O concerto que a Ospa realiza nesta terça-feira na série Theatro São Pedro traz duas presenças especiais: o violinista da Filarmônica de Berlim Luíz Fílip, brasileiro (de São Paulo) radicado na Alemanha desde 2001, será o solista, enquanto o hispano-americano François Lopez-Ferrer, jovem regente assistente da Orquestra Sinfônica do Chile, será o maestro convidado. No programa, estão o Concerto para violino, de Brahms, e as Variações enigma, de Elgar, obras que Fílip e Lopez-Ferrer comentam nas entrevistas a seguir, concedidas por e-mail a ZH.
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Luíz Fílip - Violinista:
A Filarmônica de Berlim é uma das orquestras mais importantes do mundo. Sua estrutura é igualada por poucos. A partir de sua experiência na Filarmônica, quais são os requisitos para se manter uma orquestra de ponta?
Investimento é fundamental. Uma sala digna deve atender sobretudo às exigências da acústica. Isso é fundamental para o trabalho dos músicos. É preciso ouvir enquanto se toca. E o público precisa ouvir todas as linhas sonoras de uma composição. Os investimentos podem ser revertidos com o turismo e também elevando a autoestima do cidadão, sendo um ponto de referência. Essa é a parte material da coisa. A parte imaterial é mais delicada. Requer um investimento cultural, o que significa que é preciso investir a longo prazo em educação musical. Por trás de um grande espetáculo, há diversos meses, anos de dedicação de professores e alunos que, com o tempo, vão se cristalizando na qualidade das apresentações.
Qual o tipo de repertório que você prefere tocar, em orquestra e como solista?
Os compositores preferidos são muitos. Os clássicos e os românticos, claro – Mozart, Beethoven, Brahms etc. Mas eu gostei muito de ter solado na Alemanha o Concerto de Philip Glass. Acho que a boa música, independentemente da época, é eterna.
Você já gravou compositores brasileiros, como Camargo Guarnieri e Edmundo Villani-Côrtes. Como se mantém próximo do repertório brasileiro mesmo morando na Alemanha?
Tenho raízes brasileiras, e os músicos brasileiros precisam conhecer o que nossos compositores fizeram. No fundo, isso é uma questão de governo: se houver política pública de valorização da cultura nacional, todos irão ganhar. Eu tive a sorte de gravar a música deliciosa de Edmundo Villani-Côrtes e os três concertos para violino de Camargo Guarnieri, um compositor fantástico. Fiz um projeto para gravar dois concertos de Francisco Mignone, mas não consegui patrocínio ainda.
François Lopez-Ferrer:
De que forma dialoga o Concerto de Brahms com as Variações enigma, as duas obras a serem executadas hoje?
Tanto a música de Brahms quanto a de Elgar são harmonicamente cheias e inspiradas no coral. O pai de Elgar foi o organista da Igreja de St. George, em Worcester, portanto, sua exposição à música coral veio desde cedo. Brahms, por outro lado, tem um domínio da linguagem musical de Bach, demonstrado em um contexto romântico, embora nunca deixando para trás a tradição de seus antecessores. Além desses princípios estéticos, as duas obras são semelhantes em suas naturezas de transformação temática: Brahms era um mestre da mutação sutil de temas musicais e motivos, enquanto as variações de Elgar têm o seu propósito no título – Enigma. Há um tema que se apresenta e, em seguida, é transformado por meio de diferentes personagens e personalidades. É como olhar para muitas pinturas diferentes da mesma paisagem, mas em diferentes tempos e momentos.
Na Sinfônica do Chile, como você equilibra o repertório tradicional europeu com o latino-americano?
Estamos em constante discussão. O público chileno é muito favorável à sua própria música nacional, que é tradicional e contemporânea. A cada temporada há um programa dedicado à música contemporânea, metade do qual consiste em músicas de jovens compositores chilenos. Um segundo programa é dedicado ao repertório nacional. Dentro de vários outros programas existem combinações de repertório europeu tradicional com música latina.
Como você vê a receptividade dos músicos e do público para a música moderna e contemporânea?
O termo “música contemporânea” refere-se a um vasto repertório de diferentes estilos. Independentemente do tipo, qualquer obra criada com alma e intelecto será reconhecida. Todos temos nosso gosto pessoal, mas a grande arte permanece nas mentes e nos corações de quem estiver aberto para recebê-la.
Ospa – série theatro São Pedro
Nesta terça-feira, às 20h30min.
Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/n º), Centro Histórico, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 10 (galeria), R$ 20 (camarote lateral), R$ 30 (camarote central) e R$ 40 (plateia), com desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante, idosos e estudantes.
Os bilhetes podem ser adquiridos no próprio teatro, a partir das 13h de hoje.
Programa: Concerto para violino, de Brahms, e Variações enigma, de Elgar. Regente: François Lopez-Ferrer (EUA). Solista: Luíz Filíp (Brasil/Alemanha – violino).