O primeiro romance que Salim Miguel leu foi O Tronco do Ipê, de José de Alencar, quando tinha uns oito, nove anos. Depois, vivia pedindo para o pai investigar quem, daquele pessoal de Biguaçu, tinha livros. Até que um dia passou na frente da livraria de um homem chamado João Mendes. Salim entrou e disse: "eu te proponho o seguinte, tu me emprestas um livro, eu leio e te devolvo igualzinho como foi, como novo".
O livreiro fez uma contraproposta: sugeriu que Salim fosse para a loja e lesse em voz alta os livros que quisesse. Assim, ele também poderia desfrutar da leitura. Aí nasceu a paixão pela literatura.
Isso durou alguns anos, até Salim Miguel vir estudar em Florianópolis. Ele começou a escrever antes dos 10 anos, só que durante muito tempo escrevia e rasgava. Começou a publicar seus escritos aos 22 anos, em 1946, em jornais de Florianópolis _ no Estado, na Gazeta, no Diário da Tarde e, a partir de 1950, no Diário da Manhã _ onde ele e Oswaldo Mello tinham uma página literária.
Nesta época ,durante viagem ao Rio de Janeiro, Salim Miguel, entrevistou o poeta Carlos Drummond de Andrade, para o jornal O Estado. Eglê Malheiros conta: "O Salim conseguiu o que era considerado impossível: entrevistar o Drumond". Nesta mesma viagem, Salim encontrou com os principais expoentes da literatura brasileira: Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e outros. De Graciliano Ramos aceitaria um conselho que, a julgar pela sua prolífica produção literária, jamais esqueceria. Ao ser perguntado por Graciliano Ramos o que fazia, Salim respondeu: "Tento alguns contos", a que Graciliano retrucou: "Não tente, faça". E Salim Miguel fez. A sua carreira literária, hoje com mais de 30 títulos, teve o seu início efetivo em 1951, com a publicação de seu primeiro livro de contos, Velhice e outros contos.
O jornalista precedeu ao ficcionista, mas o ficcionista que Salim se tornou (ele vivia repetindo isso) deveu-se muito ao jornalista, porque o jornalismo lhe ensinou a ter uma maior visão das coisas, a escrever com muita rapidez e a ter a noção do que é essencial num texto.
Salim começou a trabalhar em redação de jornal em 1951, como redator do Diário da Manhã, em Florianópolis. Ao mesmo tempo, era correspondente de um jornal de Porto Alegre, chamado A Hora; e de uma revista do Rio de Janeiro, chamada Boletim Bibliográfico Brasileiro. Aqui em Santa Catarina trabalhou ainda no O Estado, onde fazia matérias e mantinha duas colunas, uma de informações gerais e outra de anotações sobre livros e autores.
Salim Miguel sempre colaborou, também, com jornais de São Paulo e do Rio, publicando contos no Suplemento Literário do Estadão e no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
Os irreverentes do Grupo Sul
Salim Miguel foi o cérebro e o espírito do denominado Grupo Sul, nas décadas de 1940 e 1950, movimento de decisiva influência no desenvolvimento cultural do Estado. O Grupo Sul começou efetivamente no dia 7 de novembro de 1947, quando Salim e alguns amigos apresentaram uma peça no TAC. O primeiro número da revista do Círculo de Arte Moderna (CAM) saiu em janeiro de 1948. Foi uma das publicações de arte mais importantes do Brasil, com 30 edições, entre janeiro de 1948 e dezembro de 1957.
Na Ilha de Santa Catarina, a revista era considerada herética, produzida por "um bando de metidos a tudo e com tudo, do papel à celulose, do texto ao cinema". Na verdade, o CAM era formado por jovens escritores e artistas plásticos de talento, ávidos por bagunçar com os valores estabelecidos (artísticos, culturais, políticos) e provar que o Modernismo chegara de vez à pacata província.
Em 1948, por ação direta do Grupo Sul, é feita a exposição de arte moderna, que mais tarde redundaria na criação do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC).
Foi nesta época de intensa efervescência cultural que Salim Miguel e Eglê Malheiros se conheceram. Foram cinco anos de namoro. No total, foram 68 anos juntos.
– Eu não seria quem eu sou sem a Eglê – contou, numa de suas últimas entrevistas. E acrescentou: – Ela é uma pessoa duma visão de mundo, uma visão social, uma visão de cultura, muito mais ampla e maior do que a minha.
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