Nas minhas reflexões sobre o panorama que constitui, desde as possíveis origens, a canção regional gaúcha de inspiração rural e/ou folclórica, tenho afirmado que, diante de uma extensão histórica mais abrangente, o gênero se configura numa linha de tempo estreita, que lhe confere uma atualidade perceptível. Afinal, do ponto vista da história, algo menos do que cem anos são vírgulas em relação a textos de grande extensão. Não é raro, ainda hoje, contudo, nos depararmos com exclamações absolutas de certeza: "verdadeira música gaúcha", ou "Isto não é música gaúcha". Como se neste contexto se pudesse retroceder a um passado remotíssimo que nos houvesse legado, no terreno exclusivo da canção popular, uma tradicionalidade de nítidos e inexcedíveis contornos. Aqui já expus que considero, ainda que provisoriamente, as primeiras canções de Barbosa Lessa como marco inicial do gênero. Ainda que reconheça haver espaço para boas discussões em torno do tema.
Encontrando os mais variados matizes estéticos que conformam nosso cancioneiro, gosto de perceber que tal diversidade é uma das maiores riquezas dessa produção. De Lessa a Vitor Ramil, de Gildo de Freitas, Teixeirinha e José Mendes até Elton Saldanha e Érlon Péricles, de Irmãos Bertussi até Os Monarcas e Os Serranos; de Luiz Menezes a Bebeto Alves; os missioneiros Jayme Caetano Braun, Noel e Cenair e Pedro Ortaça; de Albino Manique a Luiz Carlos Borges e os jovens Elias Resende, Luciano Maia, Alessandro Kramer, entre inúmeros; de Antoninho Duarte a Marcello Caminha; de Lúcio Yanel a Yamandu Costa; de Tio Bilia até Renato Borghetti e Gilberto Monteiro; do Conjunto Farroupilha e de Os Gaudérios, passando por Teatinos, Angueras, Almôndegas, Saracura, CantoLivre, Grupo Status e Tambo do Bando; de Inezita Barroso, cantando nosso folclore, passando por Rosa Maria, Maria Luiza Benitez e Fátima Gimenez, no auge dos festivais nativistas, até chegarmos a Shana Muller, Juliana Spanevello, Analise Severo; de Mano Lima à Família Fagundes, desde Darcy e Nico, até a formação atualíssima com Bagre, Neto, Ernesto e Paulinho. E são muitos, muitos mais. Todos no mesmo cenário. Palmas à gurizada que está chegando! A diferença é o que nos une.