Velho Chico mal trocou de fase e já vai mudar novamente. A ordem da direção da Globo, depois de pesquisa realizada com telespectadores, é deixar a novela mais contemporânea e com o ritmo menos lento.
A rejeição do público vai na contramão do que a emissora pretendia com a trama das 21h. Depois de várias novelas ágeis e modernas, pensou-se em uma "volta às origens", com mais fantasia, idealismo e lentidão, a exemplo do que era feito em décadas passadas.
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Nos bastidores da novela, o momento é de crise, segundo o colunista Daniel Castro. Edmara Barbosa teria se desentendido com o pai, Benedito Ruy Barbosa, deixando a história a cargo dele e do neto Bruno.
Entre os elementos que causaram um certo estranhamento ao público, está o figurino dos personagens. O público argumenta que as roupas não combinam com o clima do sertão nordestino, muito menos com uma trama dita contemporânea.
Os ternos berrantes de Afrânio (Antonio Fagundes), as roupas coloridas e esvoaçantes de Tereza (Camila Pitanga) e Iolanda (Christiane Torloni), os trajes escuros e pesados de Encarnação (Selma Egrei) e os trajes das empregadas da fazenda, que mais parecem saídos dos tempos da escravidão, são alguns dos excessos apontados pelos telespectadores.
Além de tudo isso, o povo pede mais romance e menos crítica social. Ninguém aguenta mais esperar pelo reencontro entre Tereza e seu amado Santo (Domingos Montagner).
As mudanças, por enquanto, esbarram na vontade de Luiz Fernando Carvalho. O diretor resiste às alterações no cenário e no figurino, alegando que tudo isso remete à construção artística da obra.
Não é fácil acompanhar Velho Chico, mas a trama merece mais atenção e menos impaciência. Não entendo os exageros de figurino e cenário como "erros", mas sim como elementos de uma história atemporal, que não precisa ter uma época ou local certo para ser bem contada. É magia, fantasia, ficção, não pode ser tratada como totalmente contemporânea ou de época. Por trás de todos esses elementos "estranhos", há uma crítica política mais atual do que nunca, afinal, tem certas coisas que nunca mudam nesse Brasil.
* Diário Gaúcho