Uma celebridade que defende a manutenção de cânones e hierarquias na literatura e nas artes. Um intelectual octogenário que reconhece o liberalismo econômico como chave para o avanço da democracia. As duas frases são formas de definir o escritor Mario Vargas Llosa em diferentes momentos: a primeira em 2010, quando chegou a Porto Alegre uma semana depois de ganhar o Nobel de Literatura; a segunda, nesta quarta-feira, quando sobe novamente ao palco do Fronteiras do Pensamentopara mais uma conferência.
Apesar da diferença das definições, Vargas Llosa não mudou tanto em seis anos. O que se alterou mesmo foi o modo como o debate púbico se serve das suas ideias. Em 2010, a ascensão da classe C e a cultura de compartilhamento da internet impunham desafios às discussões culturais, fazendo emergir no processo manifestações antes marginais, como o funk e o grafite.
– Naquele momento, Vargas Llosa entrou para falar sobre o que ele diagnosticava ser uma crise da cultura. Era algo polêmico, diante da ascensão da cultura popular que vivíamos – lembra o diretor de cinema Vicente Moreno, que à época entrevistou o escritor para o documentário Horizonte Flutuante (2011). – Mas o que ele fez foi alertar para não perdermos por completo as hierarquias dentro do pensamento e da cultura, fazendo-se necessário valorizar os professores, os orientadores, aqueles que ajudam a separar o joio do trigo.
Tal discurso não foi abandonado por Vargas Llosa, que deve retomar o tema na palestra desta quarta-feira, às 19h45min, no Salão de Atos da UFRGS – que está com entradas esgotadas. Em recente entrevista a ZH, o peruano reafirmou que a "expansão para o entretenimento" faz a cultura perder uma "função crítica muito importante".
Seis anos atrás,elogios a Lula
Vargas Llosa, que completou 80 anos no último 28 de março, também deixou expressa sua defesa ao liberalismo econômico em 2010. Na época, cercado por jornalistas de todo o mundo, que ansiavam por ver o intelectual que acabara de ser agraciado com o Nobel, elogiou Lula por sua postura democrática. Já em recente entrevista, comentou que a corrupção do atual governo teve origem na gestão do ex-presidente.
Hoje, com Dilma diante de um processo de impeachment e um debate público cada vez mais polarizado, o ideário liberal do escritor tem chamado cada vez mais as atenções da imprensa e do público. Nesta segunda-feira, quando participou do Fronteiras em São Paulo, ele próprio também ressaltou o liberalismo em sua fala. “É a corrente ideológica mais civilizada”, afirmou.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio da Unimed Porto Alegre e parceria cultural da PUCRS. As empresas parceiras são Liberty Seguros, CMPC Celulose Riograndense, Souto Correa, Sulgás e Stihl. Com parceria institucional da Fecomércio e Unicred, e apoio institucional da UFCSPA, Embaixada da França e Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Universidade parceira: UFRGS. Promoção: Grupo RBS.
A conferência desta quarta
Quem for hoje ao Salão de Atos de UFRGS para acompanhar a conferência de Mario Vargas Llosa pode ter uma surpresa. O escritor peruano, que em princípio retomaria sua palestra de 2010, sobre um processo que chamava de "banalização da cultura", poderá oferecer aos presentes uma revisão de seu passado político e uma aula de liberalismo.
Foi o que ocorreu nesta segunda-feira, em São Paulo, quando também falou na programação do Fronteiras. Em seu discurso, o autor destacou que já foi militante comunista e que se manteve apoiador da esquerda durante algum tempo, até sua decepção completa com o socialismo.
Na palestra, ele afirmou que o liberalismo seria a única corrente ideológica capaz de "permitir a coexistência de pessoas, religiões e comportamentos diferentes e de construir economias mais prósperas".
Questionado sobre a situação política brasileira, o intelectual se posicionou: "O que está ocorrendo é que há um movimento popular que quer purificar a democracia, livrá-la da corrupção, e creio que isso é muito saudável".
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio da Unimed Porto Alegre e parceria cultural da PUCRS. As empresas parceiras são Liberty Seguros, CMPC Celulose Riograndense, Souto Correa, Sulgás e Stihl. Com parceria institucional do Hospital Mãe de Deus, Fecomércio e Unicred, e apoio institucional da UFCSPA, Embaixada da França e Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.