções. O disco chega nesta sexta-feira aos serviços de streaming.
Gestado ao longo dos últimos dois anos, Escorrega mil... é o quarto álbum da carreira solo de Frank – que começou em 2000 com o clássico Carteira nacional de apaixonado –, mas o 10º considerando sua trajetória nas bandas Cascavelletes, Graforreia Xilarmônica e Cowboys Espirituais. E difere de todos eles.
– A Graforreia era um mosaico infinito de coisas, e meus primeiros discos solo têm muito de Jovem Guarda, de brega, de bolero – afirma Frank. – Me ressentia de não poder dar vazão a esse meu lado mais guitarreiro, que sempre foi evidente nos shows, mas não no estúdio.
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A vontade de gravar um disco pesado ganhou ainda mais força pelos compromissos com o curso de Produção Fonográfica na Unisinos. Como coordenador e professor da graduação, o contato de Frank com a produção roqueira dos alunos era constante e instigante demais para resistir. Acabou sendo, portanto, inevitável.
Para chegar ao resultado que desejava, o músico optou por trabalhar apenas com a santíssima trindade do rock: baixo, guitarra e bateria. Além de Frank, revezaram-se nos instrumentos Felipe Rotta, Bruno Alcalde, Régis Sam, Francisco Santos e o produtor, amigo e companheiro de estrada Alexandre Birck. O único luxo está na balada de rock oitentista Turma 8, um dueto entre Vanessa Longoni e Daniel Tessler. O restante é somente rock’n’roll, cru e direto.
Essa vontade de extravasar está explícita nas 12 faixas do álbum, começando pela vigorosa faixa de abertura, Não é tão real, de espírito stoner e cuja letra talvez fale a respeito do próprio rock no século 21: “Não é tão real toda essa raiva / deve ter plateia sentindo falta / mas eu não / acredito em qualquer coisa”.
Na sequência, os Ramones dão o tom de Sempre procurando, incluindo a letra niilista: "Sempre encontrando o que não quero / não tem nada a ver / procurando vida onde a vida se consome".
O coturno vira bota de cano longo em O viajante, country rock de letra espirituosa sobre se entupir de chocolate em Gramado – e, por isso, a faixa que melhor se conecta ao cancioneiro de Frank. Já Só distância é puro indie rock anos 2000, com guitarras destacadas e bateria acelerada.
– Entendo que as pessoas não esperem que você faça coisas mais pesadas com o passar do tempo, mas para mim era fundamental buscar esse peso – resume Frank.
Além de estar disponível nos serviços de streaming a partir desta sexta, Escorrega mil vai três sobra sete chegará em versão CD no dia 9 de setembro e em fita K-7 em algum momento de outubro, promete o músico, quando também fará os shows de lançamento.