O 12º disco de Ed Motta, Perpetual Gateways, é também o preferido do carioca. Gravado em Los Angeles, ao lado de músicos norte-americanos, o álbum vai do jazz ao soul, passando pelo rock progressivo, com o habitual talento do músico brasileiro.
Primeiro trabalho de Ed Motta após a polêmica em que se envolveu meses atrás, quando criticou o comportamento e o gosto do público brasileiro para música, Perpetual Gateways é também o primeiro disco do cantor gravado fora do Brasil. As 10 faixas são compostas por ele e cantadas em inglês, num clima, diz ele, "menos solar" que o de AOR, de 2013.
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Em entrevista por telefone, o músico se diz arrependido pelas declarações fortes ("Escrevi muita besteira, me comportei mal"), mas garante que as pazes com o público conterrâneo já foram feitas.
Amante de música como expressão artística, Ed Motta mostra um respeito quase sacro à forma como as composições aparecem em seu trabalho – até por isso, diz que não consegue pensarem um disco com antecedência, deixa as músicas ditarem o ritmo do trabalho. Em Perpetual Gateways, afirma que foi influenciado muito mais por discos que ouviu e livros que leu do que por cidades em que viveu ou acontecimentos externos:
– Para mim, a música é uma o de a um mundo abstrato, um mundo ideal, de paz completa. A maior paz que eu encontro é na música. E eu sempre obedeço o que as músicas que eu tenho no momento apresentam. Eu moro no Rio, já morei em Nova York e Berlim, mas convivo com pouquíssimas pessoas. Fico em casa, toco, escuto música, vejo filmes, leio, vou a restaurantes, lojas de disco, livraria se meio que acabou. Tenho pouquíssimos amigos, saio muito poucas vezes, então não tenho a influência da vida real na minha música. Minha música parte da audição de discos.
A serenidade com que fala sobre seu trabalho é a mesma que lhe faltou quando publicou, no ano passado, comentários sobre o público brasileiro que ia a seus shows na Europa e pedia músicas como Manoel. Quando tratado assunto, Ed Motta mostra arrependimento pelas palavras usadas e afirma que a polêmica prejudicou sua carreira.
– Eu me expressei muito mal, me comportei mal e escrevi muita besteira. Fiquei fora de mim, eu estava muito mal-humorado. Me arrependo, claro. Isso me prejudicou, tudo que você faz de ruim volta 10 vezes pior. Me retratei várias vezes, mas depois é difícil, ainda mais depois de ser espalhado de uma forma deturpada e mentirosa – diz o cantor, que completa:
– Os shows na Europa têm sido ótimos, o público brasileiro vai e gosta. Não tenho apresentações previstas para o Brasil, mas estou começando a me mexer neste sentido. Talvez por ser um disco todo em inglês, não muito radiofônico, seja mais difícil. Mas meus shows nunca foram mega, imensos, com teatros entupidos. Sempre toquei no circuito dos SESCs, uma coisa do tamanho que o meu trabalho tem.
PERPETUAL GATEWAYS
De Ed Motta. Lab 344, 10 faixas, à venda por R$ 32 e disponível em streaming no Spotify.